Abandono, desconexão e isolamento, uma das dores emocionais mais lancinantes que se pode experimentar, principalmente quando ocorre logo no início da vida.
A história toda diz respeito à falta da conexão afetiva e ao imenso pavor em ser abandonado. Um pânico silencioso na possibilidade de reexperimentar algo extremamente vivido e que com o passar dos anos foi sendo encoberto.
Logo no início da vida, quando não ocorre a conexão afetiva entre mãe e filhos, o sentimento que fica é um medo real acerca da sobrevivência. Quando não acontece legitimidade de amor em nossa chegada ao mundo, quando a informação afetiva que deveria dizer algo como: "Que bom que você chegou! Estamos felizes de você estar entre nós" e quando ninguém efetivamente o espera de modo amoroso e quente, o processo do viver inicia-se de modo bastante perturbador. Como possíveis consequências, inseguranças diversas, sensações, sentimentos e pensamentos de "tanto faz", de não ser importante e de ser indesejado, costumam fazer parte do delicado cenário desses filhos.
Quem são essas mães que não se vinculam?
São pessoas funcionais aos olhos da maioria, mas que se encontram desconectadas delas mesmas e como consequência, desconectadas de qualquer um, inclusive de filhos, quando os tem. São mães que não têm a capacidade de fazer conexão com nada, com nenhuma situação e com ninguém. Importante saber que essa desconexão é a reverberação do tema de dor emocional delas mesmas.
Na patologia da desconexão afetiva, a percepção do self, ou seja, do eu propriamente dito fica praticamente impossível de se viabilizar por conta de não ter havido ninguém que pudesse oferecer um olhar com tais significados. Como consequência, a vítima desse tipo de situação apenas consegue criar uma imagem de si mesma de modo externo e mesmo assim, numa idealização de algo que deveria ser, mas que nunca se completa e que a todo momento necessita ser dinamizada. Uma empreitada frenética na incessante busca em ver a si mesmo, ainda que seja apenas pela aparência.
Esses personagens, quando têm filhos, devido à severa e inconsciente angústia do sentimento de vazio interior somado a sentimentos de abandono, acabam por desenvolver mecanismos perversos também inconscientes para com eles, que visa invalidá-los seja no que for que tentarem fazer em nome de receberem.
O mecanismo é perverso também porque como não há conexão e há uma enorme dor da falta da mesma, a mãe, também vítima, fará de tudo para que esses filhos fiquem conectados à ela mesma pela angústia da falta e pelo medo do abandono total. Então, oferecerá migalhas de pseudoafeto a ponto deles acreditarem que existe a conexão e logo, na sequência, retirará, deixando-os literalmente quebrados. Mediante essas ações, os manterá conectados na possibilidade de ter, o que jamais conseguirão obter dela, que é o amor legítimo.
O medo da falta de amor e do desamparo é o que os mantém atados e também a ilusão de que esse buraco afetivo poderá ser sanado. Enquanto não despertarem dessa terrível trama/ cárcere, os filhos ficarão atados nessa e em outras possíveis "conexões perversas" da mesma ordem.
A mãe projeta nesses filhos o seu desejo de magnanimidade abusando da dependência deles. No fundo, tais filhos são os aspectos mais carentes de amor dessa própria mãe, mas que ela rejeita e quer destruir. Projeta nos filhos e faz com que estes vivam o seu próprio medo maior que é o do abandono e do desamor. Com esse tipo de mecanismo, ela se isenta de sua própria dor, sendo que os filhos passam a viver isso por ela. Essa mãe, portanto, sequencialmente irá fazer de tudo para destruir a formação de um self total em seus filhos, inaugurando neles severos traumas de apego na medida em que exerce seu poder de autoridade materna.
Lealdade familiar:
Ainda nessa dinâmica, e por amor, pode existir uma espécie de pacto silencioso em que os filhos carregam esse fardo de modo cego para proteger uma mãe frágil que não deu conta de entrar em contato com a terrível dor emocional provocada pelos sentimentos de abandono e desamparo. Um processo subterrâneo que enquanto não for revelado e devidamente tratado manterá a todos imersos num sofrimento velado e sem fim.
Importante a saber que este é um adoecimento dissociativo do psiquismo, portanto, totalmente inconsciente e por mais devastador que possa ser, todos são vítimas.
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
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Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos