Saudade

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Autor Nilton Salvador

Assunto Psicologia
Atualizado em 17/02/2012 15:06:32


Durante longo tempo distante de casa e da família, a missão em região de selva não admitia prorrogação de prazo, e já que a estação das chuvas se aproximava, qualquer atraso provocaria sérios transtornos no cronograma de obras, justificando a demora da volta.

Embora faltasse pouco para concluir a missão a saudade já se fazia sentir.

Um dos integrantes do grupo de trabalho estava seriamente doente e seu estado não sinalizava melhoras. Tinha dores pelo corpo, não dormia, tinha convulsões e com aparente depressão foi levado ao hospital, onde depois de longa anamnese e exames o médico perguntou para o responsável pelo grupo se algum deles nunca sentiu saudade.

A pergunta espantou e a resposta foi ambiguidade pura. O diagnóstico do parceiro doente foi de espantar. Ele tinha "banzo". A mesma doença que acometia os negros escravos, quando cativos e ausentes da sua mãe pátria.

Alguns até dissimularam um riso pelo inusitado, logo transformado em seriedade para ouvir o experiente médico explicar que só quem nunca sentiu saudade não sabia o quanto ela dói, e que gerou o estado de melancolia do doente, tendo como causa principal o desejo dele ter de volta tudo aquilo que possuía, e que se não fosse tratado a tempo, poderia ter ficado louco e até chegar ao suicídio.

Quando se perde um ente querido, sejamos espíritas, espiritualista ou ateu, a saudade daquele que partiu abala profundamente nossos sentimentos. Se argumentar com um ateu se a morte é mesmo o fim da vida, pergunte-se por que, então, ele sente saudades de quem se foi e por que razão o homenageia?  

Mesmo sabendo que a vida continua após o desencarne, jamais nos esqueceremos daqueles a quem amamos, do filho que está distante ou do amigo que há tempos não é visto, porque frequentemente buscamos dentro de nós "as marcas" do que ficou de amor e felicidade, enquanto os mantivermos vivos em nossas lembranças.

O banzo que falamos alí em cima, ainda tem o seu significado discutido até nossos dias, pois sua origem africana equivale a pensar ou meditar, o que levou o termo ser designado como doença. Já a saudade, originária do latim, é uma das palavras mais presente na poesia de amor, e na música, pois descreve a mistura dos sentimentos de perda, distância e amor.

A etimologia nos ensina que a formação do termo "Saudade" e seus derivados são uma interfluência entre a força do estado de estar só, sentir-se solitário, apegado a ideias, usos e costumes, podendo ser usado para entes desencarnados ou substantivos abstratos como a saudosa mocidade ou pelos saudosos velhos tempos.

Por volta de 1800 já existia estudo sobre "as doenças agudas e crônicas que mais frequentemente acometiam os pretos recém-tirados da África". O banzo constava entre elas. Os sintomas? Os escravos ficavam entristecidos, paravam de falar e, acima de tudo, deixavam de se alimentar, mesmo "oferecendo-se-lhes" - afirma o médico - "as melhores comidas, do nosso trato e costume, como as do seu país...", falecendo ou suicidando-se pouco tempo depois pelo que conhecemos por depressão, tida como mal do século.

A palavra "nostalgia", difundida na literatura, é sinônimo de "saudade", é um sentimento, ou seja, bem diferente de pensá-la como doença. Tal rótulo - assim como o de banzo - provavelmente encubra uma vasta gama de problemas psicológicos ou psiquiátricos, que vão da depressão à esquizofrenia, ou eram provocados pela desnutrição, por doenças contagiosas, ou por consumo excessivo de álcool e drogas, que direcionam ao suicídio como se constata em nossos dias.

O banzo pode ser entendido também como uma forma não intencional de protesto político, um exemplo primário de luta pela não violência. Nenhum homem é superior a outro, muito menos por causa da cor do seu corpo temporário, que dura o curto espaço de tempo de uma vida terrena ensina a Doutrina Espírita, pois somos todos iguais em dignidade.

Volta e meia fico resgatando lembranças da vida, dos risos e da presença marcante do meu pai. Quando penso nele que apanhou muito da vida, teve que partir para descansar, pois "voltou para casa, não morreu", deixando para mim uma imensidão de lembranças boas.

   Penso como foi bom ter construído uma vida ao lado dele, e agora com uma imensa saudade vislumbro sua ausência com o resgate do passado olhando para os meus filhos como frutos gerados da árvore que um dia ele plantou. Como sinto sua falta.

A lógica nunca irá vencer o apego do ser humano, já que aos olhos de quem se apega a saudade sempre terá qualidades inesquecíveis. Em situações traumáticas nosso cérebro funciona de forma incompleta, pois são liberados hormônios que o entorpecem.

Nossas memórias são arquivadas neste momento formadas por sensações, imagens, e funções que jamais serão esquecidas.

A saudade é incoerente quando tem o poder de dar força, mas em contrapartida pode nos tirar a vitalidade do corpo enfraquecendo nosso espírito e com suas garras afiadas apertando nosso coração, nos deixando às vezes "estranhos" sem saber "quantas almas temos".


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Nilton Salvador   
Escritor amador - Articulista em jornais, revistas, sites, grupos e listas de discussão, do ponto de vista bio-psico-sócio-espiritual. Autor dos livros: Vida de Autista; Autismo - Deslizando nas Ondas; Deficiência ou Eficiência – Autismo uma leitura espiritual; Vivo e Imortal - Ensinando a Aprender; Adoção - O Parto do Coração. Brasileiro.
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