Quando a doença é sua proteção!
Atualizado dia 05/01/2014 10:13:37 em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Algumas pessoas, ao perceberem os sinais de problemas que, mesmo inconscientemente, captam, desenvolvem imediatamente uma série de sintomas que as tornam doentes. Vômitos, tonturas, alta ou baixa de pressão, tremores e suor frio, temores e incapacidade para permanecer em seus locais de trabalho, além de uma possibilidade enorme de outros sintomas, que assumem tal condição de veracidade ao ponto de acabar formando quadros patológicos sem nenhum fundamento, mas que, uma vez diagnosticados como doença, recebem um tratamento, normalmente medicamentoso.
Os sintomas não cedem. Aumentam ou se modificam, dando lugar a novas manifestações, que deixam os médicos ou terapeutas confusos, pois não há explicação científica que justifique tal quadro.
Pode parecer inacreditável, mas é surpreendente o número de casos em que a pessoa chega ao consultório em busca de ajuda, relata seus sintomas, fala de sua vida nos últimos tempos e, ao ouvir a verdade que ela tentava omitir de si mesma, que normalmente é o medo da perda de algo a que ela atribui um grande valor, tanto no campo emocional quanto no profissional, imediatamente se observa uma “enorme descarga emocional”.
O choro desencadeado ao falar sobre o assunto a faz se sentir mais leve, mais aliviada, pois o ponto do problema foi tocado. Tem-se a impressão de que, ao refletir sobre a situação, a pessoa começa a encontrar caminhos que antes pareciam instransponíveis. Em duas ou três sessões, a pessoa agradece muito e diz já estar melhor. Então, dá os motivos mais estapafúrdios e interrompe o tratamento.
O que aconteceu? Como pode ser que alguém, encontrando a solução que a liberta de “seus males”, interrompa um tratamento? Esse é o ponto. A “cura” não lhe fará bem. Seu mal não é o sintoma, mas sua fraca estrutura de personalidade para suportar as agruras (amarguras, dissabores, desgostos) da vida. Os sintomas são apenas sua proteção, seu instrumento de manipulação que lhe permite fugir da decisão de encarar os próprios problemas.
Não pensem que isso ocorre apenas com pessoas que, desde muito novas, mostram-se frágeis e suscetíveis aos acontecimentos. Ocorre também com pessoas que possuem uma vivência intensa e que a própria vida solicitou uma firmeza que muitos não possuem. Pessoas que sofreram fortes e constantes pressões ao longo da vida. Mas a possibilidade de ocorrência de um único e determinado fato temido por ela, pode desencadear então a manifestação de, agora sim, uma fragilidade em sua estrutura para lidar com o problema. Após o que a atormenta ser apontado e identificado, ela encontrará logo uma nova maneira de embasar seus sintomas, dizendo então aos que a cercam: “Pensei que fosse o que o doutor falou, mas estou lidando com isso e agora vejo que não é”.
Freud abandonou o uso da hipnose porque, através dela, descobria coisas de seu paciente que, quando reveladas, eram repudiadas pelo próprio paciente, que não aceitava de jeito nenhum. Então, preparar o paciente para receber “seu problema” tornou-se tão importante quanto descobri-lo. Muitas vezes, o ponto determinante está mais que visível, mas o que está camuflado é o despreparo da pessoa para, ao identificá-lo, poder suportar e trabalhá-lo.
Se as pessoas se permitissem olhar claramente todas as possibilidades, poderiam detectar melhor se vale a pena permanecerem doentes para esconderem de si mesmas suas fraquezas e seus temores. Algumas vivem toda a vida assim. Outras, quando o fato ocorre, tornam-se depressivas, desleixadas, “abandonando” a própria vida.
A maturidade emocional não possui correspondência com a idade cronológica. Em determinadas situações, o amadurecimento “travou” há anos e a pessoa age como se ainda fosse adolescente. Só ela mesma não percebe.
Texto revisado
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