Definitivamente, não acredito em acasos e não creio que sejamos um conjunto de vidas cujo propósito termina quando nosso corpo perde suas funções. Por isso, desde que aconteceu o maremoto na Ásia, estou a me perguntar o que significa e quanto vale uma vida...
É inevitável o questionamento: por que mais de 100 mil pessoas simplesmente se vão, assim, de repente? Por que elas, essas pessoas, justamente essas? Parece injusto, não?!? Mas certamente nem tudo é o que parece!
Creio que eu nem possa chegar perto de imaginar a dor daqueles que ficaram, que estão, neste exato momento, sofrendo desesperadamente pela perda de tudo o que construíram e, especialmente, pela “perda” de quem (alguém ou muitos) eles amavam...
Falando assim, em perda, parece-me estranho, porque realmente acredito que não houve de fato uma perda, mas apenas foi deixada uma lacuna que, antes, era ocupada por um corpo sem, entretanto, ter deixado de valer uma vida. Então, pensando desta forma, o que dói talvez não seja a ‘morte’ em si - porque de certo modo ela nem existe - mas sim a saudade, as lembranças e a impressão de que o amor que se sentiu por tais pessoas não tem mais o mesmo peso, o mesmo significado.
É... eu sei... a gente se acostuma com o cheiro, com a voz, com o toque, com o sorriso e até com os defeitos de quem a gente ama... e quando esta pessoa não está, a saudade invade o espaço e todos os sentidos que outrora era preenchido por ela... Aí, resta a sensação de inexistência, vazio, insuficiência...
Outro dia, me contaram sobre uma garotinha de 4 anos de idade que, no velório de uma tia, perguntou à avó: “Vó, mas e se a tia desmorrer? Como ela vai sair desta caixa?” e fiquei pensando sobre este verbo: desmorrer! E se pudéssemos desmorrer? Tudo - absolutamente tudo - seria diferente. O propósito da vida seria outro. Nossa missão e nosso tempo seriam outros. Todos os valores e medidas, verdades e crenças seriam totalmente diferentes...
Talvez, seja exatamente por isso que não podemos desmorrer. Podemos apenas viver – por um tempo determinado em algum lugar e por alguma razão que desconhecemos – e, depois, no momento certo, morrer. Sendo que morrer não é o mesmo que desviver e nem viver é o mesmo que desmorrer. Na vida e na morte, uma continuação da outra, não temos como voltar atrás; pelo menos não com a mesma missão, não com o mesmo dom. Somente temos como seguir adiante, cumprindo o caminho e o sentido que nos foi concedido.
E aí, me volta a questão: quanto vale uma vida? Como podemos medi-la? Como podemos quantificar seu valor? E se encontrássemos uma moeda ou uma escala de medidas para avaliar uma vida, um coração, uma alma, um espírito, um sorriso, uma lágrima, uma dor, uma saudade, um amor... o que faríamos com o resultado obtido? Que diferença faria no momento em que vemos o palpável acabar?
Sim, porque citei partes de uma pessoa que não podemos ver. Não se pode ver o coração (metaforicamente falando), nem a alma ou o espírito. Tampouco podemos tocar um sorriso ou uma lágrima como se eles fossem estáticos ou durassem mais do que apenas alguns instantes... Então, não poderíamos, por mais que soubéssemos quantificá-los ou atribuir-lhes um valor específico, transformá-los em palpáveis. Continuariam sendo etéreos, perecíveis e, ao mesmo tempo, sublimes e divinos, eternizados pelo poder do amor.
E cheguei à conclusão de que somente o amor pode fazer valer uma vida. Somos mais quanto mais amamos. E quanto mais amamos, mais somos amados. Valemos pelo quanto somos amados e nada mais, nem nada menos.
Por isso, volto ao título deste artigo para expressar o que sinto diante da desolação em que se encontram milhares e milhares de pessoas por todo o mundo... eu diria até que, de certa forma – por mais inconsciente que seja – uma desolação que afeta a todos, sem distinção: cem mil vidas, entre tantos bilhões de outras, que se vão numa circunstância como esta, tão inexplicável para nós, valem pelo amor dos que ficaram... valem pelas lembranças que deixaram... valem pelos sorrisos que provocaram, pelas alegrias que proporcionaram. Valem, sobretudo, pelo que são agora por conta do que foram antes...
E eu, humildemente, desejo apenas agradecer pelo tanto que elas valem; não que valeram (no passado), mas pelo que valem (no presente). E que esta medida sirva para que possamos recomeçar, para que possamos reconstruir, para que possamos amar ainda mais e fazer valer a vida de cada um, o quanto ela pode ser, mesmo depois que cada um se tornar - aqui nesta dimensão - tão somente o amor dos que ficam...
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Sobre o autor
Rosana Braga é Especialista em Relacionamento e Autoestima, Autora de 9 livros sobre o tema. Psicóloga e Coach. Busca através de seus artigos, ajudar pessoas a se sentirem verdadeiramente mais seguras e atraentes, além de mostrar que é possível viver relacionamentos maduros, saudáveis e prazerosos.
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