As nossas emoções: MEDO
Atualizado dia 10/9/2014 11:19:21 AM em Psicologiapor Renata Kindle
Não procure agora as respostas que não podem ser dadas, pois você não seria capaz de vivê-las. E o mais importante é viver tudo!
Viva as questões agora. Talvez você possa, então, pouco a pouco, sem mesmo perceber, conviver, algum dia distante, com as respostas".
(Reiner Maria Rilke)
Sabe-se que o medo é uma reação dos animais, uma reação que temos e que nos protege. É uma resposta que se dá aos estímulos de ameaça à nossa vida. Sentimos (ou reagimos) com medo diante de situações que representem perigo, alerta ou ameaça. As situações novas, inesperadas também podem acordá-lo. Isso é o que podemos identificar como o medo "normal", ou seja, aquele que nos fará reagir com intenção de nos auto-protegermos. É comum sentirmos medo em situações que nos ameacem, como por exemplo, aviões, doenças, dentistas, assalto... Quando, diante de sua situação de ameaça real à vida, o medo não ganha status de patologia, mas de auto-proteção, auto-preservação, é instintivo. É comum e até saudável, não se pode enfrentar todos os perigos de peito aberto, sentindo-se imune às ameaças reais, seria até inconsequente de nossa parte.
Claro que o medo tem suas graduações e intensidades (da simples ansiedade ao pânico) e elas se alteram conforme a história de vida pregressa de cada pessoa.
O medo nos faz ter duas respostas: fugir ou lutar, mas sempre, estimuladas pelo sentido de autoproteção. Quando em pânico, porém, uma pessoa nem foge do perigo nem o enfrenta. Ela paralisa, torna-se inerte e sem controle. É preciso, pois, buscar a origem, o nascedouro desse medo para corrigi-lo, dar-lhe novo significado e assim feito, a pessoa tem a chance de agir (fugir ou lutar) diante de novas situações em que o medo se faça presente.
O medo irracional é aquele sem causa real aparente, deve ser enfrentado, dizem alguns especialistas, mas o nosso inconsciente não diferencia a fantasia da realidade. Num exemplo simplório, se uma pessoa tem medo de lagartixa, ela enxerga um jacaré enorme e ameaçador quando se vê diante de uma criaturinha dessas! O medo, contudo, nasce da associação que a nossa mente estabelece com as experiências vividas, mas o medo, é sempre o medo da morte. Ele é uma resposta de auto-preservação e auto-proteção, lembra-se?! Ele é, pois, uma sensação que traz em si um estado de alerta, por isso fugimos ou lutamos. E nós nos protegemos e nos preservamos da morte. Sem essa ameaça, não faria sentido sentirmos medo, medo de quê, então, se não da morte?!
O medo que sentimos traz reações químicas que facilmente podemos sentir e perceber em nosso corpo. Antes de tudo, uma descarga de adrenalina, que causa aceleração cardíaca, sudorese, tremores, mãos geladas, sensação de "pernas bambas", até abafamento e falta de ar ou respiração ofegante. Outros sintomas também podem ser sentidos e observados. Essa adrenalina nos prepara para a ação, seja ela de lutar ou de fugir.
O medo pode se agravar muito, a tal ponto de se tornar uma patologia, a partir do momento em que ele começa a comprometer a vida social e funcional da pessoa e/ou de lhe causar sofrimento psíquico.
Além das situações reais de perigos iminentes (aviões, dentistas, doenças, assaltos, acidentes...) o nosso medo pode aparecer em razão das associações que fazemos ao longo da vida. Por exemplo (e vou voltar aqui no exemplo da lagartixa X jacaré), uma criança brincando tranquilamente está alheia à lagartixa que passa. Um adulto vê o pequeno animal e, em vez de retirá-lo discretamente, sem chamar a atenção da criança para a existência da lagartixa, faz um escândalo, grita, busca a vassoura e mata a lagartixa com golpes violentos. Tira a criança da sua brincadeira, lava-lhe as mãos várias vezes e repetindo o "mantra" de que se não lavar as mãos, ela terá "cobreiro" e outras doenças, as quais a criança sequer supõe o que sejam. Quer queira, quer não, a criança fará essa associação de lagartixa com uma grande ameaça.
Então, de que maneira podemos abrandar os nossos medos, tornando-os saudáveis?
Há várias técnicas pra isso. A própria Psicologia traz em cada uma de suas abordagens ou linhas teóricas um meio próprio de se lidar com o medo, "reduzindo-o" ao seu tamanho normal, ou seja, àquela reação que nos faz lutar ou fugir para nos auto-protegermos dos perigos reais que nos ameaçam.
No meu trabalho, busco direcionar a pessoa a entrar em contato com seus medos e os acolhemos juntos, recebemos esses medos com carinho. É importante não brigar contra uma emoção, contra um sentimento, mas cuidar dela, tratá-la com respeito. Todas as emoções e sentimentos que trazemos e que se manifestam são legítimos, estão em nós e são nós. O medo, ressignificamos dessa maneira amorosa, até nos libertarmos. Não será sem lágrimas, emoções são comoventes, sentimentos nos despertam, fazem-nos aflorar. Quando descobrimos ou desvendamos os mistérios que o medo e suas manifestações escondem, através do que simbolizam pra nós, o que ele representa, o que ele traz, a maneira como ele nos faz agir, menos nós o negaremos, menos poderoso ele será. É preciso, pois, explorarmos nossos medos, estarmos verdadeiramente em contato com ele, de maneira aberta e honesta. Vamos removendo as camadas e camadas de mecanismos que construímos ao longo dos nossos anos. Aprender a identificar o medo nos liberta e nos torna mais capazes.
Texto revisado
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Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |