Autopunição!
Atualizado dia 01/05/2016 08:02:47 em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Baseado em um referencial, atribui-se proximidade ou distanciamento do mesmo, reforçando os que estão próximos e penalizando os que se encontram distantes. Mas é preciso olhar quais são os referenciais utilizados, quais as interpretações que lhe são dadas, pois a subjetividade é muito aplicada para que ocorra o atendimento a necessidades que não são de fato o que se havia proposto inicialmente. Os exemplos estão em nosso dia a dia, principalmente no exercício da gestão pública. Porém, nosso foco é outro. É o homem voltado para si mesmo e agindo consigo de acordo com seus próprios julgamentos.
O quanto se está preparado para que esse julgamento ocorra de forma consciente e imparcial? Já na primeira sessão, peço a meus clientes que não se julguem, evitem esse tipo de avaliação. Ao refletirem sobre algo o façam se perguntando se aquilo em questão é o mais adequado ou não. O porquê disso? Porque estamos tão impregnados de conceitos punitivos, por visões de culpa e pecado que nos foram impostas no período de formação de nossa personalidade que não há imparcialidade. Somos severamente críticos e acusadores de nós mesmos, dando a interpretação quase sempre tendenciosa e negativa a nossos pensamentos, sentimentos ou mesmo atos.
Cliente bem-sucedida, posição financeira estável e confortável, não se permitia usufruir de sua condição por sentir-se culpada em ter o que sua irmã não tinha. Ela passava necessidades, dependia de favores, estava sempre correndo para cobrir seus “rombos”. Foi para ela trabalhoso conscientizar-se de que não tinha nenhuma responsabilidade pela situação da irmã. Ela não tinha curso superior, a irmã tinha. Ela não esbanjava em roupas e jantares caríssimos; sua irmã dizia que precisava estar em contato com quem pudesse ajudá-la a crescer. Entrou em seu primeiro emprego como auxiliar administrativa, em torno de seis anos já era gerente administrativa financeira e por não ter mais níveis para subir, recebia sempre alguma forma de reconhecimento por sua dedicada atuação. Sua irmã dizia que ela era “capacho” de seus “senhores”. Sua irmã não parava mais de um ano em cada oportunidade de trabalho que tinha, sempre acusando as empresas pelos seus desvarios. Chorou muito quando percebeu o quanto se impôs sofrimentos apenas porque sua irmã vivia acusando-a de não ajudá-la como ela, a irmã, queria. Tomou consciência de que cada um faz sua história, e ela soube fazer a sua. Só não estava sabendo desfrutar dela. Sua vida hoje é outra. Inclusive as “ajudas” destinadas a irmã se encerraram. Disse-me um tempo depois que a irmã agora estava já há dois anos e meio em um emprego. “Acho que parar de ajudá-la foi minha maior ajuda a ela”. Isso pode isso não pode. Isso deve isso não deve. Ops, hora de parar. Rever seus referenciais, o que significa rever seus valores essenciais e quais interpretações está dando a eles.
Um pai sentia-se muito mal, seus filhos o acusavam de ser frio e calculista por não ajudá-los financeiramente. Um tinha trinta anos e outro trinta e quatro, ambos há muito formados. “Você não é um homem bom”, diziam. O dia que refletiu sobre "ser bom para quem e o que realmente eles queriam dizer com bom", deixou de sentir-se mal por não alimentar a inoperância dos filhos. “Não me sinto mais um carrasco, o bom deles era eu ser um “bombão”, me disse. Parou de carregar sua carga crítica que tanto lhe pesava. Chorou quando se lembrou de seus pais dizendo “você tem que ser bonzinho, senão ninguém vai gostar de você”.
A grande maioria dos atos e comportamentos estão vinculados a culpas e punições. Parar, refletir sobre como estão entendendo e praticando seus valores pessoais é fundamental para eliminar as distorções de interpretações, normalmente muito úteis para os “espertos de plantão”.
Texto revisado
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