Perdoar mamãe e papai, por quê?



Autor Alex Possato
Assunto PsicologiaAtualizado em 9/5/2012 3:41:59 PM
Uma das coisas que me espantou, no início do meu contato com a constelação familiar sistêmica, é a inexistência da palavra perdão no trabalho. Bert Hellinger deixa bem claro - a frase é "sinto muito". Ele explica que, quando pedimos perdão ou desculpas, acabamos jogando para o outro a responsabilidade de nos perdoar ou desculpar. Logo, ao invés da minha própria consciência e aceitação de que tudo o que ocorreu era o necessário para o meu crescimento e aprendizagem, acabo dizendo, ao exigir perdão, que o outro também tem uma parcela de responsabilidade. Estamos falando de constelação familiar sistêmica, e não de relações humanas comuns, certo? Na constelação, olhamos sob um contexto mais amplo, onde nossa vida e todas as dores e alegrias que percebemos é somente um pequeno detalhe, dentro do contexto do sistema familiar. O nosso sistema familiar, que é um grande inconsciente coletivo, às vezes necessita expiar uma dor, lembrar alguém que foi excluído ou esquecido, trazer fatos escondidos à tona... e nós colocamos nossa própria vida a disposição de servir ao nosso sistema, e trazer estas exclusões à luz. Isso quer dizer que, muitas vezes, sofremos nas mãos dos nossos pais ou de um destino difícil, para que algo maior possa ser curado. E quando isso é visto, incluído, o nosso próprio sofrimento se transforma em redenção. Nos libertamos espantosamente da dor, do sofrimento, do sentimento de culpa e cobrança, e percebemos o profundo amor existente no sistema familiar. Nos permitimos ser fluxo, canal deste amor, ao incluir com a alma aquilo que incomoda... Incluir, terapeuticamente falando, não é simplesmente dizer com a mente "sim"... É necessário vivenciar o incômodo, permitir-se sentir o medo, a angústia, a dor, o desprezo, a sensação de rejeição, a raiva, ou seja lá o que for que está "pegando" em si, compreender durante o processo da constelação as relações inconscientes e se libertar deste peso. Devolver ao "sistema" o que pertence ao "sistema". Para então manifestar somente o amor e a força.

Mas como disse, olhando pelos olhos da constelação familiar, a minha vida é somente um detalhe, dentro do sistema todo. O que o meu ego dizia que foi "contra mim", na verdade, era uma forma que o universo colocou para que dores profundas do sistema fossem curadas através da minha própria vivência. Gostaria que cada pessoa que se identifica com o que eu digo, que possui uma história familiar difícil, como a que eu tive, entendesse que, na realidade, a sua alma se dispôs a auxiliar seu sistema familiar. Por profundo amor que você sente ao próprio sistema. Se dispôs a se sacrificar em nome de algo ou alguém do passado que foi esquecido, e que merece ser incluído. Alguém ou algo que merece ter o próprio lugar. Para que a paz se restabeleça. E você possa vivenciar o amor profundo através da compreensão intensa do que sua vida representou - todas as dores e mágoas do passado, subitamente, se transformam em bênçãos. E vivenciar o profundo amor que seu pai e sua mãe proporcionaram a você, mesmo de forma tortuosa. Uma gratidão indescritível surge quando você começa a acessar esta realidade. Talvez eles, papai e mamãe, nunca entendam isso. Talvez ninguém entenda isso. Somente você entenderá. E isso basta.
Alex Possato é terapeuta sistêmico e consultor de comunicação e realiza a palestra e vivência sistêmica "O poder da palavra" e o encontro de constelação familiar sistêmica mensal, em São Paulo









Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |