Problemas financeiros e constelação
Atualizado dia 3/10/2008 4:30:16 PM em Psicologiapor Alex Possato
Mas, logicamente, no nosso passado familiar nem tudo é assim, tão equilibrado. A vida não foi feita para haver um equilíbrio estático, tudo estando em eterna harmonia. Ao contrário, é sempre um jogo de confronto e aceitação, exigência e entrega, dar e receber, e a harmonia ocorre na aceitação desse jogo de opostos. Assim, quando um homem deixa de produzir em casa, deixa de trazer o sustento e o trabalho, acaba provocando a necessidade da mulher se desdobrar para suprir esta parte material. Ambos, ao invés de se adaptar à situação, não aceitam, invertem os papéis e cobram, ao mesmo tempo, um do outro. Percebe-se assim um desequilíbrio sistêmico.
Por que será que acontece do homem deixar de trabalhar ou não trazer o “pão de cada dia” ao lar? Por que será que, por vezes “trabalhando como um cão”, não consegue guardar nada e está sempre em situação difícil? Será que ele é sem-vergonha? Será que ele é vagabundo? É incompetente? Não, nada disso. Simplesmente ele está preso em emaranhamentos sistêmicos do seu passado familiar, o seu lado emocional fica abalado, ele fica muito mais preocupado com suas emoções (geralmente ligadas à depressão, incapacidade, dúvidas a respeito de si e do futuro e falta de vontade) e não consegue se focar no lado profissional. Em qualquer que seja a situação, é bom entender que um homem ou mulher não deixa de fazer sua parte, seja no trabalho, no cuidado com os filhos, na troca de amor, cumplicidade e sexo com o parceiro, por ser “mal” ou “sem-vergonha” ou “insensível” ou qualquer outro julgamento que a sociedade possa fazer. Sistemicamente não existem homens maus ou bons: existem sistemas ajustados ou desajustados. Não dá para querer “consertar” alguém. Somente é possível olhar para o sistema familiar, observar suas próprias emoções, seus medos e alegrias, anseios e decepções, aceitar tudo, sem culpar a ninguém e, então, a harmonia se restabelece.
No trabalho sistêmico foi observado que os problemas financeiros estão relacionados geralmente com o desequilíbrio sistêmico no lado masculino. Isso quer dizer que muitos homens, às vezes em diversas gerações consecutivas, estiveram mais preocupados e ligados em suas dores emocionais. Alguém que se prende demais na dor emocional, dificilmente consegue render bem do lado profissional. É como se uma força, acima da vontade do homem, o levasse a estar sempre focado na insatisfação e no vazio interior, ao invés do foco natural no crescimento e desenvolvimento econômico.
E como resolver isso? Esquecer a dor emocional não é possível, afinal, ela é interior e incomoda. Focar tudo, com toda a energia no crescimento profissional pode ajudar, mas geralmente não é suficiente, porque as emoções são sempre mais fortes que o pensamento. Quando alguém pensa em crescimento, mas o sentimento é de que “não é bom o suficiente”, o pensamento sai perdendo...
Neste momento, quando o homem, ou o casal, resolve de verdade melhorar financeiramente, é importante parar e se olhar. Olhar para as suas próprias emoções, sem julgar, sem condenar, sem culpar x, y ou z. “Ah, sou assim por causa da minha mãe!”. “Meu pai nunca fez nada, como eu posso dar certo?” “O governo não ajuda, neste país só quem nasce bacana é que tem chances!”. “Não tive oportunidades, agora tenho que viver remediado...”. “Minha mulher não ajuda nem apóia!”. Qualquer desses argumentos não resolve o problema e nem chega perto do “x” da questão.
O “x” da questão financeira é você se conectar à emoção interior que lhe permita ver a sua própria capacidade, descobrir e deixar fluir seus talentos, incentivar a atitude de desafio e perseverança, e ao mesmo tempo, afastar-se da emoção interior que prende a sentimentos de inferioridade, baixa auto-estima, medo, insegurança. Para isso é necessário reconhecer que ambos os sentimentos existem. É necessário olhar para o passado, para papai e mamãe, para a infância, e aceitar tudo exatamente como foi. Se foi triste e sofrido, tudo bem... foi triste e sofrido... Se foi calmo e pouco inspirador, foi isso mesmo. Se teve boa ou má educação, foi isso mesmo... Tudo o que vivemos é decorrência de um passado que não podemos enxergar, nem imaginar... mas que não dá para mudar. A mudança só pode ser feita aqui e agora, quando nos conscientizamos que tudo foi como tinha que ser, e agora escolhemos fazer o melhor da nossa vida, em honra e respeito aos nossos pais, antepassados e até ao nosso país de origem e os países de origem dos nossos antepassados. Não é raro fazermos constelações onde nossos avós ou bisavós saíram de outros países com muitas mágoas, por terem abandonado a terra natalícia, e essa mágoa perpetuou-se pelos descendentes, impedindo o progresso financeiro da família. Aceitar o passado familiar, incluindo a reverência pela terra dos ancestrais, faz uma grande diferença na vida profissional dos descendentes.
Na verdade, a constelação sistêmica mostra, sem sombra de dúvidas, que o homem não é um indivíduo, mas que ele é apenas uma célula de um grande corpo, que se chama sistema familiar e enquanto não honrar e respeitar este corpo, não consegue harmonizar-se e sente-se sempre “um estranho no ninho”. Mas depois que ele se percebe como parte de um “todo”, toda a vida se suaviza e os caminhos se abrem, como que por encanto!
Alex Possato é professor de constelação familiar sistêmica e terapeuta sistêmico. Clique aqui e saiba mais
Texto revisado por Cris
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |