Menu

Profissão Psicóloga

Atualizado dia 10/7/2014 2:55:15 PM em Psicologia
por Renata Kindle


Facebook   E-mail   Whatsapp

Quando recebemos uma pessoa nova no consultório, não sabemos nada ou quase nada a seu respeito. Sabemos seu nome, quem o indicou, como nos encontrou e é só. Abrimos a nossa porta e nos apresentamos cordialmente. Um aperto de mão, um cumprimento e o convite para entrar.

Alguns chegam cheios de estórias e casos. Tomam conta do espaço em poucos minutos. Estão rindo, estão aparentemente felizes, até que o sorriso vai diminuindo o brilho, os olhos fitam o chão por minutos que parecem horas, o silêncio vai se tornando mais frequente que as palavras. Outros chegam sufocados, quase sem conseguir falar... as lágrimas e soluços fazem esse papel. Estão confusos, tristes, perdidos, deprimidos...

Em ambos os casos, nosso papel é acolher. Acolhe-se a pessoa sem rotulá-la, sem dar a ela estigmas e crenças acerca de si mesmas. Acolhe-se a dor que se apresenta. Acolhe-se o momento daquela pessoa. Acolhe-se as palavras, as lágrimas, o silêncio. Acolher uma pessoa é não querer que ela seja como você, que não tenha a sua compreensão de mundo. Acolher uma pessoa é não julgá-la, não ter preconceitos, não querer se mostrar melhor que ela.

Acolher uma pessoa em sua totalidade significa abrir seu coração para recebê-la como pessoa. E o que é uma pessoa? Alguém, imagem e semelhança do Criador, com uma história, uma bagagem, um passado, um presente e a promessa do futuro. Alguém que tem valor, que tem princípios, ainda que estes sejam diferentes dos seus. Alguém que tem recursos internos capazes e disponíveis para atravessar quaisquer adversidades que se interponham, que se apresentem ao longo do caminho.

Acolher uma pessoa é dizer a ela, ainda que na ausência das palavras, que ela tem um lugar onde repousar sua dor, onde pode falar de si, um lugar reservado a ela. Acolher uma pessoa é aceitar suas dificuldades sem juízo de valor, é abrir seus braços para recebê-la, é estender-lhe as mãos para que ela dê início à sua caminhada em direção ao seu mundo interno. É incrivelmente paradoxal, mas a verdade é que quanto mais se caminha para dentro, mais livre você se torna.

É preciso ter coragem para trabalhar as dores da alma com empenho, encará-las de frente, compreendê-las, até o ponto em que elas se dissipem e se transformem criativamente em algo bom, em aprendizado, deixando de ser prisões da alma. As crises são oportunidades de crescimento e há incontáveis maneiras de se lidar com elas.

Um terapeuta, seja ele de que linha for, tem que ser uma ponte, um caminho, um mediador da nossa luta interna contra nossa sombra, contra nossos monstros, contra nossos apegos, auto-enganos, autossabotagens, mas um terapeuta não é santo milagreiro e, sim, alguém preparado e pronto para ouvir o compartilhar de outro alguém.

É um número sem fim de razões que levam uma pessoa a um consultório de psicólogo. Há os que romperam relações de amor, os que sofrem de uma doença terminal, os que não conseguem dar passos significativos em suas profissões. Há os que estão tão perdidos que nem sabem ao certo porque estão ali. Há os que foram encaminhados por seus psiquiatras, os que as escolas pedem que sejam orientados, aqueles que não param em nenhum emprego, em nenhuma relação. Há os usuários de drogas, os dependentes do álcool. Há filhos sofrendo por seus pais, há pais desesperados com seus filhos. Há empresários estressados à beira de um infarto, há a dona de casa apática, o neurótico vendedor da Bolsa, o gerente de banco preocupado com suas metas. Há outros psicólogos reciclando seus próprios processos, há os acadêmicos de psicologia buscando formarem-se bons profissionais... enfim, mas absolutamente todos são pessoas, todas as suas estórias são igualmente importantes e é preciso acolhe-las com amor, com a melhor parte de si, como costumo dizer. As técnicas são importantes e compõem a profissão, mas a técnica sem amor não conduz a nenhum resultado. Amor e técnica são inseparáveis na boa atuação do profissional.

Durante o processo, alguns avanços, outros retrocessos; uns passos em frente, outros pra trás; algumas vitórias, umas derrotas... tudo isso faz parte, compõe os novos capítulos da estória pessoal daquele que procura um terapeuta, um psicólogo. O auto-conhecimento é um processo quase tão singelo quanto o desabrochar de uma flor, a mais delicada delas. É um despertar, um acordar para si mesmo. Novas perspectivas, novos referenciais e pontos de vista, novas escolhas, novos horizontes.

"O momento de se iniciar uma vida autêntica e de se abandonar a traição e a alienação está sempre presente. Não importa o quão arraigada está uma pessoa no mundo da outra, o quanto ela racionaliza, analisa e intelectualiza; não importa o quanto está submersa nos padrões, valores e objetivos do sistema, ela ainda pode, no momento seguinte, decidir alterar todo o curso de sua vida. Ela ainda pode tornar-se aquilo que realmente é, criando sentidos e valores e desenvolvendo potencialidades coerentes com seu próprio eu. Ninguém pode lhe roubar isso. E, a ninguém em particular, pode-se predizer o que o indivíduo fará. Independente de seu passado, em qualquer situação, a pessoa pode escolher ativar as verdadeiras direções do seu eu. É verdade, para todo indivíduo, que ele pode, a qualquer momento, escolher tornar-se ele mesmo, que é a única maneira de se viver uma vida autêntica." (Clark Moustakas)

 

O cliente/paciente vai tirando etiquetas que os mantinham aprisionado nesta ou naquela estante, vai deixando de ser escravo de rótulos dos quais não precisa mais. Vai deixando de responder de lugares onde não são os seus, onde não se sente confortável. Ao longo do processo, o cliente/paciente despe-se das fantasias que lhe foram impostas ou das que precisou vestir para atuar no mundo. Ao longo do processo, a autenticidade e a coerência vão tomando forma, tamanho, peso e ganhando espaço.

Como psicóloga, sinto-me muito feliz quando vejo esse processo em marcha. Quando sinto que de alguma maneira a minha atuação foi ou tem sido importante para um cliente/paciente dar seus passos em direção a si mesmo e, consequentemente, a uma vida mais congruente. É indescritível o sabor da realização e a paz que experimento quando observo uma pessoa crescer em todos os sentidos dessa palavra. Crescer! É isso! Testemunhar essa transformação da pessoa nela mesma é o grande ganho de uma profissão que considero belíssima!

Texto revisado

Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 3


estamos online   Facebook   E-mail   Whatsapp

foto-autor
Conteúdo desenvolvido por: Renata Kindle   
Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Psicologia clicando aqui.
Deixe seus comentários:



Veja também
© Copyright - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução dos textos aqui contidos sem a prévia autorização dos autores.


Siga-nos:
                 




publicidade










Receba o SomosTodosUM
em primeira mão!
 
 
Ao se cadastrar, você receberá sempre em primeira mão, o mais variado conteúdo de Autoconhecimento, Astrologia, Numerologia, Horóscopo, e muito mais...


 


Siga-nos:
                 


© Copyright 2000-2024 SomosTodosUM - O SEU SITE DE AUTOCONHECIMENTO. Todos os direitos reservados. Política de Privacidade - Site Parceiro do UOL Universa