Um dos maiores equívocos cometidos por aqueles que vivem direcionados apenas pela razão é a insistência em querer encontrar coerência em todos os acontecimentos da vida.
Ocorre que a vida não é coerente, não no sentido em que nossa racionalidade compreende o significado dessa palavra. A vida tem suas próprias leis, seu dinamismo pertence à outra dimensão, que não é a da lógica humana.
Então, quando tentamos encaixá-la em nossos conceitos, ela nos parece totalmente caótica e sem sentido. A vida não tem qualquer intenção de nos criar problemas, ela simplesmente transcorre como deve ser, nossa mente é que faz de cada acontecimento um problema.
E, a partir daí, gera angústia, ansiedade, medo, infelicidade, uma torrente de emoções negativas, que nos paralisa e faz com que se torne impossível enxergar uma saída.
Enquanto não entendemos que o segredo é uma total aceitação de cada situação, - e o entendimento de que todas elas têm como objetivo fundamental trazer-nos algum aprendizado -, seguiremos lutando contra o fluxo natural da existência, numa tentativa vã de fazer com que ele sempre se amolde aos nossos desejos.
Viver de maneira total significa estar alerta, a cada momento, para tentar compreender a verdadeira intenção que se esconde por trás da aparente falta de sentido de tudo o que acontece em nossa vida.
Entregar-se em total confiança, com a certeza de que o divino sempre sabe o que é melhor para nós, exige uma mudança radical em nosso padrão de consciência. Por mais difícil que seja, sem esta transformação será impossível experimentar a paz e a felicidade com que tanto sonhamos.
"...A vida é paradoxal e o Zen é um simples espelho-reflexo da vida. Zen não é uma filosofia. As filosofias nunca são paradoxais, filosofias são muito lógicas - porque filosofias são construções mentais. O homem as faz. Elas são fabricadas pelo homem. Elas são feitas pelo homem, sob medida, logicamente organizadas, dispostas confortavelmente para que você possa acreditar nelas.
Todas as partes que vão contra a construção foram retiradas, erradicadas, jogadas fora. Filosofias não refletem a vida como tal - elas são escolhidas a partir da vida. Elas não são matérias-primas, elas são construções da cultura.
O Zen é paradoxal porque não é uma filosofia. Zen não está preocupado com o que a vida é. Zen considera que tudo deve ser refletido como é. Não se deve escolher - porque no momento em que você escolher, torna-se falso. Escolha traz inverdade. Não escolha, permaneça sem escolha - e você permanece fiel... Zen não é uma filosofia. Zen é um espelho. É um reflexo do que é...
Esta paradoxalidade é a própria natureza em si - dia e noite, verão e inverno, Deus e o Diabo estão juntos. O Zen diz que se você diz que Deus é bom, então, surge um problema depois: de onde vem o mal?
Isso é o que as religiões têm feito - cristianismo, islamismo, judaísmo, separaram Deus e o Diabo. O mal vem do diabo e tudo de bom vem de Deus. Deus quer o bem. Mas de onde é que vem o Diabo?
Então, eles estão em apuros e, finalmente, eles têm que admitir que Deus criou o Diabo também... Se o Diabo também é criado por Deus, então, Deus permanece a assinatura única da existência, então Deus continua a ser o único autor.
Então, tudo o que está acontecendo está acontecendo através dele - e ele é paradoxal. Isso é o que o Zen diz: Deus é paradoxal, tão paradoxal quanto a própria existência. Deus não é nada, mas um outro nome para a existência, para a totalidade da existência.
Depois de entender isso, a paradoxalidade, um grande silêncio surge em você... Zen traz grande saúde para a humanidade. Ele diz que você é ambos. Aceite ambos. Não negue, não escolha; aceite ambos. E nesta aceitação há uma transcendência, eis o que um homem sagrado é, - nem bom, nem mal, ou ambos... E quando uma pessoa é ambos, consciente de ambos, os opostos se anulam.
Apenas tente entender isso, é uma das chaves mais fundamentais. Quando você aceita tanto o bom como o ruim e você não escolhe, o mau e o bom se anulam, o negativo e o positivo se anulam. De repente, há silêncio, não é nem bom nem ruim, é apenas a existência, sem julgamento.
Zen é não-julgamento. É não-condenação. É não-avaliação. Ele lhe dá a liberdade absoluta para ser".