O fim dos rótulos
Atualizado dia 12/03/2013 10:43:03 em Psicologiapor Andrea Pavlo
Último capítulo da novela. A mocinha, que passou a novela toda lutando pelos direitos das mulheres, só se sente feliz e realizada de verdade quando se casa, numa cerimônia de candomblé, no alto do Morro da Providência, em 1910. A outra, sua companheira, só está radiante de felicidade porque está grávida de seu grande amor. Um clichê atrás do outro.
Não me entendam mal, eu adorei a novela. Não costumo gostar de nenhuma, mas ela mostrar o machismo, o preconceito racial e a raiz disso tudo no Brasil, fez dela uma das melhores novelas que eu já assisti. Mas nem mesmo as boas cabeças que a colocam no ar conseguiram escapar do que ainda parece óbvio: o papel feminino e masculino, dos negros e brancos, pobres e ricos. A rotulação das pessoas.
A grande verdade é que alma não tem sexo e nem cor alguma. Conheço homens que amam cozinhar e mulheres que compraram uma passagem para o Japão para ver seu time do coração jogar. Eu mesma, quando era criança, chorei dias seguidos porque queria um presente: um caminhão de bombeiros. E nunca fui tão feliz com tantas cores e luzes. Ah, e adoro carros, até hoje.
Freud, o famoso pai da psicanálise, disse que somos todos naturalmente bissexuais e que chegaria um momento na humanidade, em que nos tornaríamos simplesmente pessoas. Imagine a reação das pessoas na época, não?(também gostaria de ver a sua cara agora).
Nunca as pessoas tiveram tantos direitos. Direito de ser si mesmo, sem se rotular de uma coisa ou outra. De homem, mulher, homossexual, heterossexual, branco, negro, pobre ou rico. E sim, as diferenças superficiais existem, mas são só isso, diferenças superficiais.
Há alguns dias uma famosa marca de cadernos ouviu muitas críticas por conta de uma capa e uns adesivos que pretendiam ser "engraçadinhos". De novo, detesto radicalismo de qualquer espécie, mas vender para uma criança um adesivo que mostra um homem + bebida + mulher = casamento, é baixar a cabeça para os clichês e a ignorância de quanto o mundo mudou. Ou está mudando.
A verdade que é o mundo mudou, mas ainda há muita resistência. Os homens ainda acham que são ogros caçadores e exigem uma mulher à sua "altura". Têm uma série de "exigências" com relação às suas mulheres. A roupa que devem usar, o quanto devem ganhar, como devem se comportar. E nós, desesperadas por afeto, ainda cedemos.
Não falo de todos os homens e nem de todas as mulheres, mas se conseguimos ver isso de uma equipe de criação de uma empresa consolidada no mercado ( e pasmem, ninguém, nem por um minutos pensou que isso fosse dar porcaria?) é porque ainda tem muita gente pensando assim. E muita gente comprando estes produtos e achando mesmo engraçado.
E agora uma nova polêmica sobre o tema se levanta. Uma marca de chocolates, que faz ovos de páscoa entre outros, lançou uma linha para meninos ( com carrinhos) e uma para meninas (com bonecas) e isso gerou a ira das feministas. Sinceramente, se eu tiver que escolher um lado, ainda sou mais feminista, mas nem eu tinha me tocado que era sectário de tanto que ainda estou acostumada com os clichês.
Clichê vende! E por quê? Porque as pessoas ainda compram! Simples assim. Ninguém para pra pensar que está engolindo essa porcaria há anos, deixando que o mundo dite como devemos ser ou nos comportar. Que tipo de coisas devemos gostar ou não. Mas, se for falar de machismo, meu amor, vamos ter que fazer mais do que reclamar de ovos de chocolate. Precisamos de ação!
Minha sobrinha, de 2 anos, adora bonecas. Ela tem um monte, que chama de neném e imita a mãe trocando as fraldas e colocando pra dormir. Ok, não tem problema. Meninas também podem gostar de bonecas, assim como mulheres podem ter o desejo genuíno de serem mães. Ou não. O problema é quando fazemos isso só porque alguém disse que era certo. Só porque um comercial de TV sempre coloca uma mulher lavando a roupa na lavanderia e esperando o marido chegar. E porque somos nós que ainda nos acabamos, realizando muito mais tarefas do que suportamos, só porque queremos ser as super mulheres, que dão conta de tudo! De todos! As famigeradas mulheres alfa (ou fálicas, citando Freud mais uma vez).
O problema não está no fato de ter um ovo para cada sexo, mas em como compramos essa ideia como verdadeira.
O que aconteceu com este ovo é que ele encalhou nas prateleiras! As meninas queriam os brinquedos dos meninos e vice-versa! Porque, de novo, alma não tem sexo! Alma gosta, e pronto!
E as crianças ainda não foram tão contaminadas pelas crenças sociais que prefiram um ou outro. E isso não quer dizer nada quanto à sexualidade delas, tem a ver mesmo com a curiosidade pelo mundo.
As novas gerações não querem rótulos. Não querem ser taxados de alguma coisa que possa restringir as suas escolhas. Se antigamente uma pessoa penava para se assumir homossexual, hoje ela diz que não quer ser isso ou aquilo, quer ser si mesma. Quer amar e ser amado e isso independe do sexo do outro, mas depende do sentir.
E, nossa, como fico feliz em ver que as pessoas estão começando a valorizar mais o que sentem e menos o ego, as definições das coisas. Que o mundo está se abrindo a ponto de um papa ter coragem de renunciar! E apesar de todas as ainda resistências que existem, com as frases "proféticas" de meia dúzia ainda ignorante e avessa à verdade, estamos começando a não mais engolir sem reflexão.
A melhor coisa que alguém faz quando um produto não a agrada é simplesmente não comprar. Não seja complacente com o que lhe manda ser ou fazer qualquer coisa. E isso vale para um produto ou para aquele "conselho" da amiga ou da mãe. Pense! Reflita e sinta o que é a sua verdade. E a velha máxima "se eu me sinto bem, é bom, e se me sinto mal é ruim" ainda vale. Para sempre.
Chega de ser um carneiro na multidão! Seguir um rebanho que não sabemos aonde vai dar só porque dizem que é o certo. E não interessa se você tem 17 ou 90 anos, isso também se torna um preconceito seu! Você não é seu sexo, sua aparência, seu CPF ou seu carro. Você é um espírito que nasceu livre, mas acredita demais em bobagens! Compre o ovo azul para a sua filha! Compre a princesa para o seu filho, e daí? A criança não está errada. Isso remete aos antigos professores que, quando viam uma criança escrevendo com a mão esquerda, diziam que isso era coisa do diabo e a forçavam a escrever com a direita! É a mesma coisa, mas em outros termos.
Como diria Caetano "gente é pra brilhar e não pra morrer de fome". Fome de comida (por falta ou excesso de dieta). Fome de curiosidade. Fome de opções. Você pode simplesmente seguir seu coração, seus desejos... "se errar por amor, Deus abençoa, seja você" (Djavan). Equilíbrio é todo o necessário. E usar o senso, o bom senso da sua alma!
Afinal de contas, sim, somos todos um!
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Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |