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O MECANISMO DA TRANSFERÊNCIA

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Autor Oliveira Fidelis Filho

Assunto Psicologia
Atualizado em 27/05/2010 15:38:12


  Há quem diga que do bode tudo se aproveita. O couro vira chapéu, cinto e todo tipo de tralha, usadas pelos vaqueiros. A carne pode ser consumida "verde" - fresca no vocabulário "sertanês" - ou salgada, como é mais comum. Da barriga se faz buchada e o sarapatel. E até o berro serve para alertar o dono, que tem ladrão querendo surrupiar o dito cujo.

Para os Judeus, da época de Moisés, tal macho adulto dos caprinos tinha outra serventia...

Quando alguém diz que "deu bode", pode significar mais do que o nome de lanchonete ou restaurante em Pernambuco. O sentido implícito é de algo que deu errado, virou confusão, não saiu como o previsto, ou que a maracutaia foi descoberta.

A má fama do bode remonta a um passado longínquo. É no livro de Levítico que o inocente bode foi transformado em "bode expiatório".

Desde a narrativa Bíblica do Jardim do Éden, alguém tem que levar a culpa. Se não é Eva - a culpada - é a serpente, e as más línguas chegam a dizer que quando Eva transformou a serpente em "bode expiatório" estava na verdade devolvendo a culpa a Adão, uma vez que a serpente era dele.

Tal teoria é mais bem fundamentada por Freud. É o próprio pai da Psicanálise quem declara que "O psicanalista é o bode expiatório dos hebreus. Nele depositam os seus pecados."

Mas voltemos à narrativa de Levítico, versículos 21 e 22 do capitulo 16. Naquele texto é dito o que os filhos de Israel faziam no dia do perdão - Yom kippur.  Eles se reuniam ao redor de Arão, que na qualidade de sumo sacerdote era o mediador entre o povo e Deus.

Ao lado de Arão ficava um bode, sobre o qual ele colocava a mão, e simbolicamente transferia todos os pecados acumulados durante o ano para esse pobre bode. Feito isso, encaminhavam o bode para o mais longe que podiam.

Esse é um relato perfeito e gráfico do que é exatamente a projeção e, como não poderia deixar de ser, é daí que vem a expressão "bode expiatório".

Uma das coisas que sempre me chamou a atenção, ao ler o Velho Testamento, especialmente Levítico - terceiro livro da Tora - é a obsessão dos judeus com a limpeza externa, quer das pessoas, dos animais, quer das casas e objetos. É como se todo o povo sofresse de TOC - transtorno obsessivo compulsivo - fossem todos maníacos por limpeza.

Até parece que o passa tempo predileto dos judeus, naquela época, era descobrir a sujeira alheia, a imundície uns dos outros. Chego a acreditar que vem daí a necessidade, em algumas pessoas, de dizer para quem visita a sua casa: "não repara não, viu?", ou seja, assim como possuem o hábito de tentar encontrar sujeira ou algo errado na casa do outros, projetam a mesma atitude em quem as visitam.

Quaisquer que sejam as outras razões envolvidas - a preocupação com a higiene, uma delas - um sentido não menos importante desses ensinamentos era a necessidade psicológica de tirar a própria sujeira de dentro e colocá-la do lado de fora, em outra pessoa, e depois separar-se dela.

A partir da sombra do Velho Testamento, fica mais interessante e esclarecedor olhar para Jesus e observar como Ele era avesso a essa religiosidade externa. Jesus se percebia limpo e, consequentemente, via pureza onde olhasse. É maravilhoso vê-Lo envolvendo-se, sem escrúpulos, com elementos identificados como proscritos pela lei judaica.

Como não se percebesse imundo ou culpado, não projetava culpa em outras pessoas, além de desafiar os seus ouvintes a identificar a culpa em si mesmo e curá-la onde ela está. Insistia na importância de limpar o interior do copo e não o exterior, que não devíamos nos preocupar com o arqueiro no olho do irmão, e sim com a trave que está em nosso olho; que não é o que entra que contamina, mas o que sai vindo do interior.

O sentido destes ensinamentos é exatamente o mesmo: a fonte da nossa imperfeição e dificuldades  não está fora - nem no espaço, nem no tempo - mas dentro de nós.

A projeção busca ver as causas fora de nós, procurando resolver o problema do lado de fora, de modo que nunca possamos perceber que o que precisa ser mudado encontra-se dentro da gente.

O padrão é sempre o mesmo: escolhemos alguém como "bode expiatório", transferimos para ele os defeitos, culpas e responsabilidade, e depois procuramos deixá-lo o mais afastado possível.

O problema desta atitude é que, como não admitimos a dificuldade em nós - que é na película do nosso filme que está a sujeira - sempre a veremos projetada em alguém.

É instrutivo observar que o ritual do Dia do Perdão não resolvia a situação, ainda que proporcionasse um aparente alivio momentâneo. Todo ano precisavam repeti-lo novamente pois, ou o bode enviado ao deserto retornava para ser novamente alvo da transferência ou voltava a necessidade de procurar por mais um "bode".

A transferência possui efeito bumerangue. Arremessar uma responsabilidade não nos deixa livre dela.

Paro por aqui, até porque, dependendo de quem ler o que escrevi, pode "dar um bode danado" e, no que me diz respeito, após espiar melhor o assunto, declaro todo bode expiado de toda a culpa.

 
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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
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