Aprendemos tantas vezes a fechar nosso coração para nos proteger, que abri-lo é um grande desafio. Abrir o coração é uma atitude pouco familiar em nossa cultura ocidental que estimula o espírito competitivo.
As diversas tradições espirituais nos ensinam sobre a importância de abrirmos nossos corações e abandonarmos nossa atitude comumente egocentrada para que haja paz no mundo.
A mensagem essencial da filosofia budista consiste, justamente, em nos esclarecer que o apego à nossa auto-imagem é a raiz de todo nosso sofrimento. Pois o hábito de considerar nosso próprio Eu como o único referencial verdadeiro na percepção da realidade está arraigado em nossa atitude mental desde que nascemos.
Uma vez Lama Gangchen me disse diretamente: “O Caminho do Tantra é maravilhoso, mas só se você quiser abrir o seu coração. Senão, ele se torna um caminho muito difícil de percorrer, e aí não vale a pena”.
Lama Gangchen Rinpoche nos inspira a enfrentar este desafio. Pacientemente, ele nos ensina a superar o hábito de pensar no que se restringe somente a nós mesmos. Ao seu lado, testemunhamos o valor de um coração verdadeiramente aberto. “Com o coração aberto algo acontece” disse-me ele, certa vez.
O budismo nos mostra que enquanto nos interessarmos apenas por nós mesmos, nada acontece e os nossos problemas sempre parecerão intransponíveis. Contaminada pela avareza, a mente egocentrada está continuamente preocupada com a idéia do Eu, e torna-se, assim, tensa e angustiada.
O caminho espiritual nos chama para a abertura: ter empatia pelos outros, reconhecer que estamos todos interligados. Enquanto estivermos presos por uma visão egocentrada, intensificada pela idéia de que somos seres separados uns dos outros, não poderemos ser empáticos, pois estaremos limitados pela carência de ser constantemente reconhecidos por eles.
Assim como escreve Pema Chödrön em Quando tudo se desfaz (Ed. Gryphus): “Quando nos tornamos mais perspicazes e compassivos diante de nossas próprias dificuldades, espontaneamente sentimos mais ternura pelos outros seres humanos. Ao conhecer nossa própria confusão, ficamos mais dispostos e capazes para colocar a mão na massa e tentar aliviar a confusão dos outros”.
Somente quando estamos bem conosco, temos energia disponível para perceber o outro. De fato, precisamos, antes de tudo, abrir nosso coração para nós mesmos. Cultivar a auto-estima, portanto, reconecta-nos com a sabedoria da interdependência.
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Sobre o autor
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia. Email: [email protected] Visite o Site do Autor