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O que vale mais: beleza ou dinheiro?

Publicado por Flávio Gikovate em Psicologia

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Numa conversa com amigos surgiu este tema e eu achei muito interessante tentar escrever alguma coisa sobre ele, já que são as duas condições que, parece, são as mais cobiçadas pelas pessoas. É claro que não estavam em jogo outras variáveis também muito cobiçadas como a inteligência, a felicidade sentimental, o vigor sexual, a persistência e disciplina para o trabalho, a competência para os esportes ou para a vida social etc. A questão era apenas essa: beleza ou dinheiro?

Não valia também querer ter os dois, porque é óbvio que todos responderiam da mesma forma. Ao longo da minha mocidade, lembro que pensava muito sobre isso quando via uma moça muito bonita no ponto de ônibus. Como é que ela não arrumava um namorado mais bem posto na vida para poder sair daquela situação nada agradável? O fato é que muitas não o faziam e, estimuladas por uma ingenuidade que, penso, está desaparecendo, iam atrás de algum rapaz de suas relações e de condição social semelhante à sua. Não tinham em mente, ao menos de modo claro, que poderiam “trocar” a sua beleza pelo que quisessem. Era isso que estava na minha mente mais atenta à realidade da vida e por isso tinha tanta dificuldade em imaginar que uma moça assim bonita não dava uma solução melhor para sua vida.

O fato é que hoje tenho visto muito menos moças belas e atraentes em pontos de ônibus. Ao mesmo tempo, muitos rapazes, antes displicentes para a aparência física, buscam intensivamente se tornarem protótipos daqueles que seriam cobiçados pelas mulheres mais bonitas ou bem postas. É como se tivessem descoberto todo um modo de se estabelecer socialmente que jamais esteve aberto para os homens, destinados a trabalhar muito e a tentar crescer por força de sua competência para as atividades lucrativas.

Hoje em dia, rapazes e moças, homens e mulheres mais velhos, todo o mundo busca aprimoramentos físicos. Gastam tempo e dinheiro com cremes, cirurgias, tratamentos mais ou menos dolorosos. Fazem de tudo para se embelezar e também para manterem, pelo maior tempo possível, a juventude. É como se estes tivessem se transformado nos nossos maiores valores. São os mais cobiçados, ao que parece.

A vaidade é um elemento da nossa sexualidade relacionado com o exibicionismo. Está presente em todos nós. O que varia é o que pretendemos exibir e como queremos chamar a atenção ou atrair olhares de admiração em direção a nós. Podemos chamar a atenção pela beleza extraordinária. Isso é fácil para quem nasceu assim belo e costuma acomodar a pessoa, que não busca mais nada de muito relevante para si porque já está bem abastecido de gratificações deste tipo exibicionista. As moças, mais que os rapazes, sempre se preocuparam mais que tudo em chamar a atenção pela aparência física, mesmo nos casos em que se destacam profissionalmente e têm uma boa condição sócio-econômica. Poucas foram, e são, as que preferem chamar a atenção por outras razões podendo atrair olhares de admiração e desejo por sua aparência física.

Penso que a condição masculina ainda é um tanto confusa e os rapazes, mesmo os que cultivam os músculos várias horas por semana, ainda gostam muito de desfilar com carros que chamem a atenção, o que é uma forma de exibicionismo da vaidade que se exerce pela via indireta. Ou seja, o carro chama a atenção das pessoas e também chama a atenção quem está dentro do carro, quem é o dono dele. Neste caso o dinheiro é que é a principal fonte do exibicionismo. Parece que, afora seu uso para as coisas básicas da vida, o dinheiro está sempre a serviço do exibicionismo. Até há pouco tempo, as moças exibiam a beleza e os rapazes o dinheiro - deles ou da família - por meio de carros, relógios etc. Hoje as moças estão preocupadas em exibir boa condição financeira, como é exemplo o fascínio que elas têm por bolsas de grife e que todos sabem quanto valem (e muita gente usa as falsas com o objetivo de passar por aquilo que não é). Ao mesmo tempo, os rapazes cultivam ao máximo sua beleza física sem abrir mão, é claro, do exibicionismo material.

Parece que a vaidade se tornou mais exigente e todo o mundo quer chamar a atenção de qualquer jeito e quase sempre pela via da beleza ou do dinheiro. A competição se atiça e não vão bem as relações humanas, nem as de amizade e muito menos as amorosas. Agora, tudo leva a crer que, neste exato momento, a beleza está valendo mais do que o dinheiro - e não é que ele valha pouco. Acho que, com o fim da ingenuidade, todos, rapazes e moças, perceberam que a beleza tem um importante valor de mercado, de modo que acham que, de posse dela, conseguirão o dinheiro. A beleza chega ao dinheiro e nem todo o dinheiro do mundo compra a beleza para si. O dinheiro compra um parceiro - ou parceira - belo, mas não a beleza para si. Assim, o pólo se inverteu pelo fim da ingenuidade. Porém, as peças continuam as mesmas. O que interessa mesmo são beleza e dinheiro.


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Sobre o autor
flavio
Flávio Gikovate é um eterno amigo e colaborador do STUM.
Foi médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Faleceu em 13 de outubro de 2016, aos 73 anos em SP.
Email: [email protected]
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