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O ESCAFANDRO E A BORBOLETA - analise de um filme

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Autor Renato Liberman

Assunto Psicologia
Atualizado em 11/29/2009 8:03:12 AM


O Escafandro e a Borboleta: uma visão psicanalítica
Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral que tem como conseqüência a síndrome de "Locked-in" que faz com que o indivíduo permaneça ciente e desperto, mas incapaz de se mover ou de se comunicar dada a paralisia de praticamente todos os músculos voluntários do corpo.
A síndrome de Locked-in é descrita como "a coisa mais próxima de ser enterrado vivo". As pessoas que sofrem da síndrome de Locked-in podem ser capazes de comunicar-se utilizando movimentos oculares, piscando e movendo os olhos, pois geralmente tais movimentos são preservados. 
Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido e o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória, constituídas pelas inscrições pulsionais ao longo de sua vida.
Assim foi a maneira de Jean-Dominique Bauby conseguiu dar vazão às suas pulsões, através de sua memórias inscritas em seu corpo preso:
"O escafandro já não oprime tanto, e o espírito pode vaguear como borboleta. Há tanta coisa para fazer. Pode-se voar pelo espaço ou pelo tempo, partir para a Terra do Fogo ou para a corte do rei Midas. Pode-se visitar a mulher amada, resvalar para junto dela e acariciar-lhe o rosto ainda adormecido. Construir castelos de vento, conquistar o Velocino de Ouro, descobrir a Atlântida, realizar os sonhos da infância e as fantasias da idade adulta." (Bauby, 1997)
E isso somente se realizou porque existiam pessoas que apostaram em sua "recuperação", isto é, tinham uma posição desejante em relação a ele - a equipe médica, principalmente a fonoaudióloga que demonstrou claramente seu sofrimento pela situação de seu paciente, a escritora, sua ex-mulher e filhos e até mesmo sua namorada, que mesmo sem estar presente em nenhum momento, lhe dava uma certa esperança de revê-la.
Além disso, suas fantasias e imaginações irônicas e sensuais o mantiveram num movimento constante de desejar:
"São poucos os momentos em que, lembrando esses prazeres, sinto com tanta crueldade a minha condição atual. Felizmente, não tenho tempo de me aprofundar." (Bauby, 1997)
Fantasias que não permitem encarar sua total dependência e incompletude:
"Mas neles prefiro ver um símbolo de que a vida continua. E a prova de que desejo continuar sendo eu mesmo. Já que é para babar, que seja em cashmere." (Bauby, 1997)
Um desejo inconsciente que podemos perceber em suas fantasias com as mulheres, reais ou não, que substituem um desejo pela figura materna, que não aparece no filme, mas que simbolicamente norteia sua vida.
Mas ainda faltava algo que o deixasse na condição de humano, um desejo que o fizesse sentir a necessidade de continuar vivendo, ou viver para algo, e essa falta foi preenchida pelo desejo de "escrever" e publicar o livro de sua vida. Escrever seu livro foi uma maneira de superar sua condição, onde sua própria imagem corporal inconsciente pode se reorganizar.
Para manter-se vivo, Bauby, inconscientemente, utiliza o mecanismo de defesa por excelência: a sublimação. Isso se dá quando ele percebe que poderia realizar o desejo de escrever um livro através da única forma de se expressar, seu olho esquerdo. E com isso o conflito se alivia, pois há o encontro dos laços sociais e prazer.
Mesmo com o corpo inerte, seu ego estava lá, preso no real, mas mobilizando-se o tempo todo através de seu desejo sendo expresso por seu olho esquerdo. O desejo de escrever sua história que começa no fim e termina no início, assim como a pulsão de vida que sempre nos leva adiante e a pulsão de morte que quer nos levar ao fim, ao gozo pleno, ou melhor, ao início, ao útero materno. Ou será ao escafandro inicial de nossas vidas onde a única forma de se comunicar (com o mundo externo) é a pelo desejo do Outro (mãe).
Jean Bauby renasce - uma larva que se enclausura (escafandro) em sua casca para transformar-se em uma borboleta, através do olhar assustado de uma criança que tem desejos e memórias sem limites, livre dos recalques impostos pelo Outro, pois na imaginação tudo pode.
O corpo como escafandro onde o sujeito respira pelo olho (contato com a superfície), a mente como a borboleta que voa sem limites, mas que precisou de extremo esforço para se tornar uma borboleta, fazer a fantasmática travessia e gozar em si mesma.
         "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)
 


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