Vamos fazer um rápido exercício: Pense por um instante nas formas de expressar carinho, amor, desejo, excitação, que você já presenciou. Deixe as cenas brotarem de sua memória, sua família seus pais, você mesmo, como acontecia? Seus pais se beijavam na sua frente? Trocavam carícias, andavam de mãos dadas, lado a lado ou um na frente outro atrás? Conversavam sobre sexo, amor, carinho com você? Censuravam filmes, horários de TV? Reagiam com vergonha ou com naturalidade às suas perguntas? Estavam presentes...
Agora lembre-se de como você lidava com tudo isso, você era tímido, ousado, curioso? Tinha medo de fazer perguntas ou não?...contentava-se com qualquer resposta? Conversava com amigos(as) sobre suas dúvidas? Por último, tente detectar a influência de tudo isso em sua sexualidade hoje.
Entendo que trata-se de uma tarefa ampla para ser feita num breve instante, e obviamente não coloquei aqui todas as variáveis que deveríamos considerar, mas é apenas o início de um exercício que poderá ajudá-lo a compreender a influência de nossas experiências em nosso comportamento, principalmente na expressão de nossos sentimentos.
Hoje a expressão de sua sexualidade com alta chance é o resultado dessa difícil e complexa equação: tudo que recebeu de informação - conceitos e preconceitos, mitos e verdades - somados à sua forma particular de decodificar aquilo que recebeu: seu ”óculos”.
A escolha sexual passa por um processo físico, emocional e social. Como podemos perceber, recebemos modelos de comportamento em nossa educação e nascemos com características particulares. Aprendemos a nos vestir, a nos movimentar de forma “adequada”, ou esperada socialmente, a escolher o que comer, a torcer por um time, ou um esporte, a gostar de TV ou não. Tudo isso de forma explícita ou nem tanto, dependendo do grau de consciência dos educadores que cada um de nós teve. Da mesma forma aprendemos a “lidar” com nossa sexualidade.
Nossos envolvimentos amorosos passam por nossas buscas, insatisfações, fantasias, crenças, medos, certezas e entendimentos de mundo. O ser humano naturalmente busca se envolver afetivamente e amorosamente. A demanda do ser humano é uma demanda de amor, o prazer, o carinho, fazem parte desta esfera. O tipo de parceiro(a) que escolhemos está relacionado a esses modelos que recebemos durante nosso desenvolvimento, às pessoas que conhecemos, e histórias que acompanhamos.
As formas que buscamos para obter prazer relacionam-se a nossas fantasias, desejos, e às possibilidades de realizá-los. O ser humano é um complexo formado por razão, emoção e espiritualidade. O desejo é livre, podemos desejar muitas coisas, mas a execução desses desejos passa pelo crivo da nossa razão e espiritualidade. O que quero dizer é que desejar é expressão do humano que existe em nós, mas executar o desejo é expressão de nossa saúde interna, de nossa capacidade de adequação, ou habilidade para viver socialmente, e de nosso entendimento de mundo.
Durante o desenvolvimento pessoal temos a difícil tarefa de aprender a respeitar nossos valores, a sermos espontâneos em nossos desejos e criativos, procurando o caminho para superar nossas limitações. Difícil também é detectar nossos desejos. Os desejos enquanto substância humana são a expressão de nossa individualidade.
Ainda temos muitos preconceitos mesmo nos dias de hoje. A homossexualidade por exemplo ainda é alvo de ataques e desrespeito. A liberdade de escolher e de ser o que se deseja ainda está longe de ser conquistada, ainda há de se crescer muito e amadurecer nosso modo de nos relacionar com aqueles que pensam, sentem e percebem o mundo de maneira particular e diferente de nós.
A virgindade hoje em dia tornou-se um tabu ao “contrário”, entre os jovens. O “crime” agora é ser virgem e não mais não ser como 40 ou 50 anos atrás; apenas se inverteu a posição, portanto o preconceito ainda impera absoluto.
A virgindade não é apenas uma questão de “transar” ou não, mas está diretamente relacionada à noção de respeito próprio, capacidade para cuidar de si e responsabilidade. O jovem estará preparado quando a relação sexual não for uma obrigatoriedade ou apenas mais uma afronta.
É comum escutar frases do tipo ...”todas as minhas amigas da minha idade já transaram”... ou, “quando alguém me pergunta, eu vou logo dizendo que é claro que já tive a minha experiência”... ou, “sou chamada de ‘vacilona’ porque não quis transar ainda”...
Este é um importante aprendizado emocional: assumir nossas escolhas e “bancar” suas conseqüências.
A noção de respeito e individualidade ainda é muito confusa socialmente. No Brasil a sexualidade é algo explorado e produto da mídia, somos o país das mulatas e dos biquínis. As crianças são estimuladas através das roupas, acessórios, TV, músicas e até algumas danças, a voltarem sua atenção para a sexualidade, algumas vezes perdendo com isso seu espaço de serem crianças, simplesmente porque a sexualidade faz parte do mundo do jovem/adulto e não da infância.
Comerciais de TV aludem à sexualidade, mulheres são associadas a cervejas ou ao prazer provocado por elas. A mídia é a expressão do imaginário humano, refletindo idéias, valores, desejos e fantasias da atualidade. A mulher como objeto sexual ainda vende, mas o homem também passou a ser produto de consumo.
Estamos numa época de reformulação de valores, idéias e crenças. O ser humano está sempre em evolução e transformação. Nossos entendimentos de bom e mau, certo e errado modificam-se de acordo com o prisma que escolhemos para decodificar a vida.
A sexualidade deve ser olhada e aceita como algo natural que faz parte do desenvolvimento, das descobertas, das experiências pessoais e principalmente da expressão da vida. Para vivenciar a própria sexualidade sem culpas ou sofrimentos é necessário respeito próprio e enfrentamento dos próprios medos, conseguidos apenas através da ampla consciência de quem somos e da noção de nossas possibilidades e responsabilidades.
Consulte grátis
Avaliação: 5 | Votos: 66
Sobre o autor
Sirley Bittú é Psicóloga Especialista Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
Consultório (11) 5083-9533 Email: [email protected] Visite o Site do Autor