Você idealiza o amor?
Atualizado dia 14/01/2015 11:14:41 em Vidas Passadaspor Flávio Bastos
Aristófanes nos conta que nossa antiga natureza não era tal como a conhecemos hoje e, sim, diversa. Os seres humanos encontravam-se divididos em três gêneros e não apenas dois -macho e fêmea- como agora. Havia um terceiro gênero que possuía ambas características e que era dotado de uma terrível força e resistência e, além disso, de uma imensa ambição, tanto que começaram a conspirar contra os deuses. Zeus e as demais divindades viram-se, então, tendo que tomar providências para sanar tal insubordinação, tinham a alternativa de extinguir a espécie com um raio, como haviam feito com os gigantes, porém, perderiam as homenagens e sacrifícios que lhes advinham os humanos. Por um lado, permitir tal insolência por mais tempo era impensável. Resolveu-se, então, parti-los ao meio, desse modo não só enfraqueceriam como também aumentariam de número. Assim foi que até hoje, divididos como estamos, que cada um, infatigavelmente, procura a sua outra "cara metade".
Segundo Quinet, "o amor é a afirmação de ser e da vida. Nas situações mais extremas de ameaça ao ser, ou seja, de risco absoluto de deixar de ser, de existir, de not do be, o que se tem? A declaração do amor. A maioria das mensagens de celulares das pessoas nas torres gêmeas do 11 de setembro, antes de se atirarem pela janela, era: I love you! Primeira e última palavra do ser falante".
Por falarmos em amor, a psicanálise revelou-nos que quando um objeto original de um impulso desejoso se perde em consequência da repressão, ele se apresenta, frequentemente, por uma sucessão infindável de objetos substitutos, sendo que nenhum dos quais, no entanto, proporciona satisfação completa. Isto pode explicar a inconstância na escolha de objetos, o "anseio pela estimulação" que caracteriza o amor nos adultos.
Sigmund Freud, em suas obras, destacou as relações de amor no seu sentido mais amplo como o principal tema da psicanálise, uma vez que implicam uma transferência de amor outrora vivenciada entre o indivíduo e seus entes queridos: "As relações entre um indivíduo com os pais, com os irmãos e irmãs, com o objeto de seu amor, e com o seu analista, na realidade todas as relações que até o presente constituiram o principal tema da pesquisa psicanalítica, podem reivindicar serem consideradas como fenômenos sociais".
O amor em Freud nos leva a pensar o amor como repetição. Estamos inseridos numa cadeia de imagens, marcados pelas impressões infantis das quais não podemos nos furtar: "Quando amamos, não fazemos mais que repetir. Encontrar o objeto é sempre reencontrá-lo, e todo o objeto de amor é substitutivo de algum objeto fundamental prévio à barreira do incesto".
No sentido psicanalítico, poder-se-ía dizer que o amor corresponde ao eu ideal e, portanto, à procura de qualquer coisa de ideal que nós colocamos através de um inconsciente mecanismo de identificação projetiva no outro. No âmbito do amor, não há uma receita soberana que sirva para todos, cada um deve descobrir por si o método através do qual poderá alcançar a felicidade possível. Vários fatores irão influenciar na sua escolha, depende da quantidade de satisfação real que irá encontrar, e até onde achará necessário tornar-se dependente dele. Por fim, na confiança que se tem em si próprio do poder de modificar conforme os seus desejos. Mesmo nessa fase, a constituição mental do indivíduo tem um papel decisivo, ou seja, o indivíduo que é predominantemente erótico irá escolher, em primeiro lugar, relações emocionais com os outros. O tipo narcisista, que é mais autossuficiente, procurará a sua satisfação essencial no trabalho interior da sua alma. O homem de ação nunca abandonará o mundo externo no qual pode experimentar o seu poder.
No entanto, na caminhada vital, que torna-se mais ou menos dolorosa conforme o histórico de cada um, o mais importante é apurar a percepção de si mesmo inserido num contexto de interdependência com o outrem, pois conhecendo-se, o sujeito de sua própria historia aceitará o outro de uma forma não projetiva, e o mundo que o rodeia, com mais naturalidade.
Texto revisado
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Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Vidas Passadas clicando aqui. |