Os danos da autoafirmação II
Atualizado dia 4/21/2013 5:33:42 PM em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Como pano de fundo da autoafirmação existe uma forte insegurança pessoal. Qualquer situação que aparente ameaçar a "estabilidade" existente será fortemente rebatida.
O casal trabalha. Vai levando uma vida como a grande maioria, com esforços e lutas. Em determinado momento, ela manifesta sua vontade de fazer algo que a habilite a uma atividade melhor, com maiores rendimentos. Arma-se a confusão. Ele não aceita de jeito nenhum. As argumentações do marido para que ela não execute seu intento são a falta de tempo para se dedicar aos afazeres domésticos e a falta de acompanhamento nas tarefas escolares dos filhos, sem contar que sua ausência poderá gerar custos com uma ajudante para a casa e um professor particular para os filhos. O marido começa, então, a alimentar uma série de "alucinações". Ela está inventando pretextos para ficar sozinha, longe da família, sair com as novas amigas, ou até pressuposições mais sérias do tipo "está querendo se comportar como solteira etc". Baseado nessas "alucinações", age discutindo e negando qualquer possibilidade de se conversar e haver um entendimento a respeito do assunto.
Quando os parceiros se permitem uma análise mais criteriosa sobre o porquê de estarem tão relutantes em aceitar que suas companheiras estudem, abrindo, assim, novos horizontes para elas e mesmo para a família, acabam se deparando, inevitavelmente, com a insegurança pessoal. O preconceito de que o homem deve ganhar mais do que a mulher existe, sim, ainda hoje, e de maneira muito mais forte e freqüente do que se possa imaginar. A mulher ter uma posição profissional superior à do marido é outra ameaça ao machismo. Enfim, prevalece a cultura do homem como dominante e da mulher como complemento, mas nunca como igual ou mesmo à frente (não estou dizendo superior!) de seu parceiro.
Para aqueles que não acreditam que isso ainda existe, fiquem sabendo que um grande percentual de ocorrência da impotência sexual temporária masculina encontra-se no fato de a parceira mostrar-se muito livre e avançada para a prática do ato. Isso assusta os homens.
Da mulher para com o homem também ocorre. A esposa "força" o marido a não aceitar uma promoção, pois ele terá que viajar, ficar mais tempo fora de casa, o que lhe proporcionará contato com mais pessoas, maiores oportunidades de conhecer outras mulheres e assim por diante. A falta de segurança instiga as pessoas ao "deixar tudo como está.". "Para quê inventar moda?"
No trabalho, o subordinado apresenta uma ideia que é imediatamente recusada e, ainda, ridicularizada. Grande parte das vezes, o superior imediato que identificou a grandeza da ideia sente-se ameaçado: "Se fizer o que ele sugeriu, vou perder minha posição para ele". Atenção: na maioria das vezes, isso não aparece claramente para o opositor. Mas quando refletido sobre sua recusa e sobre a ideia, identifica o verdadeiro motivo da rejeição.
Em todos os casos há uma atuação egoísta e, na maioria das vezes, maldosa, mesmo que não percebida conscientemente por quem a pratica. Se o casal tem uma melhora financeira, independente de qual dos dois a proporcionou, a família só tem a se beneficiar. Se o subordinado melhorar o processo ou fluxo de trabalho, todos ganham. Que bom ter na equipe pessoas inteligentes, interessadas e eficazes!
O título deste artigo poderia ser também "Os danos da competitividade". Reparem que em todas as situações há a competição. Pouco se tem falado dos verdadeiros motivos que estão impulsionando as empresas bem sucedidas, os casais que se fortalecem: A cumplicidade, o companheirismo, a cooperação. Por mais que se relute, por mais que se apresentem modelos de disputas acirradas com "grandes premiações" para o vencedor, só há vencedor quando, no contexto grupal, a palavra for usada no plural: VENCEDORES.
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