Home >
Psicologia
ZOZ - Por que a aprovação é uma necessidade para tantas de nós?
por Margareth Maria Demarchi
Para
entender isso vamos antes imaginar algumas situações:
-
Passei pela Sandra ontem e ela não me cumprimentou, será que fiz alguma coisa
que ela não gostou? Será que deixei de fazer alguma coisa para ela?
Ou:
-
Fui convidada quase de última hora para a festa da Laís e do Eduardo. Será que
desejavam que eu não fosse?
Ou:
-
O Chefe foi mais compreensivo com a Silvia, onde será que eu estou falhando?
Ou:
-
Meu pai nem abriu o presente que eu lhe dei. Por que ele está me desprezando?
Ou:
-
Nossa! Parece que ninguém notou meu corte de cabelo?
Ou:
...ah!!
Nesse aspecto eu estou sossegada. Meus filhos nunca me deram um "trabalhinho"
sequer.
Ou:
-
Por que você não quer que eu vá junto com você?
Ou:
-
Você parece chateada (o). Espero que não seja por minha causa?
E
pode-se parar por aqui porque os exemplos de situações são quase infinitos.
Todas as respostas para as perguntas acima, buscam aprovação de alguma forma. Quando
alguém precisa de aprovação é porque não se sente aprovada em função da reprovação
que acha que outros fazem de si. Isso significa por um lado, o quanto se fica
na imaginação e para isso há algum motivo, e por outro lado, o quanto se cultiva
o hábito de não esclarecer certos problemas quando eles acontecem. Este é o
culto à perfeição.
É
assim que se cria uma armadura e ao usá-la se pensa que ela protege das demais
pessoas e de suas críticas, e que também ajuda a afastar da crítica interna,
aquela que cada uma tem sobre si mesma, e que geralmente procura esconder por
não admiti-la e que usa para evitar que quem quer que seja explore ou tente
revelar verdadeiros sentimentos de gerados pela imperfeição.
Aquelas
dentre nós que sabem o quanto a busca pela perfeição pode ser perturbadora,
reconhecem que a falta de uma boa comunicação no relacionamento com outros
impede a maior intensidade do vínculo afetivo.
Nesse
ponto, vale entender de onde surgiu essa sensação de falta que influi sobre os
vínculos e cria a necessidade da aprovação da parte de outros.
Desde
quando nascemos e enquanto somos crianças, sempre recebemos de alguém atenção e
cuidados, não importa a intensidade. Com isso, a mente estabelece através do
pensamento moldado pelo sentimento e pela imaginação um dos aprendizados da
vida, ou a regra da retribuição, pela qual temos que retribuir o que recebemos,
na mesma medida e intensidade que o aprendizado da infância fixou em nossas
mentes.
Para
muitas de nós, isso significa aprovar mais o outro do que a si mesmas, o que
implica em querer da mesma forma, que este outro nos aprove naquilo que nós
mesmas não nos aprovamos.
-
Perla, é uma jovem bastante sensível, tímida e dependente do pai e da mãe. Seu
irmão, Ricardo, se comporta de forma mais espontânea. A diferença de idade
entre os dois é de três anos de idade. Fernanda, a mãe, conta que passavam por
uma situação financeira delicada e difícil quando engravidou de Perla. Não
bastassem os problemas que enfrentavam, Fernanda e seu marido Humberto ficavam
em constante conflito e acusações, coisa que perdurou até os três anos de
Perla. Humberto praticamente ignorou a filha durante esse período. Fernanda
quase sempre deixava Perla com a avó, numa tentativa inconsciente de se afastar
da própria filha e assim ficar longe de sua própria reprovação como mãe.
Passados
três anos, Humberto, agora estabilizado financeiramente, supera seus próprios
conflitos e volta a ter uma vida a dois com Fernanda, revivendo bons momentos e
criando novos bons momentos. Assim, Fernanda engravida-se de Ricardo.
Com
o nascimento de Ricardo, a família se revigora, todos se integram, Ricardo
recebe atenção, carinho e amor, Perla passa a receber o tratamento adequado e
seus pais se comportam como se tentassem recompor aquilo que não foi dado a ela
nos três anos anteriores.
Viver
três anos no meio de conflitos entre seus pais, criou marcas, Perla sentia as
discussões dos pais. Ricardo, nasceu e foi criado envolto por uma realidade
completamente diferente, equilibrada e cheia de aceitação e diálogo.
Perla,
então com dezessete anos, teme um retrocesso imaginário no relacionamento de
seus pais, controla isso com extrema dependência, sempre precisa da opinião
deles para cada decisão que tenha que tomar e prefere a companhia dos pais à
qualquer outra. Ricardo é independente, age com facilidade e é querido tanto
por familiares como pelos amigos.
Esta
uma experiência quase única, assim como cada uma de nós tivemos as nossas. Mas,
demonstra que o que somos hoje, é resultado de muitos acontecimentos que afetam
diretamente as pessoas envolvidas.
O caso de Fernanda e Perla, mostra o quanto um
sentimento afetou o
comportamento e o desenvolvimento de uma criança e depois
adolescente. Por isso, cada caso deve ser analisado com muito respeito e
cuidado, há muitas coisas envolvidas, e a correta interpretação destes
acontecimentos e da linha do tempo de cada pessoa pode dar uma orientação
acertada sobre as raízes do sentimento e da necessidade de aprovação ou de
reprovação de si mesma.
Quando
a presença dos pais é frequente, a criança participa de forma constante da
dinâmica familiar, ela sente e observa os pais. Cria imagens mentais com
relação aos pais e essas imagens, durante a fase de desenvolvimento, vão sendo
incorporadas no
comportamento da criança, que passa a se relacionar usando
essas mesmas imagens, dando a elas a sua interpretação e representação do
comportamento dos pais pelo carinho, afeto, bronca, expressão de alegria, mal
humor e tantas outras manifestações que recebe.
A
partir de então, a criança exerce uma escolha e se fixa num determinado
comportamento, o que lhe garante mais atenção e exclusividade. Assim, se mostra
para o mundo externo como obediente, ou rebelde, ou frágil, ou doente, ou
ausente, tímida, orgulhosa, fraca, disciplinada, indisciplinada ou tantas
outras características, podendo inclusive mostrar om conjunto delas. É dessa
forma que o seu "pequeno mundo" interfere no "grande mundo" e pelo
comportamento escolhido acaba movimentando a família.
No
entanto, é preciso ter um claro entendimento do que realmente é esta escolha. Sendo
ela resultado do
comportamento dos pais e das pessoas que interagem com a
criança, é importante, a forma como ele, o comportamento, afeta a criança, pois
isso é que determinará como ela manifestará suas expressões positivas de vida, tanto
quando revela o lado bom, como quando revela a sua rejeição ao prazer e à
felicidade, com manifestações adversas.
Há
uma forma intermediária, que representa o efeito da grande maioria dentre nós cujos
pais ou tutores viveram ou vivem contrariamente à forma pensada ou desejada de
vida e escondem, senão, disfarçam quando não querem assumir que algo, um
sentimento ou situação se apresenta como a causa de seus desconfortos.
Diante
disso, o
comportamento da criança revela esse lado ruim na vida familiar,
independentemente da vontade de quem vive com essa criança. Sempre o que não é
dito, mas deveria ser dito, é somente sentido, mas, na criança, isso é sentido
e também é manifestado.
A
experiência familiar de cada um será como um mapa para a convivência humana.
Esse mapa não é o território
[1], mas nos mantém presos
aos seus símbolos e significados, e a todo o momento o utilizamos em nossos
relacionamentos. No caso acima, o mapa corresponde aos pais e é o referencial
tanto para Perla como para Ricardo, assim, pela forma como cada um a
experiência é que esse referencial interfere na interpretação que fazem de seus
pais.
Já
para Fernanda e Humberto, mapa e território contam, e o território representa a
ancestralidade, que é a história de pessoas da família, e pessoas da família
que interagiram com cada um de forma significativa e influenciadora, isso sempre
tem que ser levado em consideração.
Sempre
que buscamos aprovação, deixamos de ser verdadeiras. Em muitos casos, aprende-se
através das experiências de vida que só sendo "boazinhas" com os outros é que
se consegue ser aceita e obter valor. Essa dinâmica é muito utilizada porque a
nossa sociedade a incute e impõe artificialismos por vários meios criando o
significado de que é importante manter-se sempre no bem do outro, sem precisar estar
no próprio bem. Quando vivemos de fato dessa forma, então acabamos cerceando o nosso
verdadeiro sentimento interno que quer ser expresso como somos, sem nos deixar
afetar pela forma e interpretação que o outro tem a nosso respeito.
É
lógico que esta afirmação se aplica sempre ao mundo real. A nossa existência
foi concebida para desfrutar e realizar o bem, o bom, o belo, o útil e o
agradável, para cada um de nós e para o coletivo, mas nunca à custa de nossa
anulação, ou da anulação da nossa individualidade, que nos identifica como
seres e como agentes ativos. Como seres ativos, compreendemos que o outro
sempre terá vivências diferentes que o tornam um ser integral e único.
De
forma mais profunda, tratar a individualidade para se autovalorizar significa
na verdade um sentimento de baixa autoestima. Implica que por necessidade de
aprovação a pessoa passa a trocar o sentido de individualidade, que é uma
conquista de valor por ser quem é, e também amar aquilo que a pessoa é. A individualidade
confere à pessoa a possibilidade de estar num posto em que é admirada e
reverenciada por si mesma, e se auto distingue pelo que faz e menos pelo que
tem.
Nessa
condição verdadeira, é que a pessoa deixa de controlar a relação com o outro e
parte para conquistar a vida e ser integralmente responsável por ela. Nesse
modo de ser não existe competição, pois, a pessoa está ciente de que pode e tem
talento para realizações. Assim, o caminho fica livre, sem a necessidade de
aprovação.
Já
a necessidade de aprovação é a falta de preparo em reconhecer as habilidades
pessoais que fazem com que sempre se sinta segura. As pessoas que aprendem a
olhar para suas habilidades por necessidades da vida ou por incentivo,
principalmente dos pais, possuem uma segurança natural, sentem-se tranquilas em
expor essas habilidades e mantém relacionamentos mais maduros, tem facilidade
em expor suas ideias e confiam nos seus valores.
A
necessidade de aprovação, dá autoridade e transfere a responsabilidade para que
o outro nos julgue. Mas, quanto uma outra pessoa realmente pode entender
daquilo que você é, eu sou, nós somos? Pergunte-se se você quer que alguém diga
quem você é e o que deve fazer.
Nesse
sentido, a responsabilidade pela vida também é diminuída, não se corre riscos
quando alguém diz que nos aprova, ou aprova o que fazemos. Há uma diferença
relevante entre ser aprovada e ser elogiada. Sempre será mais fácil, perguntar
se - "posso isso?" Ou - "posso aquilo?", do que simplesmente assumir
responsabilidades que exigem qualquer tipo de esforço, buscar conhecer
condições ou mesmo, auto sugerir. É também mais confortável não ter que assumir
consequências pelas decisões tomadas.
Mas,
há uma diferença relevante entre ignorar a qualquer custo o que os outros
pensam e pedir opiniões para comparar antes de tomar decisões. Ignorar a
qualquer custo implica em considerar-se ao mesmo tempo autossuficiente, onisciente
e independente, uma conjunção que só é possível para quem vive isoladamente, e
quase sempre resulta de um
comportamento individualista e não da
individualidade.
Na
auto aprovação, uma pessoa é responsável pelas consequências previsíveis de
seus atos. Fosse sempre essa a forma de comportamento, o resultado seria o de
pessoas confiantes de suas qualidades e que sabem perfeitamente o seu propósito
e valor. Cessaria a busca de aprovação, e se passaria a viver a sua própria
aprovação.
Carl
G. Jung chamava isso de "processo da individuação"
[2],
a meta da individuação, dizia Jung "era despojar o próprio eu (
self) dos falsos invólucros da forma
como nos apresentamos ao mundo (
persona),
isso por um lado, e do poder sugestivo das imagens que carregamos no
inconsciente, (
imagens primordiais),
por outro lado". Ao
nos tornarmos nós
mesmas, ao nos
tornamos quem
realmente somos, também expressamos uma das muitas facetas da do interno da
pessoa (
realidade primordial da psique)
que, desta forma, cristaliza o seu próprio ser.
Por
isso o desenvolvimento humano individual, na teoria psicológica de Jung, é
conectado com a evolução humana e até mesmo cósmica. Nessa estrutura
conceitual, o indivíduo não está mais isolado e sozinho, ao contrário, ele
torna-se "contrapeso" que através da sua consciência, desequilibra a balança da
história humana. Aplicando esta estrutura ao nosso tema, parte do que somos
hoje, é resultado dos eventos que envolveram nossa família (ancestralidade) até
agora.
O
que nos ajuda a pensar que cada ser humano tem a sua importância para o meio.
Equilibrado (dentro do seu talento e propósito) ele contribui no todo,
favorecendo com a sua atuação diferenciada e verdadeira a possibilidade de que
outros possam tomar coragem e reagir para o seu centro de prazer e felicidade.
Só estando conectado com o centro do ser é que se possibilita viver de forma
responsável e cooperativa no mundo. Cada
qual pode assim dizer: - Sou um que compõe o todo.
Quando uma
pessoa carrega a verdade ela vê e identifica a verdade. Pense. Quando você
consegue ser realmente sincera? Quando você percebe a sinceridade do outro?
Quando você aceita sinceridade?
Quando
a verdade é buscada é porque ela não é vivida pela pessoa que a busca.
Isso
é o que frequentemente se faz com todos aqueles por quem se quer ser amada.
Entra-se numa esfera de dependência da apreciação dos outros, e as razões podem
ser as mais diversas, desde o simples bem estar no convívio, até complexas
relações de poder.
Agora
olhe para você sem máscaras e olhe para cada máscara que já utilizou e observe
atentamente e entenda o verdadeiro motivo de ter utilizado cada uma delas,
inclusive e sobretudo para si mesma (uma figura que você representa ou
representou ser).
A
própria aprovação estará equilibrada quando olhar para trás e entender que todos
os que vieram antes como provedores (pais, tutores, auxiliadores) recebem respeito,
aceitação e consideração por saber que eles fizeram o seu melhor, e os deixa livres
de julgamento, do pensamento, assim, estará livre para ser o meu melhor.
Desta
forma ninguém tem necessidade de dar provas, nem de aprovar, pois já existe a
consciência da sua responsabilidade pela a verdade que carrega em si, sem
precisar de que o outro lhe diga. Ninguém tem que ser melhor que alguém, quem
quer que seja, simplesmente tem que ser melhor naquilo que quer e deve melhorar
para si mesma.
Cada
pessoa tem que se aprovar como o ser humano que caminha pela vontade de
realizar o seu talento, com
amor por tudo o que realiza, e com sabedoria para
realizar suas atividades com força e conhecimento necessários, sempre com a
verdade que já se encontra si mesmo. Por isso é preciso acessá-la.
Olhar
a verdade em si, é o caminho para sentir
amor e compreensão pelo outro, pois só
assim se pode também compreender que aprovar o outro é supérfluo e
desnecessário, já cada um possui em si a aprovação. Este é um passo importante
que nos conduz a um novo tema, o da colaboração e da solidariedade.
[1] Programação Neolinguística - mapa não é território, há uma
diferença incontestável entre a realidade e a experiência de realidade de um
indivíduo.
[2] C.G.Jung - Processo de individuação
* Continua o texto no próximo artigo.
* Direitos autorais Margareth Maria Demarchi
*Todos comentários serão bem-vindos. Obrigada*
Texto Revisado
Atualizado em 5/6/2024
Veja também
© Copyright - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução dos textos aqui contidos sem a prévia autorização dos autores.