Maturação emocional feminina e o mito de perséfone
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Autor Rosemary Rezende
Assunto PsicologiaAtualizado em 6/22/2010 9:01:16 PM
Primeiro Momento - Perséfone, O Mito:
Para compreender a filha é necessário estudar a mãe.
Deméter, Deusa e mãe da terra cultivada, foi forçada por Zeus a unir-se a ele, numa paixão unilateral, da qual nasceu a bela Core ou Perséfone.
A ligação entre as duas era não apenas muito íntima, mas também, por vezes, simbiótica - a jovem vivencia-se como "filha da Mãe" - a grande Mãe tão cultuada por todos os helenos, a Deusa-Terra.
Hades ou Plutão - o Senhor do Mundo das trevas - movido pela paixão, seqüestra Core e este rapto provocará em Deméter uma profunda dor. Junito Brandão refere que Deméter é a terra rasgada pela charrua patriarcal, em cujo seio ferido será plantada a semente, mas Core, o novo fruto, será raptada e levada para as trevas estéreis do Hades.
Escondida contra sua vontade no Mundo psíquico da escuridão - este também localizado no interior da terra, ou seja, no seio da própria mãe-terra ou Deméter - Core inicia seu processo de Individuação, "longe" da proteção materna.
No Hades, Core raptada e violentada, deprime-se. Atravessa um longo processo de amadurecimento psicológico e transforma-se em Perséfone - "Uma deusa madura, como esposa de Hades e rainha dos mortos, mas sempre pronta a atender a quantos dela necessitarem", segundo a bela análise de Junito Brandão.
Segundo Momento - A Personalidade de Core-Perséfone :
A psiquiatra e terapeuta Junguiana Jean Shinoda Bolen, ressalta que a personalidade de Core - Perséfone predispõe à passividade, à dependência, à condução por outro, à complacência. Seqüestrada por Plutão, necessita da radical intervenção materna para poder passar alguns meses longe do inferno, na superfície da terra: Deméter se retrai, exigindo a libertação da filha, e a terra deixa de produzir frutos.
Contudo, antes de ser liberada Perséfone, passiva e submissa, deixa-se seduzir por Plutão e come uma semente de romã, símbolo da eternidade, sendo obrigada a retornar periodicamente ao Hades e manter-se em contato com a sombra do Mundo externo e interno. A semente de romã é a essência não-vista ou aquilo que é invisível (Berry, 1980), ignorado ou negado. Sem o contato permanente ou intermitente com o sombrio, não se re-conhece a luz, não se evolui, não se amadurece, não se cumpre os "altos fins da existência" (Hahnemann).
Perséfone representa a mulher jovem (Core), ingênua e vítima de violência extrema (como seqüestro e estupro), que amadurece pelo sofrimento, se fortalece, e como Senhora dos Infernos auxilia a travessia de outros heróis e heroínas como Psique (que também representa a alma) em busca de Eros.
O Mito de Perséfone possibilita diversos níveis de interpretação: nosso enfoque abordará o rito de passagem, a separação necessária ao indivíduo das figuras e meios que "aliviam" patologicamente a angústia psórica existencial, através da passiva submissão auto-enganosa ao "outro-mágico" protetor (Hollis,1992). A perda da inocência ao ser seqüestrada da superfície da terra - território de sua protetora mãe Deméter - pelo Senhor dos Infernos - contribui para o encontro com a própria sombra: dolorosa experiência necessária ao amadurecimento individual e ao processo de individuação segundo Jung. Em conferência proferida em 2003 , Bauer reflete sobre a inocência "extrema" de Perséfone, de forma simbólica: o mundo só possui o lado luminoso, primaveril e bom. Tudo o que é preciso fazer para não perder este "estado de graça" é estar submissamente sobre a proteção de uma mãe poderosa, é possuir uma ausência de busca pela completude, é deixar-se conduzir - nostalgia do paraíso perdido, no qual a ausência de autonomia era "compensada" pela ausência de insegurança, de desamparo e de abandono (sintomas da Psora), onde se podia brincar sobre os campos floridos como Coré-Perséfone.
A experiência de Core-Perséfone com o lado trevoso e infernal da existência - o Hades - transforma-a de criança dependente (Core) em mulher resiliente ,adquirindo o novo nome de Perséfone. ( Downing,1999).Torna-se uma deusa experiente que reina sobre os mortos e guia os vivos quando visitam o mundo das trevas ( Shinoda,1990).
"O Mito começa no paraíso, mas ele nos diz que o movimento da vida depende da emergência da sombra, do Hades, este ser negro que põe fim às nossas ilusões" (Bauer, 2003).
Terceiro Momento - Dinâmica Miasmática e Estudo dos Sintomas: Abandono ,Insegurança e Desamparo
A Psora ou "tsorat" - ferida psíquica original proporcionada pela ruptura com o estado simbólico paradisíaco pode traduzir-se por sentimentos de abandono ( "E agora, quem vai me amar incondicionalmente?"), insegurança ("Serei capaz de sobreviver e conquistar o que necessito e/ou desejo?") e desamparo ("Sem um Pai/Mãe poderoso para me proteger, o mal pode me aniquilar!", "O que será de mim?").
Diversos medicamentos apresentam em suas patogenesias estes sintomas de forma isolada ou associada.
- Cyclamen, Calcarea carb, Pulsatilla apresentam claros sintomas de abandono; Calcarea carb, Causticum, Ign, Puls, apresentam em seu núcleo a insegurança e Arg. n., Gels, Phosph apresentam latente desamparo.
Quarto Momento - Reflexões sobre o Mito de Core-Perséfone:
James Hillman em sua obra "Encarando os Deuses" ressalta o valor do mito pessoal para que o terapeuta compreenda o processo psicodinâmico do (a) paciente.Este processo , em linguagem homeopática,é denominado Dinâmica Miasmática.
Perséfone , ao permanecer com os pés no Hades, mantém-se em contato com a obscura profundidade de sua própria alma, mas reconectada de forma amadurecida e não mais simbiótica à Terra Mãe Deméter. Assim, passa a produzir flores e frutos em sua própria terra psíquica, na superfície do mundo (Hillman,2004), cumprindo, desta forma, sua jornada evolutiva de forma harmoniosa e equilibrada ( Hahnemann,Kant,Paschero,Ghatak,Corbin,Hollis).
Segundo um dos fundamentais Paradigmas Homeopáticos atuais, a cura da Psora (no caso, traduzida por sentimentos de abandono, insegurança e desamparo) não é possível, visto que a angústia existencial é condição inseparável do existir. Contudo, quando percebermos que ao "enxergar-se com profundidade a natureza, a vida que se renova acima do solo assume um significado mais intenso sob a terra" (Berry, 2003), os meses que Perséfone passará na terra com sua mãe Deméter significarão alegria, flores e abundância. Mas o seu retorno ao sub-mundo do Hades, o contato com a sombra, ambiente assustador, são necessários como contra-parte das experiências necessárias à maturação psíquica.
A Psora latente sempre permanece e "é necessário aceitar que a segurança absoluta não existe e que pode, até mesmo,impedir a vida" (Bauer, 2003).
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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Rosemary Rezende Tecnica Agrícola, Medica Veterinária, Homeopata, Terapeuta Holística. Atualmente trabalhando com Terapia Nexus, massoterapia Indiana, Numerologia Indiana, Florais e Homeopatia E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |