Desejo combina com paixão
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Autor Iole Maria Bonetti
Assunto PsicologiaAtualizado em 3/10/2010 2:41:55 PM
Desejo vem do latim desiderium, etimologia da palavra desejo que significa desaparecimento do astro. Desiderare (de+siderare) nos reporta à palavra siderare que se refere aos astros ou estrelas. Na antiga Roma, os adivinhos "consideravam" (con+siderare), isto é, observavam atentamente as estrelas, para extraírem delas alguma conclusão quanto ao futuro. Muitos colocavam sua fé nesses prognósticos baseados em estrelas (sidus) e esperavam ansiosamente pelo seu cumprimento. Com o passar do tempo e em não se confirmando a predição, o crente frustrado abria mão da esperança e "desistia das estrelas". Desiderare é exatamente isso: "desistir das estrelas", é cessar de olhar para os astros, é desistir da esperança e ficar com uma triste certeza: a certeza da ausência de resposta. Sem resposta, desiderium seria a decisão de tomar o destino pelas próprias mãos - vontade consciente -, mas também seria uma perda do saber sobre o próprio destino.
O homem é um ser desejante.
A etimologia da palavra corresponde à definição mais usual do termo desejo: ele seria uma falta. O interessante é que desde os pensadores clássicos até os pensadores modernos, o desejo é na maioria das vezes, visto como empecilho, como carência; até que o filósofo Spinoza vem romper com essa visão negativa. Para ele o desejo é a essência mesmo do homem, é uma força, é nossa potência de existir e de agir.
é bem difícil falarmos daquilo que queremos ou mesmo tentar nomear os nossos desejos. A televisão e outras mídias se incumbem de nos mostrar quais deveriam ser nossos desejos, como um desejo coletivo, igual pra todos. E isso é falso, pois os desejos são únicos e diferentes para cada um de nós. É uma escolha pessoal, intransferível, que foge às regras e que pode ser muitas vezes o avesso do que a família ou o grupo em que vivemos acreditam.
Tomar uma decisão não é nada fácil, pois toda decisão implica em risco. Querer o que se deseja implica numa aposta e se faz necessário ter coragem de dizer sua preferência, de se expor, de colocar sua marca pessoal.
Muitas pessoas ficam nas promessas porque é bastante comum não se "querer o que se deseja", pois assim não precisam se arriscar. Outras, por sua vez, estão eternamente insatisfeitas com o que obtém; sempre desejando outra coisa, trocando incessantemente seu objeto de amor.
Acredito que todo ser humano busca a felicidade e esta felicidade é uma responsabilidade, em que a decisão e a escolha exercem papel fundamental.
Quando o indivíduo cede ao seu desejo, quando ele deixa seu desejo de lado, ele ganha reconhecimento por parte do grupo; mas, ao mesmo tempo, aquele que não consegue se decidir fica deprimido, literalmente "sem saída".
Neste sentido, a depressão pode ser vista como uma covardia diante da decisão. E para mim, a felicidade está aí para os corajosos, para aqueles que acreditam em seus sonhos e que vão atrás dos seus desejos.
É realmente muito difícil sustentar o que se quer, pois o desejo é solitário, é singular e angustiante. É muito comum, ao demonstrar seu desejo, surgir a fantasia de se sentir excluído do grupo, pois se é diferente, se pensa diferente.
Esta é uma grande lição da psicanálise: levar o indivíduo a olhar para o seu desejo, a nomeá-lo e, principalmente, a sustentá-lo no mundo. Passar por uma análise é poder suportar essa decisão, pois decide-se e afirma-se no corpo, não na razão.
E aquilo que é decidido é apaixonante.
IOLE MARIA BONETTI
Psicóloga/Psicanalista
Texto revisado
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