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Ser companheiro: quando um ajuda o outro a evoluir

Publicado por Bel Cesar em Espiritualidade

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No Sítio Vida de Clara Luz, unimos os princípios da psicologia do Budismo Tibetano à essência da Permacultura. Desta forma, buscamos o processo de autoconhecimento em todas nossas atividades ligadas à natureza. Como (Pete Webb formou-se na Austrália em Horticultural Science; estudou Permacultura com o seu mentor Bill Mollison; e foi responsável pelo Banco de Sementes do Jardim Botânico de Melbourne por três anos. Em 1980, mudou-se para Inglaterra onde deu início ao trabalho de Cirurgia em Árvores e formou-se em Agricultura Biodinâmica, na Emerson College, em Londres. Desde 1984, passou a morar no Brasil. Por catorze anos, viveu de modo autosustentável em Matutu, no Sul de Minas Gerais. Em 1998, mudou-se para São Paulo, onde, desde então, tem administrado cursos e desenvolvido projetos de Agroflorestas, Agricultura autosustentável, Consultoria ambiental, Paisagismo, Cirurgia em árvores e Reflorestamento. Desde 2002, ao unir a Permacultura à Psicologia do Budismo Tibetano em parceria com Bel Cesar, desenvolve atividades de Ecopsicologia no Sítio Vida de Clara Luz, em Itapevi, São Paulo) Pete Webb(*) irá realizar no Sítio (dias 22 e 23 de setembro) um curso sobre horta orgânica, decidimos compartilhar com o leitor do somostodosum um pouco sobre um tema que muito nos inspira: as plantas companheiras. É uma inesgotável fonte de inspiração aprender a observar como as plantas utilizam corretamente seu potencial de crescimento: elas sabem como e quando agir para atrair e manter as condições de que necessitam para o seu próprio bem em meio ao caos coletivo.

Os indígenas e as pessoas de dedo verde, aquelas que possuem um convívio íntimo com a natureza, sabem muito bem que algumas plantas são companheiras entre si e que outras são de natureza antagônica.

Uma planta é companheira para outra quando favorece seu crescimento, acentua seu sabor, ajuda a repelir as pragas e a recompor o solo. Neste sentido, elas se ajudam e se complementam mutuamente, seja no modo como compartilham o espaço, a água, a luz, os nutrientes bioquímicos do solo, ou seja, na maneira como interagem com todos os seres vivos à sua volta: insetos, animais e seres humanos!

Uma planta é antagônica para outra quando inibe seu potencial de crescimento, invadindo o seu espaço e limitando suas necessidades de luz e água. Em alguns casos, elas liberam substâncias químicas no solo para impedir o crescimento de outras plantas. Por exemplo, os capins. Como eles precisam de muito sol para garantir seu crescimento, liberam no solo substâncias que atrasam o crescimento dos arbustos e das árvores que fariam sombra sobre eles.

Ao explorar a vida de uma comunidade numa horta, podemos aprender sobre as leis naturais que regem as dinâmicas de crescimento e destruição, sejam individuais, sejam em grupo. Quem sabe assim também poderemos nos entender melhor. Nossos relacionamentos íntimos têm pouca paz porque externamos neles a contínua luta que travamos em nosso interior. Afinal, costumamos ser mais antagônicos do que companheiros de nós mesmos: são muitas as vezes que seguimos nossos mecanismos de autodestrutividade ao invés de nos estimularmos para seguir em frente positivamente.

As plantas, como nós, necessitam do contato com o sol, com a água, com a terra, com o ar e com o espaço para atender necessidades básicas sem as quais não poderiam sobreviver. Para garantir nossa vitalidade, todos nós precisamos de calor, luminosidade, flexibilidade, movimento, firmeza e sustentação, além dos componentes do ar e dos nutrientes essenciais da terra e da água. Todos nós precisamos de espaço para crescer e expandir!

Agora, vamos soltar a imaginação e responder à seguinte pergunta: “Se eu tivesse que escolher entre ser um tomate ou uma cenoura, qual escolheria?”

Se você escolheu ser um tomate, faz parte da família das solanáceas: uma família de plantas tropicais, concentradas nas Américas, ervas e arbustos de vida curta, com tronco de madeira macia. Uma família que contém muitas plantas com alcalóides, venenos que podem se tornar remédios se bem manipulados.

Ser um tomate quer dizer ter personalidade voluptuosa, de grande vigor, que precisa muito do calor e da luminosidade do sol. Neste sentido, ele gosta de se expor e de ser espaçoso. Como seu caule é mole e flexível, não é capaz de suportar o peso de seus próprios frutos numa posição vertical. Por isso, ele busca sempre um bom companheiro onde possa se apoiar. Como seu impulso para crescer é constante, ele vai se alastrando, passando por cima de qualquer planta que encontrar...

Atenção, o tomate é capaz de sufocar aquele que lhe der apoio para subir! Uma vez saudável, ele irá crescer muito e poderá abafar a entrada de luz para a planta que lhe dá suporte... Portanto, para ser seu companheiro é preciso ter as qualidades daquele que não teme perder sua própria luz e ter uma boa estrutura que lhe dê força e confiança no futuro, como é o caso do Manjericão, uma erva da família das Labiadas. Ele é um arbusto que sabe manter o calor do sol no interior de suas folhas, por isso, elas têm um sabor picante e quente.

Outro bom companheiro do tomate é a alface, família das Compostas: relaxado, tranqüilo, gosta da sombra e de ficar perto da terra. O movimento atirado e insistente do tomate o protege do sol forte e gera um ambiente fresco e arejado para suas folhas sensíveis.

As qualidades marcianas do tomate são admiráveis: como um guerreiro, ele está sempre pronto para conquistar novos horizontes: capaz de crescer em solos arenosos, basta que uma parte de seu galho toque o chão para que ele logo se enraíze. Por isso, é uma planta muito fértil, que se autofecunda e pode tornar-se perene.

A cenoura faz parte da família das Umbelíferas, uma família de plantas de regiões de temperatura amena, concentradas na Europa, ervas de média longevidade, com raízes fortes e profundas e folhas finas, delicadas e bem recortadas.

Ser uma cenoura quer dizer ter uma personalidade introspectiva, de grande força interior, pois é capaz de trazer a vitalidade do sol para o interior da terra. Ao contrário do tomate, a cenoura não gosta de se expor e nem de ampliar seus horizontes: sua persistência é focada no essencial. Por ser voltada sempre para a mesma direção, possui as qualidades de ser consistente, segura, doce e estável.

A cenoura faz bem para a mente, melhora a memória e a concentração, além de possuir grandes quantidades de vitamina A, tão necessárias para a saúde dos olhos. Na escuridão das profundezas do solo, ela abre caminho para as raízes de outras plantas, além de absorver os nutrientes do solo até suas folhas, quando então os elimina e beneficia as demais plantas.Uma boa companheira da cenoura é a cebolinha, da família das Liliáceas: plantas suculentas, com bulbos bem concentrados. De personalidade bem disposta, ereta e cheia de vida, a cebolinha protege a cenoura dos fungos e insetos com seu sabor picante, por conter um alto teor de fósforo e enxofre. As delicadas folhas rendadas da cenoura dão espaço para a cebolinha receber o sol que tanto necessita. Já as raízes ramificadas da cebolinha acolhem como num abraço a cenoura, tornando-as mais saborosas.

O poder refrigerante da raiz da cenoura equilibra o sabor quente e picante da cebolinha. Como podemos notar, as plantas são companheiras tanto na terra como na cozinha. Conhecer suas necessidades e afinidades também nos ajuda a ser bons cozinheiros!

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Sobre o autor
bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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