Hoje é Domingo Pé de Cachimbo...
Autor Space of Blue Butterflies
Assunto PsicologiaAtualizado em 4/14/2012 8:52:45 AM
É pessoas queridas, "hoje é domingo, pé de cachimbo"...assim começavam os domingos na minha casa quando eu era criança, e eu achava absolutamente fantástico saber aquelas rimas todas, desafiada pelo pelo meu pai, que as tinha na ponta da língua. Mas confesso que até hoje não sei o que tem o domingo com o pé de cachimbo!
Na geladeira lá de casa um delicioso mingau de maizena com canela por cima me esperava, feito na noite anterior, pelo meu pai, com todo carinho da tradição mineira.
Já que a filhota de 5 anos não tomava leite pingadinho de café e com aqueles pedacinhos de pão dentro da xícara...comia o mingau, e a "força da comida estava na última colherada" se não teria sido tudo em vão! E eu acreditava nisso!!
Pois é, no domingo do pé de cachimbo, sem mais a presença carinhosa e cuidadosa dos meus pais, já não tem mais mingau de maizena na geladeira, esperando por mim, qualquer coisa que eu deseje tenho que ir lá e fazer.
É engraçada esta vida, fui criada sem luxo material, mas coberta do luxo emocional, aquele que acolhe, que afaga, que embala e protege.
Nasci um"tantinho"fora de época, melhor dizendo, 19 anos depois da minha única irmã, e fui sempre cuidada como uma boneca, carinho de mãe, pai, irmãdrinha, tias, primos, avós...enfim uma receita mais do que perfeita para ter uma infância feliz, uma adolescência sem problemas e uma idade madura com o céu despencando na minha cabeça!! Lógico!! Mas voltando ao mundo real, sem toda aquela festa familiar, descobri em doses cavalares que a vida é muito diferente quando se vive só.
Não entendam como queixa, lamentação, lamúria ou qualquer outra coisa "lamentosa" do gênero, mas como uma constatação de aprendizado.
Saí da casa dos meus pais para casar, como era comum no meio em que fui criada, namorei em casa, fiquei noiva, tinha hora para voltar, e coisas assim. Casei-me com um homem que também cuidava um pouco de tudo, sabia cozinhar, consertar tudo, construir coisas mirabolantes, nada era problema, ele resolvia desde tomada de ferro à construção de uma casa.
Mas um dia, como tudo na vida, o namoro de 15 anos, acabou, e num fim de semana tudo se definiu, ele foi embora, eu fiquei sozinha com minha filha, sem saber para onde seguir.
Meu pai, meu grande mentor e orientador, já não estava mais entre nós, minha mãe internada num hospital após uma isquemia que a deixou paralizada do pescoço para baixo, minha irmã entregue aos cuidados com a nossa mãe, e eu...tendo que, pela primeira vez, viver e sobreviver sozinha.
Foi bom o aprendizado, muitas vezes entrei nesta casa imensa e sem ninguém, a filha tinha ido para o fim de semana com o pai, e eu, chegava do trabalho e dizia....e agora?
Na música magistralmente interpretada por Elis Regina, há um trecho que diz
"Sem carinho, sem afeto, no tapete atrás da porta murmureii baixinho..."
Já chegava em casa com um maravilhoso chocolate, livros, ligava a televisão para que me fizesse companhia e chorava quietinha o meu medo de começar a ser dona de mim. Mas todo começo é difícil...Isto é inquestionável.
Amigos, sim, sempre os tive por perto, aqueles verdadeiros, afinal status já não importava, tinha que pensar na minha filha de 7 anos, e no trabalho...num trabalho que nunca foi meu sonho, que exerci por 25 anos arrastada pela necessidade de sobreviver, pois na verdade, esqueci por muito tempo o que era viver, tornando-me mestre em sobrevivência.
Então,fui como todos os solitários do século XXI, encontrando na Internet um passatempo, onde podia interagir com as pessoas, de dentro da minha casa, perto da minha filha, e fui fazendo grandes amigos, que conservo até hoje!
E ali pela telinha mágica conheci pessoas que vieram marcar em definitivo a minha vida.
Quando me casei pela segunda vez, as boas lembranças dos cuidados voltaram à tona, cuidados comigo, fins de semana divertidos, abraços, aconchego, que durou muito pouco, então começaram as traições dele, as mentiras, a falta de carinho, as brigas intermináveis, e por cinco anos, entre idas e vindas dele, o casamento se arrastou, passei pelo que mulher nenhuma suportaria, coisas que nem ouso contar aqui, pois já fazem parte de um passado remoto e propositadamente esquecido.
Então, mais uma vez me vi só...
Mas já estava mais vivida, mais "cascuda" como se usa dizer.
Doeu muito mais do que a primeira vez, mas por motivos muito diferentes, doeu na alma, no amor próprio, na auto estima, na auto confiança, saí destroçada em milhões de fragmentos de mim que eu nem imaginava como iria juntar e criar um ser vivo novamente.
Fui nocauteada, com "jabs" diretos indefensáveis, não queria nem olhar para as pessoas. Agora muito poucas restaram comigo, sem me julgar ou questionar minhas escolhas,minha sobrinha e minha Hermana, meu Anjo querido,pois até meus cachorros tinham sido doados, nem deles eu recebia carinho.
Como eu cresci, como eu aprendi! Como eu gosto mais de mim hoje!!!
Vocês não pensaram que eu fosse dizer que minha vida estava acabada e que eu não acreditava mais em nada...eu até pensei isso sim, fiquei doente (de todas as formas que alguém pode ficar, desde perder a memória, ter dengue, depressão, síndrome do pânico, fibromialgia...e sei lá mais quantos nomes eu ouvi durante tres longos anos)
Mas...tudo sempre tem um "mas", sempre vai haver dentro de mim uma fênix, que chega na última cinza e renasce mais bonita, e assim está sendo...
Hoje, é domingo, pé de cachimbo, acordei tarde, minha filha está com o namorado, vem para casa apenas para dormir, eu num dia típico de outono, disse bom dia ao meu cachorro, Sir Lawliett, companheiro inseparável, conversamos um pouco, (sim, eu converso muito com ele, e entendo as respostas), li bastante, e as duas horas da tarde quando senti fome, desci, não achei meu mingau na geladeira, nem o sorriso do meu pai, ou os cuidados da minha mãe, achei muita louça para lavar, coisa que eu fiz rapidamente e fui pensar no que comer.
Aprendi, a duras e espinhosas penas a cuidar de mim antes de tudo, se eu não fizer, ninguém o fará por mim, e estão certíssimos, cada um tem sua vida para cuidar !!
Egoísta? Não! Apenas uma mulher que aprendeu a se amar, a gostar da própria companhia e a valorizar-se!!
Hoje sou muito mais feliz do que era aos 30 anos, por que hoje eu sei o que quero, e como quero. Sei pisar no chão sem medo.
Vou entrar de cabeça numa vida completamente nova, outra profissão, outra energia, outra vibração!
Hoje, na minha vida só tem espaço para ser feliz, para realizar sonhos.
Já vivi mais da metade dela, dedicando-me aos sonhos alheios, tenho menos da metade para dedicar-me aos meus, e vou fazê-lo!!
E num domingo, pé de cachimbo, típico de outono, eu voltei para o meu quarto, estou aqui escrevendo, cheirosa, unhas feitas, cabelo bonito, recostada na minha cama, no meu quarto cheiroso, arrumado, com meu doce Sir Lawliett dormindo ao meu lado, desfrutando da minha agradável companhia....
Este sim foi o maior e melhor aprendizado de todos....SOU DONA DE MIM!! E ADORO ISSO!!!
03/04/2011
Tanya Maga
Avaliação: 5 | Votos: 4
Tanya Maga Taróloga & Cartomante REIKI Master (Cursos e Iniciações à distância) Terapeuta holística especializada em: . Florais de Bach, Minas e Saint Germain (inclusive para animais) . Elixires de Cristais Rio de Janeiro email: [email protected] Skype: WITCHBELLA1 E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
