Procrastinar, o hábito de deixar para depois
Atualizado dia 25/08/2008 17:02:25 em Psicologiapor Celso A. Cavalheiro
Em primeiro lugar, pensar que precisa muito fazer alguma coisa é, por si só, o maior motivo para a procrastinação. Quando você diz que tem que fazer alguma coisa, quer dizer, na verdade, que está sendo forçado a fazer isso e, automaticamente, começa a se sentir revoltado e com raiva. Nesse momento a procrastinação se instala como um mecanismo de defesa para livrá-lo desse sofrimento. Se, além disso, aquilo que você está postergando tem um prazo para ser concluído, quando essa data se aproximar, a sensação de sofrimento associada à tarefa se tornará extrema se você não a iniciar imediatamente.
A solução para esse bloqueio mental é perceber que você não tem que fazer nada que você não queira fazer. Embora isso possa trazer sérias conseqüências é sempre você quem decide se vai fazer ou não. Ninguém pode dizer a você como gerenciar seus negócios. Todas as decisões que tomou até agora foi o que fez você chegar onde está. Se você não está conforme, no entanto, com o rumo que sua vida tomou, cabe só a você mudar esse resultado. Mudar o rumo é sempre mudar o destino.
Lembre-se que nem tudo você protela em sua vida. Há coisas que você programa e faz sem sofrimento ou delongas: uma partida de futebol com os amigos, uma tarde de chá, uma visita ao shopping, etc. Em cada um desses casos você tem a liberdade de escolha.
Portanto, se você está adiando aquele projeto que diz que tem que fazer ainda este ano, lembre-se que está fazendo isso de livre e espontânea vontade. Não esqueça: é sempre bem menos provável que adie coisas que livremente tenha escolhido fazer.
Em segundo lugar, pensar em uma tarefa como sendo um todo imenso a ser completado na íntegra, de uma só vez, certamente será um grande motivo de procrastinação. Sem estabelecer etapas para o desenvolvimento e posterior conclusão da tarefa, você estará criando uma sensação interna de fragilidade e impotência e essa sensação fará você adiar ainda mais a tarefa.
A solução é achar um começo e não ficar sofrendo mentalmente imaginando quão grande e penosa ela é. Não pense “como vou conseguir fazer tudo isso?” e, sim, “Que parte eu vou fazer hoje?”. Pouco a pouco, uma parte de cada vez vai levá-lo sem estresse à conclusão do todo. Concentre-se no que você pode fazer nesse momento, mesmo que pareça insignificante. Em algum momento terá completado o seu projeto por inteiro.
O terceiro erro que leva à procrastinação é a mania de perfeição. Pensar que você pode fazer uma tarefa com perfeição na primeira tentativa, provavelmente não vai deixá-lo começar nunca. Acreditar que você deve fazer algo com perfeição é o caminho mais curto ao estresse, e você vai acabar associando-o mais tarde com sua tarefa ou projeto e isso irá condicioná-lo a evitá-la. Para fugir dessa armadilha, você irá deixar a tarefa para o último minuto possível. Aí, então, não haverá tempo suficiente para cumprir a tarefa com perfeição e seu ego vai se sentir compensado quando disser a si mesmo que seu trabalho só não está perfeito porque você não teve tempo suficiente. Mas se não tivesse prazo para finalizar a tarefa, o perfeccionismo o faria postergá-la indefinidamente.
A solução para o perfeccionismo é dar a você mesmo o direito de ser humano. Acredite que um trabalho razoável feito hoje é bem melhor que um trabalho perfeito postergado indefinidamente.
O quarto bloqueio mental é o de associar algum tipo de privação à tarefa. Você acredita que abraçar um projeto irá de alguma forma privá-lo dos prazeres da vida. Que você vai ter que parar a vida para completar tal projeto e não mais terá tempo para lazer e diversão, não terá tempo para os amigos ou a família. Na verdade, isso é o que muita gente faz quando precisa cumprir alguma tarefa. Imaginar esse quadro de longas horas de reclusão em uma sala em completa solidão é uma forma excelente de se garantir a procrastinação.
A solução é fazer exatamente o oposto: garantir a diversão em sua vida primeiro e depois agendar o trabalho em função disso. Apesar de parecer contraproducente, essa psicologia reversa funciona e muito bem. Decida com antecedência o tempo que você vai gastar com a família, entretenimento, atividades sociais, etc. Encaixe, então, o número de horas que sobraram para você trabalhar durante a semana. Os melhores profissionais, em diversas áreas de atividade, tendem sempre a ter mais períodos de folga do que horas de trabalho. Não trate seu trabalho como um monstro capaz de engolir a sua felicidade e sua vida por completo. Com o tempo você vai perceber que cuidando mais de você estará muito mais focado e será muito mais produtivo durante o tempo em que estiver trabalhando. Se você fosse proibido de trabalhar mais de 20 horas por semana, todo processo se inverteria e você não mais se sentiria privado de seu lazer; ao contrário, iria se sentir privado de seu trabalho. Você não mais diria: “eu preciso me divertir um pouco”, e, sim, “eu preciso trabalhar um pouco”. Dessa forma, certamente seu desempenho no trabalho seria algo impressionante e toda aquela procrastinação desapareceria como por encanto.
Se você já tem tarefas que não conseguiu terminar ainda, talvez a melhor solução seja se programar para fazer um pouco de cada vez: primeiro, escolha uma pequena fatia dessa tarefa onde você vai gastar, no máximo, 30 minutos do seu tempo. Depois, pense numa recompensa que irá oferecer a si mesmo por esse feito. Não precisa ser nada grandioso; qualquer coisa, como assistir TV, dar uma volta com os amigos, tomar uma cerveja, qualquer coisa que lhe dê prazer. Não há nada que a gente não consiga suportar só por 30 minutos se soubermos que alguma coisa boa nos espera depois. Você vai descobrir uma coisa muito interessante: não raramente, vai trabalhar mais do que os 30 minutos programados. Irá se envolver de tal forma na tarefa que quando perceber já terá trabalhado bem mais tempo.
Quando você resolver parar de trabalhar não deixe de se auto-recompensar e, então, agende os próximos 30 minutos de trabalho. Isso irá ajudar você a associar cada vez mais prazer à tarefa; dessa forma, vai continuar tendo vontade de voltar a ela e, finalmente, acabará por terminá-la.
A procrastinação é o resultado da sensação de impotência diante da tarefa a ser cumprida. O monstro que nos assusta é só uma criança mal-amada que precisa de carinho, aconchego e da nossa sabedoria e coragem para lidar com ela. Em pouco tempo descobriremos que ela é como uma estrada longa que percorreremos quase sem perceber, assim que dermos o primeiro passo e soubermos que lá no fim uma bela recompensa nos espera.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 301
Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |