Ideologia de Rebanho
Atualizado dia 10/29/2017 8:33:04 PM em Psicologiapor João Carvalho Neto
Mas, como qualquer situação marcada pela relatividade, problemas também existem.
Poderia citar vários deles, entretanto, quero me ater aqui à ideologia de rebanho que se opõe ao princípio da singularidade inerente à vida humana.
O que faz com que sejamos indivíduos no sentido mais explícito do termo é justamente a singularidade que nos marca. Somos seres únicos porque único tem sido o caminho de cada um de nós e é justamente nesse caminho pessoal e intransferível que construímos nossa vida psíquica, nossos padrões de comportamento, nossas referências associativas que fazem com que tomemos decisões pessoais.
Por mais comum que tenha sido a criação de duas crianças, mesmo em gêmeos univitelinos, cada uma terá sua vida psíquica única, marcada pelas histórias palingenésicas que viveram. Diversas pesquisas comprovaram tal situação.
Essa singularidade é fundamental à vida do ser humano já que ela é um dos aspectos de nossa ascensão do reino animal para o hominal. Lá vivíamos realmente em rebanhos, cardumes, colméias etc.. Quando surge o pensamento contínuo e a consciência de si mesmo, tornamo-nos humanos nas suas primeiras experiências evolutivas, acumulando experiências pessoais peculiares à trajetória do nosso caminho. Logo, a singularidade, a diferença e o respeito a ela nos caracterizam a existência psíquica, com todos os atributos e complexidades de nossa psicologia íntima.
Contudo, na imaturidade ainda dessa vida humana, somos frágeis na consistência de nossa individualidade e precisamos nos agregar para nos sentirmos protegidos. Quanto mais imaturo um indivíduo, mais necessita se sentir parte de um grupo como forma de proteção.
Não quero aqui negar a importância da socialização e da participação das partes a fim de construirmos uma sociedade cada vez mais sistêmica e cooperativa. Falo da dependência que acaba fraudando a singularidade e o próprio sentido do existir humano enquanto pessoa.
É quase matemático: um sistema social se forma de indivíduos que precisam valorizar o conjunto, mas que também devem ser suficientemente íntegros e emocionalmente sadios para garantir a existência do todo.
Então, o que surge como iminente perigo das ideologias globalizantes e excludentes das diferenças é a alienação no sentido mais psicanalítico do termo. Ser alienado neste ponto de vista é abrir mão do próprio desejo e da autenticidade do pensar para adotar o desejo do outro. É o que a mídia faz hoje, em todos os meios possíveis de comunicação, dizendo qual o desejo que vai fazê-lo mais feliz, normalmente o objeto de desejo que eles querem lhe vender, desde coisas materiais até padrões de comportamento. Os mais ingênuos aderem a este convite pois ele traz a sensação de pertencimento, tão carente ao nosso vazio existencial. Mas também esvazia a pessoa do contato daquilo que a torna única: seu desejo real.
Com isso, se você se afasta do seu desejo real inviabiliza sua satisfação real em favor de uma satisfação alienada e, portanto, não real. Por isso, temos precisado tanto de subterfúgios que nos tragam alguma sensação dessa satisfação, mas sempre incompletos e, ao final, frustrantes.
Não é à toa que a depressão se tornou uma endemia planetária, justamente um transtorno mental caracterizado pela insatisfação com a vida.
Que cada um de nós possamos amadurecer essas ideias e nos percebermos nesse jogo de desejos contraditórios, já que um rebanho se autoprotege mas também pode perder o rumo e despencar do precipício e, se você não estiver atento ao próprio caminho, acaba despencando junto.
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
