Rejeição Parental *
Atualizado dia 11/27/2019 4:23:44 PM em Psicologiapor Willes S. Geaquinto
os pais possíveis...
Willes
A rejeição parental é outra ocorrência que considero como elemento de predisposição para a baixa autoestima, bem como, de outros desconfortos existenciais, já citados, como: medo, ansiedade, depressão etc. O adjetivo “parental” deve ser entendido, aqui, como referente a pais ou seus “substitutos”, ou seja, além dos pais, pessoas que, principalmente durante a infância e adolescência, ocupem o lugar deles, tanto nos cuidados, quanto na educação.
Nesse rol cabem, entre outros, os avôs, tios, padrinhos, babás, professores e, até mesmo, pessoas responsáveis pelo ensino religioso. Aliás, vale chamar a atenção dos pais para a escolha de babás ou empregadas, que venham a cuidar da criança, nos primeiros anos da infância, uma vez que, a depender do tempo que passam com a criança, podem vir a influir, cabalmente, em seu desenvolvimento psicoemocional. Na verdade, qualquer pessoa que venha a substituir os pais, nesse período que vai de zero a oito anos, aproximadamente, pode vir a influenciar a formação da personalidade da criança, de modo positivo ou negativo. Todo cuidado é pouco, inclusive com a televisão, comumente denominada de a “babá eletrônica”.
A princípio, a “rejeição parental” poderá ter sua origem no período gestacional, mas, ela só será sentida, em toda a sua extensão, após o nascimento, pois, a partir daí é que a criança irá vivenciá-la de modo objetivo e sofrer seus efeitos. Inicialmente, poderá sentir a rejeição por meio da interpretação subliminar de diversas ações dos pais ou substitutos ou, como descreve a Análise Transacional[1] , por meio de “mandatos verbais ou não verbais, que são interpretados pela criança como ordem de conduta”. Por exemplo: quando eles, pais ou substitutos, deixam a criança sozinha, constantemente – ou não atendem suas necessidades básicas, como alimentação e higiene etc.. –, ela poderá sentir e interpretar esse abandono como:
— Eles não gostam de mim, eles não me querem.
Quando a criança é ridicularizada ou desqualificada, quando exterioriza suas emoções:
— Eles não querem que eu sinta, eu não posso expressar minhas emoções.
Desse modo, o sentimento de não ser aceito ou de não poder expressar-se, emocionalmente, irá integrar a formação do seu roteiro ou argumento de vida, o que, conforme definição de Eric Berne, precursor da Análise Transacional, é “uma programação concebida na infância, baseada nas influências parentais, e logo esquecida ou reprimida, mas que continuará com seus efeitos a influenciar a vida da pessoa”.
Além do abandono, propriamente dito, muitas outras atitudes, não só dos pais, podem ser interpretadas pela criança como elemento de rejeição, seja no contexto da educação familiar, escolar, religiosa ou social. Entre estas ações, destaco, apenas, duas para tornar claro essa ocorrência e alertar para os danos que elas podem causar à formação da autoestima da criança:
a) falta de atenção – Crianças que, em sua infância, não obtém a atenção. Nos momentos que mais necessitam da presença dos pais, sentem-se rejeitadas ou desqualificadas, daí, o sentimento de que não são aceitas e nem são importantes para os pais. Em razão disso, estarão propensas a buscar a atenção que lhes falta por meio de atitudes, contraproducentes, de rebeldia, agressividade, ou, por exemplo, por feitos autodestrutivos, como, ferirem-se ou, até mesmo, simularem doenças. O que, feito frequentemente, poderá tornar-se um comportamento contumaz, com graves consequências na adolescência e na vida adulta, onde elas poderão, com facilidade, enveredar pelos descaminhos de outras condutas, inadequadas, dos vícios e da própria delinquência.
Nesse contexto, a título de exemplo, convém citar um hábito muito em voga nos dias de hoje, seja para remediar “a tal da falta de tempo”, usada pelos pais, como desculpa, para justificar a ausência na vida dos filhos, ou para “livrar-se deles”, mesmo. Principalmente a partir de famílias de classe média, instituiu-se o que, na falta de um nome mais adequado, chamo de “abandono doméstico”, onde os pais, para “desencargo de consciência”, destinam um quarto para o filho e, lá, instalam todo tipo de parafernália eletrônica, tais como, videogame, computador com acesso à internet, televisão etc. E o que acontece é que, mesmo em casa, ele passa mais tempo sozinho do que na companhia dos pais.
O quarto passa a ser o seu abrigo, seu isolamento e, dali, ele estabelece sua rede de contatos – via internet ou celular –, e os pais, na maioria das vezes, desconhecem seus amigos ou com quem ele se relaciona. Daí, a surpresa quando o descobrem praticando delitos na escola ou em outro local. O trágico e irresponsável nessa conduta é que, muitos pais, quando “livres” para se ensimesmarem frente à televisão ou outros afazeres e distrações, ainda se vangloriam deste feito. E quando se referem ao filho, em “abandono no quarto”, costumam dizer:
— Ele não nos incomoda. Nem parece que temos criança em casa!
b) comparação – Pais, familiares e professores*, às vezes acreditam que comparar uma criança a outra é uma forma de motivação. Ledo engano. Aquela que é comparada, negativamente, sente-se rejeitada “por não cumprir as expectativas que esperam dela” e, com base nessa frustração, igualmente, poderá desenvolver, entre outros sentimentos, o de inferioridade ou inadequação. E mais: com a finalidade de obter o afeto e a aceitação que necessita, poderá sentir-se na obrigação de “ser perfeita”, o que, com o tempo, lhe acarretará outros desconfortos.
No caso de comparação entre irmãos, por exemplo, ela provoca danos psicológicos para os dois: um por sentir-se rejeitado, inferiorizado e outro por ter que se desdobrar, compulsivamente, para não decepcionar os pais. Inúmeros exemplos desse tipo de problema ilustram meu arquivo de clientes. Lembro até que, em um desses casos, um homem na faixa dos quarenta e cinco anos, certa vez, num momento de raiva, desabafou:
— Essa maldita comparação arruinou minha vida, por muito tempo.
De acordo com o pensamento de Eric Berne, a forma de pensar, sentir e agir, é ensinada, conscientemente ou não, às crianças, pelos pais ou substitutos, desde a mais tenra idade. E, em se tratando da “rejeição parental”, esta, por não possuir qualquer traço de afetividade, influi cabalmente na qualidade da autoestima do indivíduo. Na verdade, muitos pais, por não analisarem, conscientemente, o modo como foram educados, repetem com os filhos as mesmas ações desqualificadoras que sofreram dos seus pais. Criando, de tal modo, um ciclo vicioso que se perpetua geração pós-geração, como se fosse uma espécie de padrão que não pode ser alterado, apenas seguido.
* Atualmente, os pais devem estar muito atentos à qualidade ou formação pedagógica dos professores que estarão presentes na vida de seus filhos, desde a infância. Isto para além dos professores das escolas formais, como, por exemplo, professores de inglês, religião, música, natação, atletismo, esportes em geral e outros.
* Neste texto, compartilho um capítulo do meu livro AUTOESTIMA - AFETIVIDADE E TRANSFORMAÇÃO EXISTENCIAL - onde falo das predisposições para baixa autoestima...
[1] Análise Transacional (AT) é uma teoria da personalidade, criada pelo psiquiatra Dr. Eric Berne, de origem canadense e residente nos EUA, no final da década de 1950. De acordo com a definição da International Transactional Analysis Association (ITAA), “a Análise Transacional é uma teoria da personalidade e uma psicoterapia sistemática, para o crescimento e a mudança pessoal”; estuda a forma como as pessoas sentem, pensam, agem e se relacionam. Possui um conjunto de técnicas de mudança positiva, que possibilita uma tomada de posição do ser humano, diante da vida. É de Eric Berne a frase: “Todos nós nascemos príncipes e princesas, mas, às vezes, nossa infância nos transforma em sapos”.
Texto revisado
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Willes S. Geaquinto - Psicanalista,Psicoterapeuta, Consultor Motivacional. Trabalha com a Terapia do Renascimento promovendo o resgate da autoestima, o equilíbrio emocional e solução de transtornos, fobias,etc... Palestras e Cursos Motivacionais(relação de palestras no site). Contato: (35) 99917-6943 site: www.viverconsciente.com.b E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |