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A Neurose Comunicativa na sociedade contemporânea

Atualizado dia 04/03/2015 22:07:19 em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Os tempos modernos vêm sendo marcados por novos hábitos e costumes no cotidiano dos seres humanos. Vivemos de uma forma tão acelerada e ansiosa que nem sempre agimos conscientemente, deixando-nos levar por modismos e induções que acessam a funcionalidade do nosso inconsciente. Isto porque, ao nos entregarmos a situações que se apresentam convidativas, muitas vezes o fazemos não por interesses pessoais reais, mas por gratificações neuróticas vantajosas ao sistema.
A febre que toma conta da população, especialmente os jovens, da permanente comunicação via aparelhos eletrônicos, parece-me fazer parte de um transtorno narcísico altamente prejudicial à nossa saúde mental e social. Claro que não desvalorizo a importância das facilidades de acesso que estes aparelhos nos trazem, favorecendo soluções mais imediatas para muitos problemas. Contudo, esta prática comunicativa tornou-se tão impositiva que as pessoas estão deixando de viver a própria vida e o prazer real que nela exista, para se entregarem a uma vida artificial e superficialmente construída na virtualidade desses aparelhos.
Recentemente, recebi uma imagem que retrata o humor negro dessa situação: enquanto uma pessoa se afogava no mar, dezenas de outras tiravam fotos para postar nas redes sociais, sem que ninguém lembrasse de mergulhar e tentar salvar o desventurado. Essa imagem mostra o quanto estamos distantes da realidade do momento que vivemos, mais preocupados em demonstrar o que fazemos e temos do que viver o que somos. Ao invés de observar a vida pela sensibilidade real dos nossos olhos, mergulhamos na imagem restritiva de uma lente fotográfica que só nos permite ver o que interessa.
Aliás, talvez esteja aí uma parte da explicação do sucesso dessas mídias. Só nos permitimos enxergar aquilo que nos agrada, assumindo uma posição alienada de tentar negar a realidade que se estende além das imagens postadas. Nessa realidade maior estão sofrimentos e angústias que precisariam ser encarados e elaborados para nosso amadurecimento psicológico, como também gratificações reais que acabam se perdendo em detrimento de uma gratificação neurotizada.
Existe uma diferença muito significativa entre o prazer real e o prazer secundário. O real é vivido como uma experiência da satisfação própria que contagia a mente e o corpo, trazendo alívio das tensões. O prazer secundário é aquele vivido em função da aparência, não em favor do que se quer, mas em favor do que você pode ganhar fazendo o que se espera de você. Ou seja, na primeira situação você goza, na segunda você deixa que gozem por você!
Claro que há pessoas esclarecidas que se utilizam dessas mídias para trocarem ideias, resgatarem histórias, compartilharem informações que são úteis ao seu bem estar. Mas uma maioria desprevenida acaba tornando-se escrava dessa cobrança social, por medo do castigo cruel de ir para o “tronco” da solidão.
E tudo isso não está acontecendo por uma mera casualidade. Interessa ao sistema ter pessoas alienadas de sua própria satisfação, dependentes de informações que vão, pouco a pouco, estabelecendo condicionamentos interessantes à distribuição e venda da produção. A ânsia pelo dinheiro, pela riqueza, não tem escrúpulos. No passado, para não se pagar os trabalhadores, escravizava-se pela força; hoje, continua-se escravizando, agora pela indução.
Alguns dizem que essas mídias podem nos levar a movimentos sociais organizados, capazes de reestruturar ou mudar governos e leis. Isso até poderia ser verdade, mas qual a produtividade que temos observado dessa possibilidade? Talvez quase nenhuma. Fala-se muito, mas os movimentos acabam nas praias mansas da acomodação. O que temos observado, sim, como fruto dessa manipulação imoral do desejo humano, é a imobilização de nossos processos de amadurecimento, é a alimentação de nosso olhar narcisista que tudo quer para si e nada para o outro. Reclama-se de governos mas não se tem tempo para analisar o próprio comportamento e ver esses mesmos desvarios institucionais no espelho que se encontra diante de nossos olhos. Somos nós, alienados, que anatematizamos sem dar exemplos de dignidade, que apontamos erros com um dedo enquanto outros dedos sugerem mais atenção aos nossos equívocos. Mas por que não damos atenção a eles? Porque estamos olhando somente para a imagem virtual que nos interessa, negligenciando uma realidade que se esconde como criança atrás de uma cortina, deixando os pés aparecerem para nos fazer tropeçar e cair.

Pensemos nisso, pois estamos em um grande bote descendo corredeira abaixo. É preciso sair e olhar o rio de fora porque lá na frente uma grande queda pode estar nos esperando.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
www.joaocarvalho.com.br



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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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