Muitas das vítimas de abusadores narcisistas perversos já vêm com algum histórico de pais que também lhes foram abusivos.
Em processo terapêutico, descobrem que na maioria das vezes, para poderem ter um mínimo de acesso a eles, precisaram cumprir um papel invertido em suas tramas relacionais de desenvolvimento, tendo de funcionar como mães e pais dos seus próprios genitores. São filhos que desde o início de suas vidas foram predestinados a acolherem pais narcisistas, necessitados de atenção ininterrupta. Na busca de poderem sobreviver emocionalmente, a todo tempo, permaneceram ansiosos tentando agradá-los a fim de receberem um pouco de afeto.
O problema maior de tais crianças é que crescem sem serem reconhecidas em suas próprias necessidades e desejos, por que desde muitíssimo cedo aprendem que só o que importa são as necessidades e desejos desses magnânimos pais. Portanto, desenvolvem-se num super reconhecimento empático sobre os estados de humor deles, em detrimento de si próprias, até que com o tempo ampliam esse tipo de percepção mundo afora, continuando a não levarem em conta os seus próprios humores e sensações, mas especializando-se em satisfazer outros em suas infinitas demandas.
Quando pequenas, ao demonstrarem qualquer tipo de espontaneidade ou de necessidade, seus cuidadores imediatamente passam a criticá-las, ridicularizando-as e incitando-as em sentimentos de vergonha, misturados com sensação de serem inadequadas e rejeitadas. Uma lavagem cerebral de quem sequer teve oportunidade para se desenvolver. Erroneamente, aprendem que seus pais são os únicos 'eu' significativos a quem devem satisfazer e que, se ousassem não corresponder a isso, elas próprias não teriam existência. Um grave engano que a relação abusiva precoce com personalidades narcisistas perversas costuma promover. No futuro, essa percepção distorcida é projetada em namorados, parceiros, ambiente de trabalho etc. .
O pano de fundo dessas crianças e desses adultos quando crescem é o medo do abandono, da rejeição e de serem ridicularizados, mas mais ainda é o desespero da sensação de não terem significado algum se não forem competentes intermediários dos significados e desejos de outros. Enquanto viverem dentro dessa crença irracional de que a validação das suas existências está na satisfação das experiências dos outros, correrão o risco de serem as presas mais fáceis dos mais insanos e dos mais perversos tipos de abusadores. Enquanto não despertarem fortalecendo os seus próprios desejos e limites pessoais, facilmente serão envolvidas em relacionamentos tóxicos.
Com o decorrer do tempo, além do medo do não ter um outro como referência, tais vítimas entram em contato com um vazio existencial inexorável e mesmo quando não estão em relacionamentos, não poucas vezes necessitam de auxilio terapêutico para que o encontro consigo mesmo, com seu verdadeiro self, possa ocorrer.
Para tais pessoas, entrando em processo terapêutico competente, é extremamente libertador ao se iniciar na autovalidação e prazer pessoal legítimos; são momentos preciosos quando começam a sentir que estão nascendo pela primeira vez em suas vidas. O salto maior, porém, ocorre quando se percebem completas em si mesmas, donas de suas próprias histórias, caminhos, desejos e escolhas.
Quanto mais despertos, melhor.
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Sobre o autor
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
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Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos