Às vezes tenho a sensação de que falta alguma coisa na minha prática de meditação. Vazio, vazio, despir-se de emoções, despir-se do stress, despir-se dos pensamentos e das preocupações, despir-se de si mesmo. Em certos dias, mergulhar neste vazio silencioso traz o frescor e a tranqüilidade das grandes catedrais para dentro da minha alma, mas em outros, sinto-me perigosamente atraída pela idéia de dissolver-me num mundo bem de verdade. E nestes dias correr, por exemplo, até o limite das pernas e dos pulmões, parece ser um caminho mais rápido para aquietar a alma, por que será?
Meu amigo Walther muito querido me conta que no ashram de Sri Aurobindo, na Índia, meditação não é assunto que se resolva numa “sentada” de meia hora por dia: “Yoga é fazer de todos os momentos do seu dia, momentos de meditação”, diz. Impossível? No entanto...
Lembro da minha corrida, lembro de uma sensação engraçada de estar no meio do supermercado e sentir que, sim, é possível meditar empurrando carrinhos de compras; lembro de algumas outras ocasiões em que a quietude nasceu da ação, do fazer ou do estar no mundo. Feito mexer no jardim ou preparar um bolo... Momentos preciosos nos quais você sente que de fato estava lá, inteira, completa, cheia e plena de cheiros, cores, sons. Por alguns instantes, presa na magia do instante que os budistas zen associam com a própria iluminação.
Como definitivamente ando convencida de que não existem coincidências, abro feliz o livro que acabou de chegar pelo correio e caio na página que diz: “Muitas vezes, os métodos tradicionais de meditação não funcionam. Se você sofreu muito, por exemplo, e ainda não curou sua dor, ficar fisicamente quieta pode ser intolerável, porque no momento em que seu corpo se aquieta, você percebe a presença dos monstros da raiva, do ressentimento ou do medo batendo furiosamente nas portas do seu subconsciente. Isto pode acionar uma reação de fugir ou lutar que vai inundar seu corpo de adrenalina e torná-la ansiosa ou brava ou agitada mais do que tranqüila. (...) nestes casos, o melhor é fazer qualquer movimento mecânico e repetitivo que mantenha seu corpo ocupado enquanto você está “fazendo nada”.
E a autora de ‘The Joy Diet’, Martha Beck, lista uma série de atividades que ajudam você a meditar em movimento: correr, caminhar, nadar, patinar ou - mesmo - dirigir, além de artes marciais, é claro. E boxe!
Uma outra alternativa que acho bem útil e já me ajudou muitas vezes foi correr para o colo da Natureza: sentar e simplesmente ficar contemplando o fogo ou as ondas do mar ou o movimento da água ou a dança do vento... Observar o Universo trabalhando tem um efeito imediato sobre a alma!
Mas minha pesquisa sobre formas de meditar alternativas para o tantas vezes impossível “sente-se e não pense” me conduziu ainda mais longe e trouxe às minhas mãos um artigo de revista no qual uma professora de yoga e dança americana comentava sobre estudos e técnicas de meditação especiais para mulheres!!!! A autora, Camille Maurine, ensina: “Meditações centradas no feminino são praticadas não para evitar os homens ou para substituir práticas tradicionais. Estas técnicas apenas trazem a energia, a sensualidade e as emoções femininas para dentro da equação contemplativa”.
Fiquei feliz e surpresa. De certa forma, foi como chegar em casa. Experimentar técnicas que convidam você a dançar de olhos fechados, acompanhando uma música que nasce dentro de você ou então meditar com a mão pousada no chakra do coração foram delicadas surpresas no meu final de semana. Seria talvez simples demais dizer que estas práticas de meditação femininas têm em comum o foco na emoção, afinal, dizem que o chakra do coração é a ponte entre razão e sentimento. Não sei... certezas, afirmações, conceitos, tudo fica meio diluído nesta dança da alma consigo mesma.
Mas fique de olho no livro de Camille Maurine, ‘MEDITATION SECRETS FOR WOMEN: Discovering Your Passion, Pleasure, and Inner Peace’. Há de ser traduzido para o português. Visite o site link e aceite minha tradução bem livre da meditação que a professora ensina como carinho especial só para mulheres... (mas duvido muito que os homens não possam gostar de fazer também)!
Meditação dos desejos do coração
Ser capaz de lidar com os desejos do coração requer coragem, segurança e perseverança - basicamente recursos que todos nós temos. Quão perto você está dos desejos do seu coração? Quais são os seus anseios? Reflita e, quando estiver pronta para ouvir este chamado, prepare-se para entrar no fogo sagrado do coração.
Tente entrar no seu desejo. Quando você se permite senti-lo, o que percebe? Onde o desejo está localizado no seu corpo? Quais são as sensações que ele provoca? Existe uma imagem ou figura relacionada a este seu anseio? Tente perceber esta imagem. Como a energia da imagem se move? Como você se sentiria se pudesse realizar estes sonhos?
Medite sobre a imagem e as sensações de energia que ela provoca. Dance o movimento. Deixe o anseio abrir seu coração e ensinar a você como viver sua vida em toda plenitude.
Se você meditar durante um certo tempo sobre seu corpo, vai perceber que existe um movimento de dança preso dentro de você. De início, este movimento não significa nada, mas os significados podem surgir na medida em que você se move. Dê carta branca para sua paixão se manifestar através do ritmo intuitivo que nasce dentro de você.
Coloque uma música que combine com seu ritmo interior para tocar. Comece a respirar acompanhando a música e os sentimentos que ela evoca. Deixe que a necessidade de dançar tome conta de todo seu corpo. De início, mova a parte do corpo que mais consegue “sentir”: as mãos, os pés, os quadris, a coluna. Quem sabe não é sua boca que precisa deixar sair algum som ou suspiro primal. Sinta a energia! Quão livre você consegue ser? Experimente ser selvagem: bata com os pés no chão, chacoalhe o corpo, faça grandes gestos dramáticos com os braços. Renda-se à sua paixão!!!! Depois de 10 minutos, vá diminuindo o ritmo devagar e tornando-se mais e mais consciente do que está ao seu redor. Continue respirando ao se aquietar. Saboreie as sensações que a energia circulando por todo seu corpo evoca.
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM. Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma. Email: [email protected] Visite o Site do Autor