Se quisermos evoluir internamente não é suficiente encontrarmos atividades mentais que organizem nossa mente. Iremos precisar nos aproximar de nossos sentimentos para desenvolvermos um bom coração.
Os mestres budistas nos ensinam a diferenciar a mente-coração da mente-pensante. A mente-pensante está sempre insatisfeita, enquanto que a mente-coração manifesta-se sempre tranqüila. Quando acessamos a mente-coração vemos tudo com clareza - pois ela é o fluxo natural de nossa energia de base positiva, a mente de paz.
Procuro ressaltar o valor desta mente-coração em meu trabalho psicoterapêutico, pois noto que quando um paciente está falando de seu problema sem senti-lo verdadeiramente, a conversa torna-se um simples bate-papo, que num contexto terapêutico é perda de tempo... É como se ele estivesse se lamentando de algo, mas evitando sentir a dor de seu lamento. “Discutir sobre a relação” ou “discutir sobre os problemas” gera poucas mudanças, se não houver a presença da mente-coração.
A verdadeira mudança ocorre somente quando o que pensamos está em sintonia com o que sentimos.
No entanto, em geral, estamos tão sobrecarregados pelas tarefas diárias, que nem nos damos conta do quanto nos tornamos automatizados, frios, isto é, sem expressão afetiva. A concentração diária pode nos tornar pessoas práticas e eficazes, mas, se não pararmos para nos sintonizar com nossos sentimentos, correremos o risco de nos tornar pessoas menos empáticas, mais egocentradas. Desta forma, rebaixamos a capacidade de sentir afeto e gradualmente perdemos a espontaneidade que nutre afetivamente nossos relacionamentos. Conseqüentemente, passamos a nos sentir distantes uns dos outros e nem sabemos o porquê...
Lama Gangchen costuma nos alertar para o fato de que deveríamos sentir amor com mais freqüência. Nossas palavras perderam sua força, justamente, porque não estão mais imantadas de amor verdadeiro: “Palavras ditas com amor possuem o poder de transformar a realidade; pelo poder da verdade as coisas se manifestam”.
Acredito que nos falta praticar mais atividades contemplativas, que nos levem a desacelerar a mente para que possamos nos aproximar do tempo do coração. Estar em contato com a natureza nos ajuda muito a acessar nossa mente-coração. Quando nos emocionamos diante da beleza de um pôr-do-sol, entramos em sintonia com seu tempo lento e constante, o que naturalmente desacelera a nossa mente-pensante.
Quando relaxamos em nossa qualidade de base energética positiva, conseguimos pouco a pouco romper o hábito de atacar ou defender, seja a nós mesmos ou aos outros. Uma vez menos reativos, nos tornamos mais suaves, mais disponíveis para os outros. A suavidade é uma qualidade inerente à nossa base de energia pura: ela indica que finalmente acessamos a mente-coração: nos sentimos vivos e bem despertos.
Extraído do livro “Mania de Sofrer” de Bel Cesar, Editora Gaia.
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Sobre o autor
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia. Email: [email protected] Visite o Site do Autor