RELACIONAMENTOS NEUROTICAMENTE COMPLEMENTARES OU REAGENTES




Autor João Carvalho Neto
Assunto PsicologiaAtualizado em 8/28/2012 9:37:50 PM
Como já tenho demonstrado em textos anteriores, nossos modelos de relacionamentos tendem a ser construídos basicamente pelos formatos que foram estabelecidos nos convívios preliminares com nossos pais, parentes próximos e com a escola, em uma escala decrescente de influência, em que os pais assumem papel majoritário. Somadas a estas forças modelares vêm as experiências de vidas passadas que, por sua vez, também geraram referências de relacionamentos, gratificantes ou patológicas.
Dentro desse somatório de agentes condicionantes, me parece que sobra pouco espaço para a espontaneidade, de tal forma que, quando agimos, falamos ou pensamos dentro dos nossos relacionamentos, a maior pulsão que nos direciona é de repetição dessas vivências anteriores.
A isso chamamos tecnicamente na visão da Psicanálise Transpessoal de transferência, uma adequação do termo psicanalítico freudiano.
Contudo, a observação clínica de pacientes com suas próprias histórias tem me demonstrado que existem duas formas distintas dessa repetição ocorrer: uma a que chamamos de neuroses complementares e outra de neuroses reagentes.
As neuroses complementares são aqueles formatos de relação em que as partes buscam parceiros que continuam alimentando os modelos originais. Ou seja, a pessoa se acostumou a uma relação neurótica na infância e busca um parceiro que possa vir a garantir essa continuidade. Por exemplo, pais que super-protegem seu filho e ele tenderá a procurar uma parceira que funcione no mesmo estilo, garantindo a ele toda a proteção a que se acostumou. Mas esta parceira também traz seu próprio modelo neurótico com tendência à repetição, que será de ter sido educada para proteger membros da sua família – talvez um irmão mais novo ou os próprios pais – e que ela agora virá a dar continuidade com o marido.
Essa neurose complementar traz um ganho secundário de gratificação, que é manter uma situação a que já se acostumou, relativamente confortável, sem exigir esforços de amadurecimento para a autonomia. Mas, por ser um ganho secundário, e não primário, pleno, tenderá a gerar algum nível de angústia e desgaste da relação. Me parece que a própria vida, através das forças psíquicas inconscientes, faz crescer uma sensação de insatisfação para a busca da mudança e dos processos naturais de desenvolvimento psíquico. Nesse tipo de relacionamento neurótico isso não acontece, ao contrário o que prevalece é uma estagnação que desagrega a motivação para crescer, criar e ser feliz.
Já nas neuroses reagentes, que se apresentam em muitos relacionamentos conjugais, a pessoa busca como parceiro, inconscientemente e através de uma sincronicidade, justamente alguém que se lhe opõe às pulsões neuróticas, o que tende a gerar conflitos em maior ou menor escala. Claro que a convivência fica muito mais difícil, exigindo amadurecimento para a superação das diferenças. Aproveitando o exemplo anterior, nesse caso, aquele filho mimado pelos pais elegeria como sua parceira uma mulher mais independente, com personalidade rígida e acostumada a não ser protetora, e que por sua vez, terá que se tornar mais sensível para a necessidade do outro.
Este tipo de convívio, apesar de todas as dificuldades que envolve, é muito mais positivo para o desenvolvimento pessoal das partes do que o primeiro.
Diversos casais vivem essa situação e, por força da rigidez das neuroses que sustentam, acabam optando pela separação, ao invés de trabalharem seus aspectos psicológicos para se tornarem pessoas melhores, mais autônomas e felizes. Claro que não quero dizer com isso que a separação deva sempre ser evitada; às vezes ela é uma opção real. Mas penso que, antes disso acontecer, os casais deveriam observar o que realmente está acontecendo e o quanto aquilo possa ser produtivo para ambos, desde é claro, que haja uma predisposição para avanços conscienciais.
A pergunta que surge é: por que algumas pessoas buscam relacionamentos neuroticamente complementares e outras relacionamentos neuroticamente reagentes?
A percepção a que chego é que nas primeiras as neuroses ainda trazem ganhos secundários satisfatórios, sem que as pressões intrapsíquicas pela gratificação plena sejam suficientes para mobiliza-la em outra direção. Entendo por gratificação plena não o sentido de ganho primário, sexual, atribuído por Freud, mas, dentro da Psicanálise Transpessoal, uma gratificação que já se torna real pela satisfação de estar aceitando seu papel de aprendiz na escola da vida, encontrando felicidade em refletir e transformar-se para um crescente processo de desenvolvimento pessoal.
Esse tipo de pessoa já consegue atribuir sentido construtivo à diferença; já aprendeu a saber ouvir e analisar antes de reagir; já percebe no outro um manancial de experiências de vida que podem ser elaboradas em função de suas conquistas pessoais. Ou seja, ela não precisa mais aprender somente através de suas vivências, mas já consegue sair suficientemente de si mesma para aprender com o outro. Claro que isso vai exigir um maior grau de amadurecimento psicológico e espiritual, facilitando inclusive a convivência na diferença.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
www.joaocarvalho.com.br









Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: joaoneto@joaocarvalho.com.br | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |