Prazer X Bem estar
Autor Paulo Tavares de Souza
Assunto PsicologiaAtualizado em 11/6/2015 3:36:15 PM
O prazer não tem rigorosamente nada a ver com o bem estar, estão em esferas diametralmente opostas. O prazer é uma sensação, enquanto o bem estar é um sentimento. A sensação vem do corpo e o sentimento vem da consciência. Toda sensação de prazer acontece a partir da dor, pois precisa ser, de alguma forma, captada pelos sentidos, pois para sentir algo precisamos ser tocados de alguma forma. O sentimento de bem estar é a ausência da dor, só se manifesta quando a mente está pacificada. É um erro usarmos a expressão “sensação de bem estar”, precisamos nos entender com as palavras.
Fumar te dá prazer, não fumar te traz o bem estar. O barulho te dá prazer, o silêncio te traz o bem estar.
São dois caminhos distintos que se bifurcam na estrada da vida. Em algum momento da existência, o indivíduo será convidado a fazer uma escolha, ou segue o caminho do prazer ou o caminho do bem estar. Um é feito de dor, outro de amor. Entendem agora o que é o caminho da dor e o caminho do amor?
O amor é um sentimento, o mais elevado deles, enquanto a prazer provoca desejos, pois o seu combustível são as emoções oriundas de registros grosseiros. As paixões provocam prazer e dor, geram angústias e ansiedades, enquanto o amor apenas bem estar.
Não precisamos aprender a amar, muito menos desenvolver alguma capacidade especial de amar, o amor manifesta-se naturalmente como realidade em nossas vidas no momento que removermos os obstáculos que impedem a sua manifestação. Enquanto estivermos identificados com a realidade do corpo, sofrendo a influência grosseira dos sentidos, presos aos vícios do organismo, a única possibilidade de nos mantermos, mais ou menos equilibrados, é buscando, com toda a ânsia, as sensações mais prazerosas e fugir daquelas que são desagradáveis.
No momento em que resolvermos fazer o caminho de volta, atravessando o deserto árido da renúncia e superando os desejos que nos escravizam, lentamente, perceberemos o amor manifestar-se.
Ele sempre esteve ali, na essência do Ser. Se Deus é amor como explica o Apóstolo João, nós também somos amor, pois o nosso DNA é divino.
Quando a manga estiver madura, fatalmente cairá do pé, nada pode acontecer antes do tempo previsto. Para muitos, entrar pela porta estreita, renunciando os apelos sedutores da porta larga, ainda é algo impossível, pois sequer podemos vê-la, mas, com o recrudescimento da dor que trabalha a favor da expansão da consciência, todos irão despertar e percebê-la, pois essa porta sempre esteve ali, apenas não podíamos enxergá-la em função de estarmos cegos, envolvidos por um véu de ilusões criado por nossos constructos mentais.
Joana Di Angelis nos explica que existem três estágios que predominam na condição humana: o estágio das sensações, o estágio das emoções e o estágio dos sentimentos.
Ainda estamos presos ao estágio das emoções, sofrendo na escravidão dos sentidos e influenciados por instintos primitivos. No momento em que conseguirmos subir esse degrau, estaremos nos orientando por sentimentos. O amor é um sentimento e o mais elevado deles. Não importa o caminho ou a doutrina adotados, quaisquer que sejam os métodos, o desapego e a renúncia terão que ser empregados.
Amar é um verbo intransitivo mesmo, como diria Mario de Andrade. Quem ama não escolhe um objeto para amar, o amor, simplesmente é.
Até a nossa gramática precisa ser revista.
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