O caminho da paz: negar a si mesmo
Atualizado dia 06/05/2015 08:57:31 em Psicologiapor Paulo Tavares de Souza
Usado em técnicas de meditação, o Neti-Neti é um recurso ‘milagroso’, pois pode ser empregado pelo praticante para negar os pensamentos e emoções, assim, aproximar-se do vazio da própria realidade e alcançar o silêncio primordial que sustenta a consciência. Através deste ‘negar-se a si mesmo’ será possível, portanto, perceber aquilo que existe na própria essência: o Self.
O maior obstáculo para conhecermos essa instância superior da consciência e conquistarmos a paz é a própria mente e isso acontece por estarmos completamente identificados com ela, por acreditarmos na realidade que ela nos oferece através daquilo que percebemos por meio dos sentidos, emoções e sensações. Os pensamentos, que resultam da ação destes elementos, são acionados pelos conteúdos afetivos que se enraízam na alma a partir do nosso envolvimento emocional com os eventos da existência; portanto, todos esses elementos, não são a causa, mas o efeito de fenômenos que promanam de uma fonte única: a ideia de sermos uma pessoa.
A convicção de que somos uma personalidade individual vivendo no mundo, presos em um ambiente mental, foi construída através das inúmeras experiências no corpo, por isso não percebemos o nosso verdadeiro “Eu”, pois ele não participa desse jogo, apenas observa e aguarda um processo natural de ajuste e alinhamento destas distonias no campo mental para poder manifestar-se em sua plenitude.
É como a imagem da lua que não pode ser refletida no lago, justamente pelo fato das águas estarem turbulentas. A lua é o nosso Eu Superior, nosso Self, A Presença do Supremo em nós, no entanto, não podemos percebê-la, justamente, por estarmos totalmente envolvidos com as turbulências da vida.
Vencer a mente é vencer o mundo, mas é possível vencer o mundo, é possível acordar e sair da Matrix, pois existe um força que nos compele ao caminho da luz, mesmo diante das resistência, essa força jamais deixa de atuar. O processo é lento e gradual e precisa ser maturado através de sucessivas experiências no corpo, por isso estagiamos na Roda de Samsara, justamente para nos livrarmos da influência da mente, só será possivel conquistar a liberação quando alcançarmos a maturidade necessária.
“O Espírito está pronto, mas a carne é fraca. Mt 26:41”, eis um ensinamento que merece reflexão. Significa que tudo que precisamos para nos sentirmos realizados, já temos, pois nossa essência é Divina, pronta, somos Consciência Pura. O grande problema é acreditarmos que somos um personagem cheio de problemas, com o qual estamos identificados e, assim, nos acharmos um espírito que precisa evoluir. Toda a nossa infelicidade resulta desta identificação, pois, para o nosso entendimento, estamos vivendo em um mundo conturbado e problemático e que não existisse nada mais além daquilo que percebemos através dos sentidos.
Esse Espírito pronto citado, está pronto por que representa o Self, a Realidade Suprema e a carne mencionada nessa máxima cristã simboliza o corpo, a vida na realidade material, a condição humana que se prende na escravidão da mente. Enquanto estivermos presos aos condicionamentos provocados pelas crenças e valores deste corpo fisiomental, estaremos acreditando que toda a nossa natureza se resume a isto.
Parece provocação da minha parte tentar desconstruir crenças que estão profundamente arraigadas na alma, mas tudo isso tem um amparo, até mesmo, no pensamento cristão, pois quando Jesus dizia ‘Negue a si-mesmo e siga-me’ o que vocês acham que ele estava propondo? Não poderia ser outra coisa além de tudo o que estamos falando, esse negar a si mesmo é o Neti-Neti, significa lutar contra a identificação que criamos com o corpo, com o personagem, com as coisas materiais, enfim, significa livrar-se da vida virtual constituída no plano mental que trata as emoções, sensações e pensamentos como realidade última. É um convite, portanto, para enfrentarmos as próprias convicções, as crenças e valores que se lançam como nossos maiores obstáculos para descobrir o caminho de uma nova realidade, para encontrar o Reino de Deus que existe dentro de cada um, alcançar o Nirvana, o Satori, o Nirvikalpa Samadhi, e finalmente, ascender à nossa condição natural.
‘Quem quiser salvar a sua vida irá perdê-la’ - dizia o Nazareno à multidão. É isso que fazemos, lutamos para manter e realizar um falso eu. Queremos, a todo custo, salvá-lo, sem notar que todo o sofrimento que incide sobre nós resulta deste equívoco primordial, pois, em que pese maiores reflexões, deveríamos trabalhar no sentido contrário, de nos desidentifircamos dele.
Negar a si mesmo é a única e verdadeira possibilidade de alcançarmos a paz, pois nada mais irá nos atingir no momento em que compreendermos que tudo aquilo que se manifesta como realidade é apenas um processo natural de ajuste e alinhamento que está ocorrendo no plano mental, onde participamos como indivíduos e que se não interferíssemos no andamento do fenômeno, o Todo se equilibraria. Negar, negar, negar, sempre! Participar de tudo, mas não aceitar nada como nosso, como parte do nos Ser, não confundir o fenômeno com a própria essência. Somos espectadores, não atores desse filme reproduzido na tela da mente. Quanto mais mergulharmos na realidade mental, mais estaremos imantados de energias que deverão ser em algum momento eliminadas.
Renúncia, desapego, nem isto, nem aquilo, Neti-Neti. É preciso ficar sem nada para encontrar Tudo!
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