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Criança sabe o que quer, sim!

Atualizado dia 7/11/2012 6:41:24 PM em Psicologia
por ALBA OZZETTI


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Ensinar para uma criança que seu valor tem que ser conquistado nas lutas do dia-a-dia e que pode ser perdido a qualquer instante se não for mantido com muita perseverança, pode fazê-la perder-se de si, pois passará a orientar-se pelos desejos do mundo e perderá o contato com a voz de seu coração e com o valor pessoal que sempre trouxe consigo e lhe é inato. Nossa  capacidade de escolher e desejar com autonomia e firmeza é construída desde a infância e saber o que se quer e ter desejos livres das influencias externas orienta nossas vidas com mais segurança em direção às nossas realizações pessoais.

No primeiro momento da infância, quando o bebe nasce já é inscrito pelos sonhos e desejos de seus pais. A função materna ou de qualquer cuidadora é a de suprir as necessidades básicas de sobrevivência da criança, inicialmente as biológicas e posteriormente as de inscrição de seus próprios sonhos e desejos nela. Este prazer de saciedade da criança será um desejo que ela procurará repetir em busca desta primeira experiência de satisfação e gratificação ao longo de toda vida, por meio de repetições inconscientes de escolhas. Um exemplo simples é quando a criança aprende que ao chorar ganha colo ou comida e ao sorrir é paparicada. Reciprocamente, o desejo de sua mãe ou cuidadora é o de que a criança se alimente e sorria e para isto a alimenta e faz gracejos. O desejo de ambas é único e as duas olham para uma mesma direção.

A retenção desta repetição do prazer do outro, pode chegar à psicose quando ocorre a anulação do próprio desejo. Esta alienação ao desejo do outro se reflete na idade escolar das crianças, como possível dificuldade de aprendizagem, quando surgem as exigências externas de se alcançar os desejos dos outros e da cultura, que não são mais os da mãe. Ao iniciar-se no mundo dos objetos da cultura, do estrangeiro ou do outro como é a escola, a criança sadia passa a reconstruir seus próprios desejos e a constituir-se como um sujeito autônomo e criativo, fazendo a cisão gradativa dos desejos da mãe.

Em um segundo tempo, representado pelo Pai Castrador ou qualquer situação que separe a mãe da criança, como por exemplo: o retorno ao seu trabalho, a chegada de um irmãozinho, a presença do próprio pai ou outra atividade qualquer em que a criança deixa de ser o desejo principal da mãe, pois o bebe já não necessita mais de seus cuidados em tempo integral, é o momento em que a mãe ou cuidadora se distancia e passa a olhar também para outras coisas.

Esta transferência do desejo da mãe para outras pessoas ou situações é vista como uma ausência ou perda pela criança. E é justamente esta falta, que provoca na criança o desejo de preencher esta perda e a encoraja a buscar coisas novas. Por isso mamães, não se culpem de deixar seus bebes e voltar ao trabalho. Se eles estiverem em segurança e bem cuidados, esta ausência será benéfica ao crescimento pessoal da criança, pois desde cedo passará a buscar meios de preencher suas necessidades com independência.

Em idade escolar, a perda do olhar da mãe em tempo integral provoca na criança uma busca para representar simbolicamente os seus próprios desejos, por meio da escrita, da arte e dos saberes, a fim de significar e preencher sua falta. Durante esta fase escolar ela busca na cultura do outro, dar significado e reconstruir seu próprio desejo perdido. Assim, passa a lidar com as perdas e mortes e aceitar as contrariedades, o que é fundamental para que haja crescimento pessoal e a leve ao conhecimento de seus próprios desejos e a uma escolha mais responsável.

A falta de castração, a permanência excessiva no desejo alienante do outro, o prazer sempre atendido, excesso de proteção e mimos, ou mães super protetoras que não permitem a seus filhos experienciarem frustrações, pode torná-los fracos e dependentes, sem iniciativa e com dificuldades escolares devido à falta de desejo de aprender aquilo que é da cultura por manter-se atrelado ao desejo materno, que é uma zona conhecida e confortável.

Por outro lado, o abandono de crianças, comum em todas as classes sociais, caracterizado pelo excesso de castração e quase nenhuma gratificação ou autoritarismo, pode provocar a revolta e o não querer aprender por falta de motivação ou de um desejo que nem ao menos foi construído. Sua busca permanece retida em chamar a atenção dos pais ou do mundo para tentar repetir o cuidado primordial que recebeu da mãe ou cuidadora e que deixou de existir precocemente pelo abandono.

Desta maneira, percebemos que tanto o excesso como a falta da função paterna ou materna podem limitar a autonomia diante das escolhas da vida e dificultar o processo escolar. A falta de autonomia impede o sujeito de criar, permanecendo em uma modalidade de aprendizagem puramente acomodatória a qual reproduz conteúdos, imita ou se torna copista, sem compreensão ou abstração dos conteúdos para aplica-los em situações diversas.

No terceiro tempo, quando o desejo da criança já passou para a cultura é um momento em que a função paterna de cisão deixou de ser a "Lei-Dura" para ser "Lei-Tura". Isto é, passou a ser simbólica quando a cultura reapresenta a perda de uma forma menos castradora e mais doadora, mostrando que existem outras possibilidades ou que há meios de resignificar as faltas. Esta resignificação ocorre também pelas possibilidades de negociação  e argumentação que se ampliam e é sustentada na linguagem e nos diálogos. Assim, explicar os porquês de um "não pode" ou negociar quando uma criança não quer fazer seu dever de casa, propondo-lhe que o faça mais tarde, fará que a castração aconteça ao impor um limite mas de uma forma boa e justa, pois haverá alguma forma de gratificação, ainda que menor àquela esperada pela criança e sem a aspereza de um "por que não" ou de um "por que eu quero", que subestima a inteligência da criança e a castra, sem dar-lhe a possibilidade de escolha ou de amenizar sua perda.

Como sujeitos desejantes em construção permanente, divididos entre as demandas biológicas, sociais e dos próprios desejos inconscientes, vão sendo inscritos pelos desejos dos outros e para que não se percam de si, precisam adquirir e exercitar a autonomia em suas escolhas e aprender a arcar com as consequências de seus desejos se responsabilizando por eles. Uma observação atenta permite escrever seu manual de instruções  que orientará os momentos em que os limites devem ser impostos e mantidos e quando a liberdade de escolhas dela deve ser respeitada e sua opniões e desejos aceitos.

É, ...Criança sabe o que quer! E podemos cooperar para mantê-las em contato com sua Verdade interior, na medida em que não tenhamos a presunção de impor nossas supostas verdades aos filhos com ações controladoras e dominadoras, e aceitá-los com seus valores inatos respeitando sua liberdade de escolha e desobrigando-os das exigências sociais de ocupar o lugar que o Outro espera, para guiarem-se pela luz de seus próprios corações.

 

   
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Conteúdo desenvolvido por: ALBA OZZETTI   
Alba Ozzetti é psicopedagoga e neuroeducadora e atende aos distúrbios de aprendizagem da infância e da juventude. ABPp 12.607 Atendimentos: [email protected] Seja benvindo! BROOKLIN & LAPA - S.P.
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