Como vimos no texto anterior sobre o poder da energia espiritual, podemos não definir exatamente o que ela seja, mas intuitivamente todos nós sabemos que necessitamos dela. Afinal, quem não quer sentir paz e comunhão com o mundo à sua volta?
Aliás, outro dia, ao perguntar a um paciente se ele já havia sentido estar em comunhão com a natureza, ele me disse: “Não tenho a menor idéia do que você está falando”. Rimos juntos. Mas, ao aprofundar a conversa, concluímos o quanto a nossa mente inquieta e perturbada pelos afazeres do cotidiano nos impede de simplesmente relaxar e sentir bem-estar onde quer que estejamos.
Estamos cansados de sentir o peso de nossas preocupações, dúvidas e angústias. Queremos sentir a leveza de uma mente saudável!
Para tanto, precisamos nos deixar tocar pela força da energia positiva sutil, pois ela age como um bálsamo curativo sobre nossa mente cansada.
Podemos nos nutrir de energia espiritual por meio dos mantras: na qualidade energética dos sons sagrados. Na meditação budista, trabalhamos mais com sons e imagens do que com o conceito das palavras. É que as palavras estimulam a mente conceitual e os sons e as imagens “tocam” a mente. Assim como Lama Gangchen costuma nos dizer: “Nossa mente é muito `dura´. Por isso ela precisa ser massageada com os mantras, para dissolver a sua rigidez e os seus bloqueios”.
A palavra sânscrita mantra é formada de duas sílabas: MAN que significa mente, e TRA, proteger. O seu significado é, portanto, “proteger a mente”.
O poder sutil das palavras recitadas num mantra é uma qualidade abstrata que só pode ser observada por meio de seus efeitos. Neste sentido, o mantra age como que num plano secreto, pois seu poder está além das imagens e das palavras.
A força secreta do mantra depende de algumas condições. Como por exemplo, se o praticante recebeu ou não a transmissão oral deste mantra por um mestre que tenha realizado o poder sutil do mesmo.
Na tradição budista tibetana, a transmissão oral é muito importante. Pois é por meio dela que o praticante irá receber a transferência de poder para praticar o mantra. Isto é, o mestre irá ativar a força secreta do mantra para o discípulo poder praticá-lo.
Assim como explica Lama Gangchen Rinpoche em seu livro “Autocura Tântrica III” (Ed. Gaia): “Quando usamos o termo 'secreto' não queremos dizer que as palavras, melodias ou explicações sejam secretas. Todos os tibetanos podem ir a uma livraria e comprar livros sobre todos os assuntos mais incríveis e secretos do Tantra tibetano. 'Secreto' significa que é necessária uma transmissão de coração para coração para que as instruções funcionem. A experiência interna que cada um tem é secreta, pois é uma experiência meditativa, e quando nos dirigimos às pessoas que não a tiveram, podemos apenas sugeri-la por meio de palavras. ’Secreto‘ significa que a mente não tem forma e que, portanto, é muito difícil expor uma experiência mental. Tradicionalmente, todos os meditadores tântricos mantinham secretos os resultados de suas práticas, contando-os apenas aos seus melhores amigos, para assim guardar sua energia interna. Como resultado, tudo que eles desejavam fazer com a mente (desenvolver a compaixão, a experiência da vacuidade ou a Iluminação) sempre dava certo. Esse é o motivo por que aconteciam tantos milagres e experiências especiais no início das linhagens tântricas: os meditadores sabiam muito bem como cuidar de sua preciosa energia mental interna”.
A força do poder de cura de um mantra depende também da clareza de intenções daquele que o recita. A qualidade da motivação de quem recita um mantra revela seu desenvolvimento espiritual.
Uma pessoa pode recitar mantras para adquirir bens materiais e poder pessoal. No entanto, sua força será muito maior quando ela o recitar para desenvolver compaixão e amor, porque esta é a força original do mantra. Desta forma, ele estará em sintonia com a força secreta do mantra.
Durante séculos, os mantras têm sido usados na prática espiritual para enfocar e transformar a energia sutil.
As energias curativas despertadas pelo som do mantra são inerentes à psique. Na tradição budista, estas forças positivas são caracterizadas como divindades: manifestações de uma força transformadora que se encontra em nossa mente.
Um mantra que gosto muito de recitar é o mantra de Tara Verde: OM TARE TUTARE TURE SOHA
Em tibetano, Tara é conhecida como Drolma, a “Salvadora”, pois ela é a manifestação da energia feminina da mente iluminada: a sabedoria.
Tara Verde é a energia feminina da intuição, da criação. Ao desenvolver essa energia dentro de nós, teremos mais vitalidade e disposição para realizar nossos projetos de vida, pois Tara elimina os obstáculos mentais criados pelo medo e pela preguiça. A energia de Tara nos ajuda a colocar velozmente as idéias em ação.
Uma idéia não colocada em prática é apenas um pensamento. Quando colocamos nossas idéias em ação, damos vida e energia para os nossos pensamentos.
Recitar o seu mantra nos ajuda a eliminar as interferências internas como medo e ressentimento. Traz proteção, fé e coragem.
OM significa os sagrados corpo, fala e mente de Tara. TARE “Aquela que liberta do sofrimento verdadeiro”. TUTTARE “que elimina todos os medos”. TURE “que concede todo o sucesso”. SOHA significa “possa o significado do mantra enraizar-se em minha mente”.
A prática de recitar mantras é especialmente valiosa nos dias de hoje, porque é simples e direta. Tudo o que precisamos fazer é relaxar o máximo possível enquanto repetimos ritmicamente as sílabas do mantra, em voz alta ou silenciosamente.
Meditação simplificada da divindade Tara Verde
Inicialmente, foque seu problema e peça clareza à Tara Verde. Peça para que você e todos os seres reconheçam a natureza verdadeira de si mesmos, e que o sofrimento do medo se extinga.
Visualize, então, Tara Verde sendo manifestada por uma forte luz Verde Esmeralda, logo à sua frente, enquanto recita o mantra de Tara Verde: OM TARE TUTTARE TURE SOHA. Você pode cantá-lo ou recitá-lo.
Conforme você se concentra em seus pedidos à Tara Verde, visualize a luz à sua frente se intensificando, penetrando no topo de sua cabeça e preenchendo seu corpo de luz verde, purificando suas dúvidas e medos, realizando seus pedidos.
Quando se sentir calmo e seguro, visualize esta forte luz verde, a manifestação da energia de Tara Verde, descendo agora pelo topo de sua cabeça, passando pela garganta, até fundir-se no interior de seu coração. Assim, a sua mente e a de Tara Verde estão em união. Permaneça nesse estado o tempo que puder, cultive o sentimento de confiança de que sua meditação foi realizada com sucesso.
Então, para finalizar, dedique essa energia à longa vida de seu mestre e a todos os que necessitam da energia positiva que você acumulou por meio de sua motivação e concentração ao fazer esta meditação.
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Sobre o autor
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia. Email: [email protected] Visite o Site do Autor