Companheirismo!
Atualizado dia 18/05/2012 17:00:37 em Psicologiapor SPAÇO NATUREZA & TERAPIAS
Por Silvio Farranha Filho, psicanalista
A partir destas referências encontradas nos dicionários, traçamos um perfil psicológico de uma pessoa que é extremamente buscada no mercado afetivo.
Uma pessoa que é presença, com trato íntimo, capaz de participar das ocupações, atividades, aventuras e do destino de outra pessoa, oferecendo ao outro convívio social e prestimosidade.
Evidentemente, não é possível neste espaço definirmos o que é companheirismo, mas podemos lançar lâminas para os momentos de reflexão.
No consultório, quando indagadas de seus conceitos sobre amor, as pessoas declaram em primeiro lugar que amor é companheirismo. Ao falar sobre o que esperam dos parceiros, elas desejam que ele seja companheiro. Questionadas sobre o que querem exatamente na relação, a resposta é clara: companhia, para se afastarem da solidão. Elas buscam o companheiro no amigo, o companheiro no namorado, o companheiro no marido, o companheiro no parceiro e vice-versa.
As pessoas desejam companheirismo, mas será que elas sabem o que isto realmente significa? As qualidades acima traçadas são coisas que se encontram no outro ou dentro da própria pessoa?
Tendo em vista que o ser humano é um animal gregário, não sobrevive sozinho, necessita, portanto, da interação social. Isto quer dizer que a pessoa tem necessidade de companhia e a forma de satisfazer essas necessidades é através dos relacionamentos afetivos e sociais. Diante disto, o cerne da questão do companheirismo recai sobre a questão companhia. Sabendo-se que a pessoa busca no outro exatamente aquilo que ela não tem, como irá oferecer companhia, ser companheira?
Assim, podemos inferir que companhia, companheirismo, ser companheiro são construções psicológicas na personalidade construídas dentro dos lares com base na filosofia de vida dos genitores. A qualidade desta construção, se boa ou má, terá suas conseqüências dentro das relações sociais e afetivas. É na relação com o outro que medimos nossa construção interna. Uma coisa é a pessoa buscar o que lhe falta, outra coisa é a pessoa construir o que lhe falta, auxiliando o parceiro a completar-se, enquanto está dentro da relação. Então, a pessoa saberá lidar com a companhia do outro se não souber lidar com a sua própria companhia?
Na maioria dos casos, o companheirismo que a pessoa deseja no outro é uma projeção de sua própria necessidade interna. Quando ela desenvolve, satisfatoriamente, o conceito de companhia em sua personalidade, ela fica vazia de projeção no parceiro. Ela deixa de ser cobradora da responsabilidade do outro em lhe fazer companhia, dando e recebendo na mesma proporção. O conceito de solidão perde o significado.
Uma pessoa carente ou cobradora de companheirismo, no fundo, carrega dentro de si uma criança saudosa da relação com a mãe, da companhia e do companheirismo oferecidos por ela. Esta pessoa ainda não conseguiu evoluir do conceito primário de companheirismo (receber sem dar em troca) para o conceito de compensação e troca entre parceiros.
Concluimos estas lâminas transcrevendo o texto de Joanna de Angelis: "Cabe, então, a cada parceiro, observar os desvios pelos quais se vem conduzindo e o comportamento que se tem aplicado, exigindo sempre mais do outro ao invés de avançar no rumo do seu entendimento. Em favor da perfeita identificação, cabe-lhe não impor o que não pode oferecer, e mesmo que lhe seja factível essa doação, estimular o outro a que a logre, sem a necessidade de exigências ou caprichos que geram ressentimentos dispensáveis ou distâncias desnecessárias." - "Garimpo do Amor" pag.28.
Texto revisado
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