O fim do jogo do sofrimento na relação
Autor Alex Possato
Assunto PsicologiaAtualizado em 6/18/2013 7:13:09 PM
Eu não estou mais a disposição: em algum momento, é importante abandonar o jogo da guerra na relação...[/caption] Esta frase ecoou durante todo o final de semana, no treinamento de constelação familiar sistêmica que fizemos. “Eu não estou mais a disposição” é uma frase de solução, usada em determinados momentos na constelação, quando um personagem que estava sendo “usado” por outro, recupera sua força, sua autoestima, e se coloca como alguém autônomo, independente. Quebra-se um vínculo de codependência, onde ambos sofrem. Imagine você que está num relacionamento onde está sendo usado pelo outro. Tem os seus ganhos, que podem ser financeiros, sexuais, proteção, ou outro qualquer, mas o que você paga é muito alto: você é humilhado, usado, sente-se pisado. Ou imagine-se no outro lado: você está usando alguém para seus interesses. Manipula, joga com o outro, dá carinho e depois pressiona, porque também está ganhando algo. Você é um escravo da sua vítima, já que precisa dela para satisfazer uma parte interna, inconsciente. No fundo, você está sofrendo, pois não é livre, e seu prazer é quase nulo... Neste jogo sadomasoquista, vítima e agressor, no fundo, são a mesma coisa.
A origem do jogo está no passado familiar
Se você olhar para trás, para o pai e a mãe, e também para avós, bisavós... e vou ser claro, não precisa ir além deles, irá perceber que houve um intenso jogo de manipulação entre homens e mulheres. Casais que viveram mentiras: famílias paralelas, amantes, filhos bastardos, violência, vitimismo, sedução e rejeição, ódio... A energia masculina e feminina, no nosso sistema familiar, está representada pelo conflito, e isso pode se repetir na sua vida hoje. Como? Você acaba envolvido em relações péssimas, onde, por mais que tente, está se humilhando e agredindo quando, em determinado ponto, não aguenta mais a humilhação. Ou você está agredindo e depois se mata de culpa por isso. Após um trabalho de constelação onde conseguimos chegar à compreensão e harmonização sistêmica, subitamente a frase se faz correta e necessária: - eu não estou mais a disposição! É o momento de você abandonar a guerra. Abandonar talvez o parceiro ou parceira. Ou abandonar o jogo. Isso é muito doloroso, porque pode parecer sem lógica, mas uma parte dentro de nós estava totalmente identificada com o sofrimento. Esta parte não conseguia perceber que uma relação de homem e mulher deve ser honesta, dar prazer, ser construtiva, livre. E na relação co-dependente, isso não existe, e possivelmente, nunca existirá. A não ser que seja um processo cármico viver com a pessoa até o final da vida, sem ter muito prazer nem liberdade, é o momento da despedida. E de olhar para a tristeza, vendo as águas levarem e lavarem tudo o que foi vivido...
Despedimos das partes internas que prolongam a dependência
Viemos nesta vida com questões sistêmicas familiares para aprendermos a amar. Sim! Aprendermos a amar. Somente quem passa por situações dolorosas como a de ser humilhado ou de ser o agressor e morrer de culpa por isso, pode experimentar o grandioso salto quântico que transforma a dor em compaixão. Se herdamos um sistema de luta entre homem e mulher, estamos muito próximos de viver uma vida de amor pleno, no relacionamento. Lógico que para um grandioso ganho, as provas finais são as mais difíceis. Não tenha dúvida. Mas se você está entendendo o que estou falando, e perseverar em perceber as partes internas que mantém você identificado com o jogo da dor, do sofrimento, da vitima ou do agressor, poderá em breve viver um outro jogo: o jogo do relacionamento livre, prazeroso, que constrói, que dá independência mútua. Não estar mais a disposição é muito mais olhar para as partes suas que atraem a guerra com o sexo oposto, reconhecê-las, deixar que as emoções que as acompanham façam parte, deixá-las existirem, e... não dar vazão, do que dizer adeus a um parceiro ou parceira. Não é preciso colocar alguém para fora da sua vida, embora às vezes este alguém, depois que você descobriu o jogo, não faça mais sentido na sua vida, e seja incoerente continuar uma relação, seja de amizade, parceria comercial ou afetiva. Como é comum acontecer, após este final de semana, quando trabalhamos a questão durante dois dias, emoções inconscientes afloraram em mim. Também deixei uma relação de co-dependência para trás. E os “finalmente” estão passando... Fui convidado em alguns momentos a brigar com o sexo oposto. Coisa que acabei caindo há poucas semanas, quando cedi sem perceber ao impulso da raiva, que no fundo, me deixa preso à guerra. Mas nesta semana foi diferente. Percebi a armadilha desta “parte” que deseja continuar a guerra. Só que hoje já estou dando poder, muito mais poder, à parte que está em paz. Harmonia. A parte que se banca e vive em independência. Que não necessita humilhar nem ser humilhada. Então, olhei bem fundo nos olhos desta parte, parte interna – diga-se de passagem, que sutilmente invadiu minha mente, meus pensamentos, minhas emoções, querendo provocar-me a reagir, a brigar, respirei fundo... e disse: - não estou mais a disposição!
Alex Possato é professor e terapeuta de constelação sistêmica
Avaliação: 5 | Votos: 10
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
