"Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é".
Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos
É da natureza da vida morrer.
Parece um contra-senso, não é?
É que temos a tendência de dividir tudo em partes e depois já não podemos mais reconhecer o todo.
Assim, separamos o dia da noite, a semente da árvore, a vida da morte, o mar das ondas, dividimos a vida em horas, ciclos. Depois não percebemos mais a vida como uma trama única que a tudo liga e dá sentido.
Como vivemos sem acreditar que para nós a morte também chegará, quando a percebemos rondando nossos passos surge uma urgência de viver. Outro contra-senso.
Muitos dos que já estiveram perto da sua própria morte ou perto da morte de um ente muito amado relatam que, de repente, tudo fica claro e límpido. O que é relevante, o que é essencial se impõe. Naquele momento somos mais puros, livres das máscaras e convenções sociais. Voltamos a rezar, a enxergar com nitidez cores, pessoas, beleza. É comum amar a vida intensamente quando se tem a possibilidade da morte.
Cito aqui Steve Jobs em seu discurso para os formandos de Stanford em 2005: "Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração".
E se a notícia da possibilidade da morte nos pluga com intensidade à vida, a percepção derradeira de que não há mais como manter a chama da vida acesa naquele corpo, traz uma espécie de raiva intensa, bem como depressão, medos e angústias pelos sonhos não realizados, por aquilo que está incompleto, por aquilo que não se sonhou (ensina Rubem Alves no livro O médico), negações. Além de, às vezes, incômodos físicos de maior ou menor intensidade, dor, internações hospitalares, afastamento dos familiares por causa das imposições hospitalares...
É um momento de intensidade.
Frente à morte da mãe, a filha olha pausadamente sua própria vida e decide intensificar os passos, mudar rumos, fazer as pazes, selar e encerrar compromissos.
A mulher frente à sua própria morte faz as pazes com a vida, com familiares, despede-se da depressão que a acompanhava há 2 décadas. Já não há mais tempo a perder.
Pausa para uma questão e para uma reflexão:
- Questão: por que será que achamos que há tempo a perder quando a morte parece distante? Assistimos TV demais. Ficamos tempo demais lendo notícias de diferentes jornais que não ampliam nossa riqueza interior. Desperdiçamos tempo com brigas inúteis, discussões que não acrescentam, falando da vida alheia, olhando a vida dos outros ao invés de cuidar da nossa vida, trabalhando só para garantir o sustento ao invés de trabalhar para enriquecer nossas vidas. Passamos tempo precioso olhando vitrines, preocupando-nos com pequenas bobagens, olhando só para o umbigo, tendo todo esse mundão para navegar.
- Reflexão: as pessoas nos amam pelo que são e não pelo que somos. Isso também vale para Deus: "Ele nos ama por que Ele é Deus, não por causa do que você fez ou não fez". (Regina Brett, 90 anos de idade)
Podemos ir em frente.
Uma outra família triste, porém, serena, acompanha unida, junto ao leito hospitalar a madrugada do desenlace do pai e marido. E ele que, por sua vez, sentia-se apavorado com a morte tão próxima, pode acalmar sua alma, e respirar com mais alívio, até o momento final, tendo em volta de si familiares entristecidos, porém, serenos, frente àquele momento derradeiro. Teve também o cuidado precioso das gotas de essências florais, na pele, para aliviar a ansiedade e medo que envolve o desconhecido e das preces feitas por um coração amoroso.
Na Terapia Floral, gostamos de acompanhar a vida, esteja ela em que fase estiver: gestacional, terminal, adolescente, criança, doente, saudável, em fase de mudança (o que é sempre - afinal tudo muda o tempo todo), envelhecida, jovem, adulta. Acompanhamos vidas chamadas de deficientes: com paralisia cerebral, em coma, sindrômicas. Gostamos da vida do jeito que estiver.
E se é com extrema compaixão e alegria que devemos acolher a vida que começa, é também com compaixão, serenidade e tristeza que devemos acolher a vida que se encerra.
Digo tristeza, e alguns podem estranhar, porque, afinal, vivemos tempos em que felicidade é o artigo de consumo mais acalentado por essa nossa sociedade, mas a tristeza assim como a alegria, na dose certa e no momento oportuno, é sinal de saúde e de vida, bem como construtora estrutural da boa saúde emocional.
Uma última reflexão: faz parte do amar à vida aceitar a morte como uma continuação da própria vida, que segue viva após a morte.
por Thais Accioly
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Sobre o autor
Thais Accioly é especialista em Terapia Floral pela Escola de Enfermagem da USP.
Professora da Pós Graduação em Terapia Floral na Escola de Enfermagem da USP.
Professora da Flower Essence Society/CA EUA no Brasil.
Professora da Bush Flower Essences/AU no Brasil.
Consultora em Cultura de Paz.
11 3263 0504 Visite meu blog e Conheça o Interativo dos Florais. Email: [email protected] Visite o Site do Autor