O meu casamento acabou: e agora?
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Autor Nokomando - desenvolvimento sistêmico
Assunto PsicologiaAtualizado em 04/02/2011 10:40:56
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Bem... não vou escrever um texto do tipo "10 dicas para uma separação feliz"... porque seria, em primeiro lugar, uma enganação. Não existe separação feliz. Em segundo lugar, porque cada caso é um caso... Ainda não conheci uma separação como a minha, onde não houve traição, não houve sérios problemas financeiros, não houve brigas homéricas... inclusive, continuo a manter a amizade, o respeito e até o trabalho conjunto com a ex.
Foram 15 anos. Dois filhos. Muitas conquistas. Muitas mudanças. Aprendizado infinito. Compramos casas. Descompramos. Criamos empresa. Descriamos. Caminhei pela senda do meu desenvolvimento espiritual... e aí acho que foi o x da questão. Sempre fui muito ligado à espiritualidade. De uma forma mais racional, mas um interesse enorme pelo crescimento da alma. E na minha concepção, o desenvolvimento espiritual incluía a formação de uma família feliz. Uma família feliz, que eu não tive. Aí a coisa pegou. Eu não sabia, mas estava misturando um desejo profundo da alma, que é perceber a realidade de ser e estar uno a Deus, com uma dor profunda da criança emocionalmente ferida, que desejava criar uma família que eu não tive.
Sim, nasci sem conviver com meu pai. Ele já estava com outra. E minha mãe me deixou aos 4 ou 5 anos. Isso, lógico, sem contar com suas inúmeras ausências e descaso, nos primeiros anos de vida. Eu e meu irmão mais velho fomos criados pelos avós paternos. Ele, esquizofrênico. E eu me achava normal. Minha avó era neurótica, meu avô, omisso e subjugado. Mas somente hoje percebo que, em proporções diferentes, eu era também doente mental. Sim, doente, pois durante 40 anos da minha vida, vivi com a mente emocional presa a este passado. E por isso tentei desesperadamente criar a família feliz. Mas como criar uma família feliz, se eu não estava emocionalmente ligado ao casamento? Eu não era o marido, mas, sim, uma representação do que deveria ser o marido ideal, que eu nem sabia o que era. Também não era pai, mas uma representação do que seria o pai perfeito que eu não tive. Vivendo os fantasmas do passado, nunca me permiti ser eu. Fazia tudo para que a família estivesse unida... sacrifiquei-me o tempo todo para que a esposa estivesse feliz - e ela nunca estava... e assim não destruísse um sonho que, no fundo, era o meu maior pesadelo: uma família unida. Na verdade, havia uma criança lá no fundo, dentro de mim, dizendo: não me abandone novamente, papai. Não me deixe mamãe. Proteja-me papai.
Hoje, trabalhando com constelação familiar, descobri que eu - ou esta criança interna, estava negando o passado, a família que eu tive, negando meu pai e minha mãe. Estava, de certa maneira, dizendo: não aceito que foi assim! Vou mostrar como é que se faz! Vamos pensar racionalmente: negar uma coisa que foi, que aconteceu, e ainda por cima, criar em cima disso um sonho, não tem como dar certo, né? Em constelação, sabemos que ao negar o pai e a mãe, negamos todas nossas raízes, e aí perdemos a força para a vida. Entendi, a duras custas e cabeçadas na parede, que a vida não se faz nem com negações, nem com sonhos. A vida se faz vivendo aquilo que é, aqui e agora. Se é pão, é pão. Se é pedra, é pedra. Não adianta querer mudar aquilo que é. E isso também é desenvolvimento espiritual. Ao negar aquilo que o Universo me proporcionou como família, estava negando Deus. Ao negar os fatos da infância, alguns realmente muito dolorosos, estava negando a vida.
Ao perceber isso, algo em mim iniciou um movimento de resgate. Resgate de mim mesmo. Viver a minha própria vida. Apesar de todas as circunstâncias da vida, sou uma pessoa abençoada. Abençoado, inclusive, por ter encontrado uma mulher que também está em seu caminho espiritual, e possui qualidades incríveis, que muito me auxilia. Abençoado porque finalmente posso dizer: estou me desprendendo da necessidade de me pendurar emocionalmente em alguém. Não posso conceber uma relação onde um está pendurado no outro, e se o outro se ausenta, existe um sofrimento intenso. Isso não é amor, mas uma doença chamada co-dependência.
Neste momento, tenho a possibilidade de realmente estar presente nas minhas relações, sejam familiares, sejam profissionais. Estar íntegro e disponível aos meus clientes, ao meu trabalho, e a mim mesmo. Sem desviar energia para ficar ruminando o passado, e nem desviar energia para criar fantasias sobre o futuro. Tudo isso é um processo. Lógico que tem horas que estou mais íntegro, e outras que estou totalmente fora do eixo. O negócio é respeitar o processo, os altos e baixos... porque sinto, claramente, que o equilíbrio lentamente vai se instalando, à medida em que permito que as coisas sejam como elas são. O equilíbrio surge como uma graça, e não como uma imposição mental. Incluindo até meus altos e baixos, permito que eu seja como sou. Com todas as imperfeições. Todas. Com todo o passado. E também com a luz e o brilho que Deus me deu, que no fundo, é a minha única realidade.
Alex Possato é facilitador sistêmico, consultor e diretor do Nokomando - Desenvolvimento pessoal e espiritual
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Texto revisado
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