Aceitar e soltar
Atualizado dia 4/16/2013 10:56:14 AM em Psicologiapor Andrea Pavlo
Abrir mão. Deixar passar. Deixar ir embora! Meu Deus, como isso é difícil. Não é à toa que vemos pessoas resgatando coisas do lixo o tempo todo. Os famosos acumuladores chegaram ao topo de uma cadeia de coisas que fazemos sim, o tempo todo, que é acumular. E ter medo de descartar, de perder. Perder é ruim. Até perder peso é ruim. Por mais que seja uma coisa boa no final, o processo é dolorido. Vemos a gente, como a gente é, ir embora. As responsabilidades nos atravessam aos olhos. Ficamos gordos tanto tempo e nos acostumamos em não ter roupas bonitas que nos sirvam ou homens suficiente nos paquerando. De repente, mudar? Perder? Como assim.
Perder pessoas é uma das piores sensações do ser humano. Morremos de medo, mas, não é só de morrer. Mas de perder. Não queremos morrer e, do outro lado da vida, ver nossos entes queridos sofrendo por isso. Sabemos o quanto é ruim perder e não queremos que ninguém nos perca. E não queremos perder ninguém.
Perder um amor. Perder um parente. Outro dia perdi um colar lindo com pérolas que paguei caro (perdi na minha mudança) e penso nele até hoje. Perder uma aposta. O time do coração perder.
Perder virou um vírus. Não perca, falam os anúncios de coisas que nem sempre precisamos. Não perca a oferta, a chance, a oportunidade. E nos desesperamos, nos seguramos naquilo e pensamos "não, não posso perder". O marketing usa isso. Compramos celulares para os nossos filhos, chips para os nossos cachorros. Colocamos rastreadores nos carros e tablets. Eu não consigo andar com meu Ipad por aí com medo de esquecer em algum lugar. Uma vez perdi uns óculos de marca, paguei caro por ele, deixei-os numa pia de banheiro num shopping. Nunca mais comprei um novo com medo de ter aquela sensação horrível de novo. Minha mãe, depois que a nossa cachorra morreu, nunca mais quis outra "por medo de perdê-la também".
Fazemos loucuras por isso. Apegamo-nos a amores passados. Mantemos um controle sobre nossos filhos. Controlamos as contas. Ai, que medo de perder tudo e ir morar debaixo da ponte. Não, não posso perder meu apartamento, minha casa. Não posso perder o conforto do meu carro, dos meus móveis, da minha cama king size. Então, saio para trabalhar às 6 da manhã, volto às 10 da noite e perco meus filhos crescendo. Ou perco a chance de sair com os amigos e, quem sabe, conhecer um novo amor. Mantemos o status das coisas como nossas... mas, nem sabemos mesmo se precisamos de tudo aquilo.
E perder é soltar. É aceitar que precisamos nos livrar de algumas coisas, principalmente sentimentos e viajar mais leves. É entender que não, não poderemos ter isso ou aquilo daquele jeitinho que queríamos (mas talvez de outros, até mais legais, quem sabe). Que não temos um pingo de controle sobre a saúde dos nossos pais. Ou sobre o sentimento daquele seu grande amor da vida. Pode ser que um dia você o perca. Para outra. E não é porque ela é mais bonita ou rica, mas porque é assim que é.
Soltar é difícil porque eu preciso passar por cima do meu orgulho. Perder o emprego implica que eu conte para todo mundo que sou um fracassado. Perder um casamento também. Não pode isso. Segure! Prenda!! Faça qualquer coisa, mas não deixe isso ir embora.
E um dia, estamos sentados numa cadeira de balanço, cercada de todas as coisas que acumulamos: porta-retratos, fitas de vídeo com nosso filme predileto, lembranças, móveis, a cama mais fofa do mundo, a chaleira que era da minha mãe, uma planta que só vai com a nossa mão. Um cachorro querido, uma moça que trabalha lá em casa, uma porção de livros imperdíveis, um guarda-roupa da moda. E aí fechamos os olhos, só pra descansar um pouco. E não abrimos mais. E talvez sejamos levados por mãos amigas a um local em que, notamos, não precisaremos de nada daquilo. E tudo fica lá, empoeirando. Um relógio velho, que pagamos uma fortuna, mostrando as horas que não podemos mais ver. Nem viver. Um vioão sem tocar. Um disco.
E levaremos só as boas coisas que fizemos... as conversas, os beijos (ah, os beijos...), as risadas. Levaremos olhares de admiração. Levaremos o que de bom ficou de tudo o que vivemos e que guardaremos na alma. No coração. E a alma não precisa de mais uma foto daquela balada. Talvez as melhores baladas, as melhores conversas, não tenham nenhuma foto. Só aquele sentimento gostoso que jamais perderemos.
E aí perceberemos que talvez pudéssemos ter feito isso antes. Poderíamos ter vendido a cadeira de balanço, dado o relógio para um mendigo e pulado no meio de uma poça d´água. Poderíamos ter usado tudo para viajar o mundo. Ou tudo para ajudar alguém que amamos de verdade. E que amar independe da pessoa estar lá ou não. Independe de como a pessoa está lá.
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |