Críticas e criticados
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Autor Andrea Pavlo
Assunto PsicologiaAtualizado em 19/04/2007 12:56:40
Estava na Avenida Paulista, em São Paulo, junto com alguns amigos quando uma inusitada figura entrou no local. Não que a Avenida Paulista não seja o reduto de inusitadas figuras, isso é o que não falta por lá, mas esse rapaz chamou especialmente a minha atenção e do resto das pessoas. Ele carregava em sua cabeça um gorro. Não era um gorro comum, mas um gorro bem amalucado, com franjas, vermelho e com pedaços soltos. Á primeira vista parecia que ele tinha sido colocado na cabeça antes que alguém terminasse de tricotá-lo, mas era de um estilo bastante diferente.
Meus entediados amigos e eu, sim, usamos aquilo como fonte de risadas. Não menosprezando o rapaz, longe disso, mas o gorro que tenho certeza, nenhum de nós "tradicionais" demais, usaria. Rendeu parcas risadas e logo mudamos de assunto.
Trinta minutos depois o rapaz se senta ao nosso lado pedindo explicações. Perguntou se ríamos do gorro dele, porque, para que, onde. Chegou a fazer ameaças de bater nos meus amigos (por sorte ele me tirou dessa) caso o motivo da chacota fosse o seu estranho gorro. Um dos meus amigos logo se pôs a fazer um discurso sobre a sua insegurança em usar o gorro, outro se apressou em dizer que as risadas não tinham nada a ver com ele, e ele foi embora mesmo não satisfeito com as respostas.
Claro que, depois disso, aí sim ele virou um verdadeiro motivo de conversas e de risadas.
Mas como de toda experiência se tira uma lição, lá fui eu para a minha.
Primeiro, a crítica. Somos seres críticos e isso não tem muito jeito. Por mais que nos policiemos, é inevitável que, numa noite descontraída e agradável, o nosso crítico com seus chifres de cavalo afiados e loucos por um coice, não apareça. É uma parte de nós, humanos. O pior não é ser o crítico dos outros, mas a pior crítica é aquela que fazemos contra nós mesmos. Achamos o gorro feio e isso é um direito que temos. Talvez não tivéssemos o direito de rir do gorro alheio, ou tínhamos? Isso é uma questão quando nós somos os críticos e não os criticados, apesar dessa função mudar os seus papéis o tempo todo. Eu e todos os meus amigos temos "Calcanhares de Aquiles". Algum ponto que, se citado, com certeza nos magoaria. Mas escondemos essas coisas em falsas noções de perfeição, máscaras para aquilo que nos tornam frágeis e humanos.
Segundo ponto, o criticado. De fato o rapaz do gorro, como ficou conhecido doravante, foi “vítima” da nossa chacota. Vítima? Palavra estranha. Afinal de contas foi ele quem saiu com um gorro engraçado e que, com certeza, atraiu a nossa e a atenção de muitas outras pessoas. E se você quer ser diferente, banque-se.
Bancar quem você é não é muito fácil. É complicado para caramba. Talvez, por isso, eu não use gorros engraçados. O orgulho faz com que tenhamos certa medida nas coisas. Não queremos que ninguém ria de nós em lugar nenhum, nem veja que somos ridículos de vez em quando (apesar de, sim, sermos bem ridículos de vez em quando). A exigência da nossa perfeição é que gera a nossa própria crítica com relação aos outros e com relação a nos mesmos.
Ele parecia ter uma boa dose do se bancar, que caiu por terra quando ele veio tirar as suas satisfações sobre o gorro. A impressão que se tinha era que ele estava realmente incomodado com a opinião das pessoas e, se formos analisar mais a fundo, querendo sim chamar a atenção, nem que fosse uma atenção negativa. E, se você quer chamar a atenção, você vai chamar. E tem que estar pronto para o que der e vier.
Algumas pessoas, com certeza, olharam para o gorro dele e pensaram “Puxa, que cara estiloso, eu queria ser como ele”. Outras, como nós, rimos. As reações das pessoas são as mais diferentes possíveis e não, não se iluda você nunca vai agradar a todos. Se rimos dele com certeza temos problemas que são nossos. Se ele se ofendeu o problema é com ele.
Se você tem um estilo e veste esse estilo de forma natural ninguém vai nem notar. Mas é só uma gota de insegurança começar a vazar pela sua aura que as pessoas captam essa energia. É uma coisa incrível. Na minha adolescência eu tinha muitos problemas em ser gordinha. E era inexplicável como, todas as vezes que eu saia na rua, alguém fazia alguma crítica maldosa. Pois bem, eu cresci, amadureci e continuei gordinha. Mas nunca mais ouvi uma só crítica, nem velada, nem aberta. O que mudou não foi o meu corpo, mas a minha atitude perante os outros.
Se alguém quiser me achar feia por ser gordinha é um direto que a pessoa tem. Se ela quiser rir, for preconceituosa, eu não vou ameaçá-la de morte. É sim, um direito que a pessoa tem, dentro do entendimento dela. Talvez nós naquela mesa não tivéssemos entendimento pra compreender o gorro feio e rimos dele. Talvez ele somente tenha sido uma maneira de espantar o tédio. Mas a crítica externa, mais uma vez, só nos afeta quando nós mesmos já estamos nos criticando há tempos.
Assim, sejamos mais leves conosco. Exigência demais só machuca, magoa e não nos faz crescer. Tenhamos a inocência de uma criança, que anda com chuquinhas e não está nem aí. Nossa alma fala por nós o tempo todo, desde que não estejamos tentando esconde-la atrás de gorros vermelhos.
Mais alma. Menos ego. Sempre.
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |