As nossas defesas contra as dores emocionais
Autor Renato Liberman
Assunto PsicologiaAtualizado em 5/28/2009 10:02:36 PM
Todos nós possuímos vontades e desejos que podem ou não ser realizados, pois vivemos numa sociedade que possui normas e regras de conduta.
Para Freud, a maior parte de nossa vida é comandada pelo inconsciente o qual é formado a partir da repressão dos desejos para podermos viver em harmonia na civilização e que dão origem aos mecanismos de deesa.
Esses mecanismos refletem diretamente em no comportamento, cujo objetivo fundamental é garantir a sobrevivência de nossa espécie.
"Todas as defesas patogênicas enraízam-se na infância; e não existe neurose que não tenha raiz na infância" (Fenichel).
A base dos mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos, mais fortes os mecanismos de defesa ficam ativados refletindo diretamente em nossas relações com as pessoas próximas.
Existem diversos mecanismos de defesa relatados na literatura psicológica e psicanalítica. Alguns deles serão abordados a seguir.
RACIONALIZAÇÃO: Justificar a manifestação de impulsos ou afetos não aceitos pelo ego, isto é, achar uma explicação racional por estar numa determinada situação.
Outros exemplos:
Estou nervoso devido às dificuldades financeiras.
Não consigo fazer isso porque está difícil.
Preciso cuidar dela porque ela não tem condições.
PROJEÇÃO: Quando não aceitamos conscientemente algum atributo nosso, projetamos no outro, isto é, enxergamos no outro características, sentimentos ou pensamentos que, na realidade são nossos.
Exemplo:
Eu reprimo (recalco) minha raiva e acho que você está com raiva de mim.
Um homem, não podendo conscientemente aceitar sua raiva em relação ao chefe, considera que este o persegue.
Quando não temos algum argumento, xingamos o outro de estúpido.
Ódio a alguma religião, raça ou opção sexual.
O ciúmes doentio.
NEGAÇÃO: Acontece quando nos protegemos da ansiedade, deixando de perceber ou percebendo equivocadamente certos acontecimentos do mundo externo, isto é, diante de determinadas situações intoleráveis da realidade externa, inconscientemente negamos sua existência para nos protegermos do sofrimento.
Exemplo:
Ao receber a notícia de uma doença grave, a primeira fase é a negação.
Outro exemplo clássico de negação nos dias atuais é a persistente falta de disposição de grande parte da população de reconhecer conhecidos riscos à saúde como o hábito de fumar, o sexo sem proteção, o uso de anabolizantes por esportistas, o jogo compulsivo etc.
FORMAÇÃO REATIVA: Quando percebemos de forma equivocada sentimentos, atitudes ou desejos como sendo o seu oposto. Frequentemente significa transformar amor em agressão e vice e versa. Por exemplo, uma atitude de extrema solicitude para com os outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de hostilidade. São clássicos os casos em que alguém tem cuidados excessivos com alguém a quem, inconscientemente rejeita.
O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de cuidados e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente. Sua superproteção poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes, porque, pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade e o desenvolvimento da criança.
COMPENSAÇÃO: Ocorre quando, inconscientemente, procuramos compensar uma deficiência real ou imaginária.
A busca doentia por valores materiais como compensação à frustrações na infância, rejeição etc.
O corpo perfeito... Ser o melhor aluno, dançarino, jogador etc.
DESLOCAMENTO: Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento é inconscientemente deslocado de um objeto original para um objeto substituto. O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais das fobias.
Deslocar para alguém próximo a raiva ou frustração causada pelo chefe ou por alguém no transito etc.
FANTASIA: É um conjunto de idéias ou imagens mentais que procuram resolver os conflitos intra-psíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. As fantasias conscientes, muito comuns na adolescência são também chamadas de sonhos diurnos.
As fantasias podem ser inconscientes, formadas no próprio inconsciente ou terem sido conscientes e depois recalcadas. Por exemplo, fantasias a respeito do nascimento ou de relações incestuosas em geral são inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações indiretas nos sonhos, nos jogos infantis, nas obras artísticas etc. a fantasia reveste-se de um caráter patológico quando tendo a impedir continuamente a resolução dos conflitos, a satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a realidade.
Quem nunca fantasiou algo?
A fantasia faz parte da vida.
REPRESSÃO ou RECALQUE: É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais importante dos mecanismos de defesa do ego e é utilizado desde os primeiros anos de vida para no protegermos da angústia originada dos conflitos psíquicos. É um mecanismo de defesa básico e precede a maioria dos outros.
SUBLIMAÇÃO: É o processo pelo qual um impulso é modificado de forma a ser expresso e aceito pela sociedade . Este processo inconsciente é considerado sempre como uma função do ego normal.
Exemplo: o desejo infantil de brincar com fezes, geralmente repudiado pelos pais, pode ser redigido e ganhar expressão na atividade sublimada de um escultor.
FIXAÇÃO e REGRESSÃO: Alguns indivíduos, conseguem passar de um estágio de desenvolvimento para outro, porém ao enfrentar problemas de maior dificuldade, falham e retornam a um estágio anterior onde se sentiam mais seguros e gratificados.
Assim, não conseguindo satisfação das necessidades de uma determinada fase, devido aos obstáculos que não consegue ultrapassar, a pessoa regride. É óbvio que para haver regressão a uma determinada fase deve ter havido nesta um certo grau de fixação. Fixação e regressão são complementares. Quanto mais intensa for a fixação, mais facilmente haverá regressão diante de novos obstáculos.
FANATISMOS (DOGMÁTICO, RELIGIOSO, etc.): explicar tudo por meio de normas rígidas e/ou de livros sagrados, impedindo, com a ameaça de estar cometendo algum grande pecado, qualquer forma de questionamento. O problema ocorre quando se começa a perceber que sua fé estava calcada em valores irreais e inaceitáveis, e pode levar a tragédias incalculáveis tanto pessoais como coletivas.
Como podemos perceber, nossos relacionamentos são permeados pelos mecanismos de defesa, que por sua vez, contribuem para que as relações sejam duradouras e suportáveis.
Já pensou se todos os nossos anseios e impulsos fossem expressos de forma livre?
Não haveria relações, não haveria civilização, não haveria vida.
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