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Uma atitude de auto-acusação revela auto-rejeição

Publicado por Bel Cesar em Espiritualidade

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Na maioria das vezes, quando estamos confusos, intensificamos nossos mecanismos de auto-rejeição: “Eu não poderia estar sentindo isso!”.

“Rejeitamos a nós mesmos quando tentamos controlar nossos sentimentos. Rejeitamos a nós mesmos quando manipulamos nossos sentimentos, achando que deveríamos ou não estar tendo certo sentimento, ou então, quando tentamos realmente controlar as circunstâncias e as pessoas externas”, escreve John Ruskan no livro (John Ruskan, Purificação emocional, Ed. Rocco, p.147) Purificação emocional(*). E complementa: “Não nos damos conta das inúmeras vezes que nos auto-rejeitamos, porque esse sentimento nos protege de sentir o que não queremos sentir”. Desta forma, nos distanciamos de nós mesmos e da capacidade de nos auto-observarmos.

Para não nos distanciarmos de nós mesmos, precisamos compreender que devemos aceitar tudo o que estiver acontecendo em nosso interior, menos a auto-rejeição!

Enquanto nossa capacidade de análise estiver contaminada pelo hábito da auto-acusação, é melhor mantê-la de fora.

O segredo está em sentir cada emoção sem rotulá-la como boa ou ruim. Podemos nos tornar um testemunho ativo de nossa confusão emocional aceitando as emoções sem contrariá-las. Assim, seremos capazes de deixar a emoção surgir e se dissipar por si mesma.

Precisamos, de fato, da energia da delicadeza para sermos capazes de despertar a disponibilidade interna necessária para lidar com sentimentos que consideramos inaceitáveis e intoleráveis. Só assim, como uma árvore que suporta uma forte tempestade porque está bem enraizada, podemos manter nossos pés no chão quando nossas emoções estão confusas. Caso contrário, perderemos nosso eixo.

Sermos delicados conosco é um modo de nos aceitarmos. Auto-aceitação não significa ser condescendente com as nossas confusões emocionais. Não é preciso sermos permissivos com a confusão, mas precisamos nos permitir experimentá-la para podermos nos conhecer melhor.

Quando uma confusão emocional surgir, podemos nos propor a ficar com ela mais um pouco e perguntar-nos com delicadeza: “O que está acontecendo aqui?”

Sem negar o que está acontecendo, respirando algumas vezes com profundidade, podemos dar a esta experiência desconfortável um pouco mais de atenção do que usualmente somos capazes, rompendo assim o hábito de temer a sensação de si mesmo.

Muitas vezes, tememos certas emoções por receio de não suportá-las. Então, da próxima vez que nos depararmos com a idéia preconcebida de que sentir algo pode ser perigoso, podemos inverter o processo. Ao invés de evitarmos aquilo que estamos sentindo, podemos nos abrir para conhecer o que nos ameaça: “o que pode acontecer de tão ruim?”

Em um primeiro momento, quando percebemos a confusão emocional, sentimos um aperto no peito. Mas a intenção de nos mantermos abertos à experiência da nossa própria dor nos oferece um sentimento de expansão: temos, à frente, um novo caminho para seguir.

Descobrimos que estamos livres de nossos conflitos emocionais quando nos oferecemos uma nova chance, um novo olhar. Assim, passamos a encarar nossas emoções sob uma perspectiva mais ampla e começamos a perceber que é possível e saudável recuar e abrir espaço em torno delas.

Se nos identificamos demasiadamente com as emoções, elas passam a ter um poder ditatorial sobre nós: ditam ordens absolutas que esperam que sejam respeitadas por todos. Elas passam a nos ocupar cada vez mais e quando não somos mais capazes de manter o que sentimos em nosso espaço interior, tornamo-nos violentos. Mas, a partir do momento em que voluntariamente nos propomos a não nos identificarmos com nossas emoções, deixamos de ser reativos emocionalmente e nos tornamos ativos com relação ao nosso fluxo emocional.

Ao reconhecer que podemos fazer algo por nós mesmos, isto é, que não precisamos ser vítimas de nossas emoções negativas, começamos imediatamente a diminuir o poder que elas têm sobre nós.

O segredo para não ficarmos atolados em nossas emoções negativas é, portanto, aprender a não nos identificarmos excessivamente com elas. Podemos questionar as convicções profundas que temos a respeito de nós mesmos.

“Algumas pessoas acreditam que as emoções são perigosas. Mas raramente elas são o problema: são as histórias que criamos sobre as emoções e a pouca consciência que temos delas que geram o sofrimento. Sem consciência, os sentimentos dolorosos podem se corromper e se transformar em vício ou em ódio ou degenerar para o torpor. Assim, acabamos perdendo o contato não apenas com o que é sentido, mas com a sabedoria essencial do (Jack Kornfield, Depois do êxtase, lave a roupa suja, Ed. Cultrix, p.173 ) coração(*)”. Percebemos, desta forma, que negar o que se passa em nosso interior nos mantêm afastados de nós mesmos.

Texto extraído do “O livro das Emoções – Reflexões inspiradas na Psicologia do Budismo Tibetano” de Bel Cesar, Ed.Gaia.


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Sobre o autor
bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
Email: [email protected]
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