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Espiritualidade
Espiritualidade - o poder da manifestação dos nossos ideais
por Marcos F C Porto
Os estímulos mais positivos do ato de servir e do idealismo altruísta derivam-se diretamente do impulso dado pelo nosso espírito divino residente em nossos corações.
O ideal de fazer o bem aos outros -o nosso impulso de negar o ego, para o benefício do próximo - podemos dizer inicialmente é muito circunscrita.
Vamos lá refletir sobre o tema?
Nós, seres humanos espirituais, ainda trazemos características primitivas, e consideramos como próximo apenas aqueles que estão ‘a pouca distância’ de nós - família, relacionamentos afetivos, amigos e os que nos tratam com boa vizinhança.
À medida que os conceitos espirituais da civilização evoluem, o conceito que se tem de nossos semelhantes expande-se, até abranger não só toda a humanidade, mas também todos os seres vivos.
Os líderes espirituais, Mestre Jesus, Sidarta Gautama – o Buda e outros todos importantes ampliaram a noção de próximo, de modo a abranger a humanidade como um todo, chegando ao ponto em que devemos amar até mesmo os nossos inimigos.
E há algo no nosso interior como seres humanos espirituais, nos dizendo que esse ensinamento é fraternal — portanto correto.
Grande parte de nós seres humanos espirituais reconhecemos a moralidade desse movimento universal como sendo generoso e altruísta. Faz sentido?
O humanista atribui a origem desse impulso a um trabalho natural da mente.
Bertrand Russel (1872-1970) um dos mais influentes filósofos humanistas que viveram no século XX, nos diz: “Se houvesse no mundo de hoje, maior número de pessoas desejando suas próprias felicidades, mais do que desejassem a infelicidade do próximo, poderíamos então, ter o paraíso na Terra dentro de alguns anos”.
O espiritualista, no entanto, reconhece que o impulso verdadeiramente não-egoísta da mente, surge como resposta às orientações espirituais interiores.
Mahatma Gandhi (1869-1948) líder espiritualista pacifista hindu – Mahatma em sânscrito significa ‘grande Alma’ - nos diz: “A melhor forma de encontrar-se a si mesmo, é perder-se no serviço para outros”.
Apenas uma personalidade suficientemente bem unificada poderá refletir sobre os conflitos entre os desejos do ego e a consciência que nasce do ato de servir.
Nosso “eu interior” tem direitos, do mesmo modo que o do próximo os tem. Nenhum dos dois poderá fazer reivindicações de atenção exclusiva. O insucesso em resolver esse dilema dá origem ao tipo mais primitivo de sentimento humano, qual seja a culpa. Está claro?
O filme francês
Homens e Deuses (Des Hommes et Des Dieux), em cartaz nos cinemas, conta a história verídica de oito monges trapistas que vivem em um mosteiro no interior da Argélia em 1996, dedicados a ajudar a população mulçumana local muito pobre, e moram pacificamente, buscando sustento do cultivo e plantio próprio. No entanto recebem ameaças de extremistas islâmicos, e precisam decidir se devem ou não abandonar o local. O roteiro descreve muito bem de forma individual os pensamentos e sentimentos de cada um dos monges, e trata os assuntos relevantes com uma cautela admirável. A opção passa a ser aceitar a eminência de entregar a própria a vida diante da ameaça de serem assassinados, ou se transferirem para outros mosteiros da Ordem. Um diálogo significativo e pertinente a esta reflexão se passa quando dois monges conversam com o casal morador em uma das casas muçulmanas, e ponderam a verdadeira missão deles na comunidade, se metaforicamente ‘era a de pássaros ou de galhos’, no que a esposa, dona da casa, acrescenta: “nós somos os pássaros, vocês são os galhos onde podemos pousar com segurança!”
Este diálogo é marcante no filme, e representa a realidade do poder da manifestação de nossos ideais.
Não poderemos servir se não aceitarmos ser ‘galhos’, para que os ‘pássaros’ possam pousar e se acolherem com segurança.
Neste aspecto podemos acrescentar que nossa felicidade como seres humanos espirituais só será alcançada quando o desejo egoístico e individualista que, voltando ao filme representaria a transferência dos monges para outro mosteiro da Ordem e o impulso altruísta do Eu Superior - o Espírito Divino encontram-se coordenados e reconciliados pela vontade unificada de permanecer no mosteiro, quaisquer que sejam as conseqüências.
Nossa mente como seres humanos espirituais evolucionários está sempre se confrontando com o problema intrincado que é ser árbitro na disputa entre a expansão natural dos impulsos emocionais e o crescimento moral dos impulsos não-egoístas, baseados no discernimento espiritual, onde o poder de nossos ideais se manifesta. Correto?
A tentativa de assegurar um bem ao nosso ‘eu’, que seja igual ao de um número maior de outros ‘eus’, apresenta um problema que não pode ser sempre resolvido satisfatoriamente de acordo com expectativas imediatistas.
Durante a vida eterna, esses antagonismos serão resolvidos, mas em nossas curtas vidas temporais, as soluções ficarão mais difíceis.
Mestre Jesus referiu-se a esse paradoxo, quando disse: “quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por causa do Reino encontrá-la-á”. Mateus 10:39
A busca de um ideal — nosso esforço para ser semelhante ao Ser Maior Criador Deus — é uma luta contínua, antes e depois de deixarmos o corpo.
A vida depois de deixarmos o corpo não é diferente, no essencial, da existência mortal.
Tudo o que fazemos nesta vida, que é bom, contribui diretamente para o engrandecimento da vida futura.
A verdadeira
espiritualidade não fomenta acomodações ou preguiça espiritual, encorajadas nestes casos pela esperança vã de ter todas as virtudes de um caráter nobre, conferidas a alguém em conseqüência da passagem pelos portais da morte natural, e não deprecia os esforços em progredir durante nosso contrato da vida temporal.
Todo ganho espiritual enquanto mortais, será contribuição direta para o enriquecimento dos primeiros estágios da experiência de nossa sobrevivência imortal, não é verdade?
Seria fatal para o nosso idealismo, se nos fosse ensinado que todos os nossos impulsos altruístas são meramente o desenvolvimento dos nossos instintos gregários naturais.
Contudo, o poder da manifestação dos nossos ideais é enobrecido e poderosamente energizado quando compreende que os anseios mais elevados de Alma, emanam de forças espirituais que residem em nossos corações.
Uma vez que compreendamos plenamente que dentro de nós vive e luta algo que é eterno e divino, isso o eleva para fora de nós e para além de nós próprios.
E assim é que a fé viva na origem supra-humana do poder de manifestação de nossos ideais legitima a crença de que somos filhos e filhas do Ser Maior Criador Deus; e torna presente nossas convicções altruístas, o sentimento da irmandade entre nós, seres humanos espirituais.
Voltaremos ao assunto.
Texto revisado
Atualizado em 5/8/2011
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