Naquele tempo
Atualizado dia 08/04/2012 19:14:35 em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Para muitas pessoas, houve épocas já vividas que realmente foram mais significativas ou saborosas do que a atual. Ter vivido um grande amor e hoje não tê-lo mais, por falecimento, distância, ou outro motivo qualquer. Ter desfrutado de um trabalho muito satisfatório, realizador e repentinamente ficar impedido de praticá-lo. O jogador de futebol, com carreira brilhante, por lesão física torna-se impossibilitado, não sabe fazer outra coisa, ou mesmo não consegue se interessar por outra coisa. Grande tranqüilidade financeira, vida correndo confortável e prazerosa e rapidamente, tudo muda. O dinheiro muda de mãos, a vida torna-se um fardo a ser carregado. A perda da saúde, que altera toda uma vida, de promissora e feliz, para limitada e cheia de sofrimentos. Observem que em todos os casos, ocorreu a perda. Algo que se tinha e que deixou de existir. E é aqui que a forma de olhar a vida faz a diferença.
Uma coisa é inegável e inevitável: A vida continua, o tempo não pára e independente do nosso querer, as situações se nos apresentam, e cabe a nós uma atuação favorável pois, mesmo que à revelia de nossa vontade, vão sempre surgir novidades, boas ou ruins. Atuação favorável porque o fluxo deve ser um processo harmonioso e contínuo e se houver empecilhos, ele será alterado, mas não interrompido em sua existência. São os "trancos" que levamos em nossas vidas.
Mas por que os acontecimentos passados são considerados melhores por grande parte das pessoas? E isso se faz verdade desde o princípio. No primeiro filme sonoro de Alfred Hitchcock, lançado em 1929, há uma canção que fala exatamente sobre isso: o quanto era melhor o tempo que já se foi. E se procurarmos, observaremos, em tempos anteriores, a mesma idéia. Na resposta não há grandes complicações. O que já passou, já foi vivido, está superado, os problemas foram resolvidos ou "ficaram para trás", e nós sobrevivemos, apesar de tudo.
Simples assim. São muitos os motivos que levam cada um a não olhar o presente como a melhor oportunidade da vida. Dos mais amenos aos mais complexos, são todos baseados na dificuldade de se posicionar frente ao dia-a-dia. Inconscientemente, o viver tem uma conotação agressiva e devastadora, que agride e maltrata. Assusta, atemoriza.
Observem uma criança que está aprendendo a andar. Levanta, dá alguns passos, cai, ri e levanta novamente. Observem também quando a criança vai sendo ameaçada pela vida. Com pais severos e tentando ser zelosos na educação, agem com gritos e repreensões constantes, e elas vão se tornando inseguras, temerosas, algumas se manifestam agressivamente, mas a espontaneidade e naturalidade deixam de existir. Para muitos, a vida foi propiciando "gritos e repreensões", tornando-os inseguros, ansiosos, sempre à espera de uma "chamada de atenção".
A percepção de que sobrevivemos, por maior que tenha sido o problema vivido em épocas passadas deve, mais do que nos tornar apegados ao passado, abrir-nos para o presente. Por maior que seja a dificuldade que estejamos vivendo, sairemos dela de qualquer forma, pois muito raras são as que nos tiram a vida. Então, em vez do "de qualquer forma", por que não deixarmos de ser relutantes e fugidios e enfrentarmos as situações com consciência e clareza? Assim, poderemos traçar nossas metas dentro do que está ao nosso alcance, no caminho que melhor nos convier, participando ativamente do fluxo da vida. E se ele não nos conduzir exatamente do jeito que desejamos, pelo menos não nos empurrará da forma como não gostaríamos.
Mesmo para aqueles cujo passado foi mais significativo do que está sendo o presente, lembrem-se que ciclos se fecham e se abrem. Viver o presente é preencher conscientemente estes novos ciclos. E o presente é tudo o que realmente temos.
Texto revisado
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