Por que adotar um filho (a)?
Atualizado dia 10/3/2014 3:03:36 PM em Psicologiapor Anna Karina de Pontes Leite
NEWMAN, J. O filme: Foster (O Menino de Ouro). Reino Unido/ Inglaterra, 2011. Comédia dramática, 90 min. SC Films.
LEVINZON,G.K. (2006) A adoção na clínica psicanalítica: o trabalho com os pais adotivos. Mudanças - Psicologia da saúde, 14(1), jan-jun 2006, 24- 31 p. São Paulo
Este trabalho se inicia a partir da observação da demanda de adoção encontrada no filme proposto que traz a temática da busca pela adoção de uma criança por um casal que, após sofrer a morte trágica do único filho de 4 anos por atropelamento, desestrutura-se, tanto na vida conjugal, como também individualmente. São tentativas frustradas de uma nova gestação até que decidem se submeter à seleção de casais para adoção. A criança chega de surpresa à casa da família, confirmando estar legalmente assegurada. Daí, então, ocorre um processo de restabelecimento de vínculos entre o casal, compartilhando e enfrentando a dor da perda do filho, resgatando outros sentidos para estarem juntos.
Os filhos, comumente, representam a perpetuação do sentimento que une um casal, a possibilidade de “eternidade” dos pais através das gerações futuras. Levinzon (2006) cita Freud (1914) quando aborda que a psicanálise traz o sentido narcísico dos pais em relação a seus filhos, porém, na ausência deste significado, outras direções precisam ser apontadas, outro caminho estimulado. Pois a espera de um filho envolve um novo olhar para si mesmo e conseqüentemente para o mundo. Quando há uma perda precoce dessa construção, isso envolverá sem dúvida a deteriorização de sonhos, expectativas frustradas, desesperança e sofrimento.
O texto nos oferece um caso clínico visto pela perspectiva psicanalítica e com a funcionalidade psicológica voltada para atendimento e acompanhamento dos pais após a adoção da criança. Ressalta a importância do psicólogo na área jurídica como aquele que é capaz de perceber os fatores circunstanciais que envolvem o desejo de se adotar, as implicações subjetivas, porém, não menos importantes que se acercam do estabelecimento dos vínculos afetivos entre os pais e a criança. Ele é o profissional com a escuta clínica necessária para promover reflexões sobre sentimentos, pensamentos, comportamentos advindos da motivação que levou estes sujeitos a optarem pela adoção.
Sendo assim, a autora chama a atenção que a infertilidade é um dos principais motivos que provocam a busca dos meios adotivos. Levinzon (2006) apud Diniz (1993) quando diz: “a esterilidade sem remédio é acompanhada de alterações do sentimento de identidade e demanda a renúncia definitiva de um projeto pessoal de vida e, portanto, do Ideal do Ego”. Nesta circunstância, sentimentos de frustração, raiva e luto surgem, até que gradativamente possa-se alcançar a superação e conseqüente aceitação de si ou do parceiro “responsável” pelo limite da maternidade ou paternidade natural. Diante de um processo adotivo, o psicólogo e toda a equipe multidisciplinar envolvida devem estar atentos à elaboração desses conteúdos. Por isso, também, a autora sugere o atendimento profilático, ou seja, aquele que vai prevenir futuros arrependimentos ou o desencadear de conflitos familiares que envolvam o desenvolvimento da criança e os laços afetivos decorrentes de escolhas precipitadas e mal contextualizadas.
Tomando o caso clínico, narrado como exemplo, pode-se observar a fragilidade emocional do casal desde a transferência da responsabilidade (“culpa”) para a figura feminina em relação à impossibilidade de gestar seus filhos, mesmo quando a esterilidade provém do marido e, por questões de preconceito e insegurança resolvem omitir, até a dificuldade de dizer pra criança sobre sua adoção e a verdade sobre sua família biológica. São analisados aspectos relacionados à exigência de um comportamento ideal pela criança, à tentativa de evitar o reconhecimento de sua individualidade e heranças genéticas, medo de perder seu amor e interesse e com isso omitir sua história de nascimento.
Vimos, até aqui que todos estes pontos ressaltados e outros ainda que surjam durante o desenrolar de um acompanhamento psicoterapêutico, formam subsídios de real importância para que seja indispensável o trabalho do profissional da psicologia também neste contexto. Este poderá, em sua competência e saber consciente, servir de instrumento de aproximações entre famílias que buscam ser felizes e que muitas vezes não encontram o caminho.
Na contemporaneidade, houve grandes modificações nas estruturas familiares e parentais. A adoção em diversos aspectos vem se consolidando como alternativa de vários casais e até de pessoas que, mesmo sem o casamento constituído, optam por este modo de atender à necessidade pessoal de realização. Poucos atendem puramente a ação de altruísmo social, na grande maioria, a adoção envolve a perspectiva pessoal e uma demanda de apresentar à sociedade o modelo normativo de núcleo familiar, mesmo que implique agregar uma criança não gerada biologicamente dentro da família. E assim, faz parte também do papel do psicólogo jurídico estar contribuindo para que crianças sob casos de adoção recebam amor, compreensão e um lar com uma base mais verdadeira.
Em outro momento, poderemos ampliar a reflexão do tema que favoreça a quebra de tabus, entendendo que não só crianças, mas também adolescentes que não tiveram a oportunidade de crescer dentro de um ambiente familiar adequado, muitas vezes suscetíveis à deliquência e segregação, necessitam de uma nova chance à vida digna, recebendo carinho e respeito para contribuir com seu desenvolvimento e, consequentemente, transformar o nosso meio social em um lugar melhor pra se viver.
Texto revisado
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