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Como deixar de repetir os padrões dolorosos da sua família?

Atualizado dia 06/03/2014 11:19:43 em Psicologia
por Alex Possato


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Nos anos 90, após uma temporada ininterrupta de 3 anos no Japão, voltei cheio de confiança e com a autoestima lá em cima. Dois anos depois, estava eu atolado no meu desespero emocional, casado, com uma filha de alguns meses, lutando para conseguir algum dinheiro para a sobrevivência, afogando minhas mágoas em vários e vários copos de cerveja e bebidas destiladas. Racionalmente, eu posso afirmar: eu busquei conforto, vida financeira estável e paz de espírito. Mas eu sentia como uma força invisível que me levava a tomar decisões absolutamente ineficazes, a estar com um estado de espírito que só atrairia situações complicadas, e viver com um sentimento de “a vida é muito difícil” e eu “preciso sobreviver”. O que será que me levou a atrair tal situação? Por que repeti o padrão de relacionamentos infelizes da minha família?

Hoje, como terapeuta, atendo dezenas de pessoas plenamente capazes, inteligentes, com muita experiência de vida, mas que também acabam repetindo situações que, em absoluto, desejam: por exemplo, entram sempre em episódios onde um chefe, sócio ou companheiro irá oferecer ajuda, a princípio, para depois, a relação transformar-se numa competição e jogos de humilhação.
Ou criam planos bonitos, cheios de criatividade e potencial, mas em algum momento, a coisa “não vinga”. Às vezes, uma pessoa cheia de brilho, como você ou eu, vive somente para “carregar o piano”, sentindo-se responsável pelo sofrimento de pessoas próximas, e pior, nem tão próximas assim. É a tal postura do mártir: me sacrifico por uma “boa causa”, mesmo que isso signifique minha infelicidade.

Vejo pessoas abandonando a possibilidade de uma vida saudável e íntegra, indo atrás de relações afetivas fadadas ao fracasso. Gente inteligente caindo nos vícios do álcool, drogas, sexo, jogo ou ainda, perdendo o seu tempo precioso com inutilidades e fofocas.

Qual a sua programação interna?

Assim como um computador, você tem instalado dentro de si uma série de programas, que vieram do seu sistema familiar. Foi isso que descobriu Bert Hellinger, terapeuta alemão que trouxe a constelação familiar sistêmica até nós. Alguns programas lhe dão muitas habilidades, dons, talentos, facilitando a sua jornada nesta vida. Mas outros, irão lhe direcionar a entrar em situações difíceis, onde você honrará, com o seu sofrimento,  algumas perdas, exclusões e dores emocionais que ocorreram no seu passado familiar.

A coisa funciona assim: um bisavô seu deixou a Itália no começo do século XX, e ainda jovenzinho, abandonou tudo naquele país, para se fixar no Brasil. Deixou noiva totalmente apaixonada e com o coração em lágrimas, deixou sua língua, suas terras, sua cultura, seus irmãos, tios, parentes, amigos… tudo.

Hellinger percebeu que todos os fatos extremamente emocionais que existem em todas as famílias, carregam um “peso”, uma energia que permanece no sistema familiar, não importa se tivemos contato com a história ou não. Assim, usando o exemplo do nosso imigrante italiano, vamos imaginar que a noiva e ele, devido às circunstâncias, não puderam concretizar este amor profundo que houve entre eles. E a separação não teve o seu “luto”, quer dizer, o tempo necessário para que as energias e emoções se assentassem, apesar da dor. O jovem chegou ao Brasil, e após anos, casou, teve filhos, netos, bisnetos, e assim a vida prosseguiu. Mas aquele amor rompido permanece no sistema familiar. Muitas vezes, um descendente vem identificado com esta dor, e inconscientemente, deseja relembrar esta separação. Às vezes, este descendente se vê sempre jogado em papéis de amante, de terceiro na relação, honrando de forma distorcida aquela noiva (que ele nunca soube da existência) que ficara abandonada em solo italiano.
Para esse descendente, existe uma programação interna que diz: eu não posso ser feliz num relacionamento. Ou: eu não mereceço viver um amor que vingue, numa relação duradoura.

Da mesma forma, é comum trazermos em nosso sistema interno as cargas sistêmicas de situações traumáticas, como abortos, perdas de filhos precocemente, ou separação entre pais e filhos, golpes e desfalques, violência, manipulações diversas, exclusões de pessoas com diversos tipos de deficiências, criminosos…

Não existe uma família no universo que não tenha todos os tipos de personagem em seu seio. É uma questão de estatística. A questão não é ter uma família certa ou errada, mas simplesmente aceitar a própria família como ela é, e deixar o passado descansar em paz.
Isso se faz através da vivência sistêmica da situação, que não será totalmente compreendida pela mente racional, pois entraremos em contato com uma parte da família que desconhecíamos. Temos que mergulhar em emoções profundas e sentir toda a energia das exclusões no nosso sistema. No entanto, o efeito de libertação destes padrões dolorosos é surpreendente.

Sair do piloto automático e se abrir  para a inclusão emocional

Acredito que vivemos num universo justo e sábio, onde cada fato que ocorre na vida é decorrente de uma engrenagem invisível, eficiente e que está nos mostrando um caminho para o amor. Vejo que nos aproximamos das pessoas corretas, dos trabalhos corretos, e até os acidentes, doenças e tragédias que se abatem na nossa vida, são lições extremamente importantes e sábias. E… também difíceis muitas vezes.

Seria muito infantil imaginar um mundo onde só ganharíamos dinheiro, teríamos um amor perfeito, saúde indestrutível, nenhum conflito, família harmônica, trabalho que desse prazer e satisfação…Talvez neste momento que vive o universo, isso realmente não seja possível. Quem sabe no futuro?

Por isso, as grandes lições que podemos aprender com as repetições dos padrões que nos trazem problemas, são:

1 – aprender a identificar o padrão. Pergunte-se: onde, em que área da minha vida, estão ocorrendo as mesmas situações, que não desejo mais? A consciência irá livrar você de um monte de enrascadas!
2 – aprender a identificar a emoção interna  predominante. Qual emoção predomina, quando estou no auge do conflito, do problema?

3 – permitir-se incluir a emoção, o mal-estar, até que esta energia se dilua. Aí é preciso coragem, porque você irá identificar medo, raiva, ciúme, inveja, ganância, soberba, orgulho, avareza… tudo isso faz parte de você e do seu passado familiar, e para que isso pare de fazer efeito em si, é importante olhar de frente, sem negações, sem mi-mi-mi nem autoflagelo… e deixar passar…

4 – mudar os hábitos e atitudes que atraíram a repetição do padrão negativo. Aprender a focar na luz, projetar o crescimento e as situações de paz, e ir atrás disso, deixando as coisas antigas para trás.

5 – honrar e reverenciar os pais e os antepassados, sabendo incluir todas as dores que eles lhe trouxeram, sem pintar de cor de rosa, mas transcendendo o incômodo emocional, até se conectar com a luz e força que também vem dos mesmos pais e passado familiar. Honrar e reverenciar os pais e a família é um processo interno; não tem nada a ver com estar grudado na família, interferindo e deixando ser manipulado. A conexão profunda com a família traz liberdade, e é um processo terapêutico, espiritual e alquímico, que precisará de tempo e perseverança. Vamos lá, coragem!

Ao largar os padrões que nos unem ao peso sistêmico da família, nos abrimos para receber a força, os dons e a intuição que também vem das raízes familiares. Embora, como eu disse acima, viver um paraíso na Terra seja uma coisa quase impossível, é possível viver muito bem, ao saber que tudo neste mundo, um dia acabará. Pelo menos falando em vida material. Nosso corpo irá embora. Nossos bens desaparecerão. Nossas amizades morrerão. Nós morreremos. Enfim, na vida tudo passa… e isso é inevitável. E o que sobra? A nossa capacidade de sentir o amor, de forma incondicional. Lentamente, mas de forma natural, você perceberá que faz-se um silêncio, uma paz interior profunda. E viver consciente deste amor, em paz, faz toda a diferença na vida, nas relações, no trabalho. Dure esta vida o quanto durar.

Só pra finalizar, o meu casamento durou 17 anos. Trouxe-me muitas lições. Através dele, consegui reconstruir toda a minha trajetória emocional e compreender diversas repetições na minha vida. Algumas positivas, outras que me trouxeram sofrimento. Libertei-me de dores profundas, ancestrais. Não foi fácil, mas necessário.

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Alex Possato é terapeuta de constelação sistêmica e conduz cursos para formação terapêutica

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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
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