Uma noite no início do ano passado... acordei de madrugada e no completo silêncio da noite, escutei um som...
Não sei se pelo silêncio que era tanto... eu percebia claramente o caminho que o som fazia, como se ele tivesse se aproximando... vindo de longe até chegar do lado de fora da parede do meu quarto e podia sentir o momento exato em que atravessava a parede e entrava no meu quarto... e tocava fisicamente meus ouvidos... como um pulsar.
Em sobressalto pensei... que som esse? Era diferente de tudo que eu já ouvira...
E passados poucos segundos de novo ouvi o som que percorreu o mesmo caminho até tocar meus ouvidos...
Sobressaltada pensei com meus botões... será esse um som extraterrestre... nunca ouvi algo assim. Acabei adormecendo embalada pelo som que já levara minha imaginação para bem mais longe... para outras realidades... outras dimensões...
No dia seguinte nem me lembrava mais do som... quando, à tardinha, ele me aparece de novo... e com ele todo o mistério da noite anterior... mas esse mistério logo foi quebrado quando a Tereza falou:
- Você já ouviu a coruja que está piando aqui no quintal?
Coruja??? Perguntei entusiasmada... Ao que ela me confirmou que aquele som era de coruja.
Não sei se fiquei mais encantada quando pensei que o som viria de uma galáxia distante por seres que estariam me visitando no quintal ou por saber que no quintal da minha casa tinha uma coruja... ou melhor... o som de uma coruja que pelo menos indicava que ela estaria por perto...
Uma coruja... pensei encantada... e daí por diante o som passou a ser companheiro de todas as noites... mas nunca via a coruja... até tentei ir algumas vezes no quintal, à noite, mas, mesmo ouvindo o som bem perto, que me parecia vir da pitangueira... nada da coruja... Foi então que uma dúvida se estabeleceu: será que isso é mesmo som de coruja?
Gravei e fui no youtube procurar som de coruja... e para minha alegria era mesmo de coruja o som que tem no quintal da minha casa todas as noites...
Viajei... fiquei por quase 3 meses fora e me esqueci do som da coruja... até que em um momento de transformações muito nítidas na minha história... voltei ao Brasil e o som de novo me acompanhou em muitas noites... eu e o som fizemos um tipo de conexão... eu e a coruja através do som nos conectávamos todas as noites e eu amei essa corujinha sem nem conhecer... Às vezes o seu pio vinha antes mesmo do anoitecer... outras eu só ouvia de madrugada... mas sempre aquele som me tocava a Alma lá no fundo como se me trouxesse algo além... um pertencer a algo que aquela coruja vinha me lembrar... uma magia tão distante da cidade grande, que aquele pio tornava tão mais próxima, uma atmosfera de floresta antiga... um pertencer mesmo, a algo que pairava lá no mais profundo do meu ser... e uma alegria por saber que essa parte existia viva...
Mas, não sei por que, nesses meses não senti vontade de procurar ver a coruja... parece que ela não era real, ou o que ela me remetia fazia parte de um mundo que hoje não faz parte mais tão palpável da realidade...
Até que um dia ela piou e estava um pouco claro... corri lá fora para procurar na pitangueira e tentar finalmente ver a coruja, em um misto de vontade de ver e de não ver... como se o fato de ver a coruja tirasse um pouco do mistério que a envolvia...
Fiquei olhando para a pitangueira e nada... ela parou de piar, mas vi uma forma que pensei ser uma casca solta da árvore... já ia desistindo quando resolvi olhar mais uma vez aquela casca... foi quando vi o contorno da cabeça da corujinha e senti seu olhar na penumbra... foi muito mágico e, ao invés de quebrar, parece que todo um encantamento se estabeleceu de novo... algo antigo que fez me coração pulsar com saudade...
Algum tempo depois... no meio de tantas transformações profundas que esse tempo tem trazido, passei por uma experiência muito forte de morte e renascimento... depois disso muita coisa mudou e resolvi fazer uma entrega que, até pouco tempo, parecia impossível... me desfiz de algo que era muito precioso na minha história mas que senti havia cumprido seu papel... e nesse movimento de entrega resolvi fazer um pequeno ritual que marcasse esse momento tão definitivo... Estava no quintal, o sol ainda quente, com o coração apertado sabendo que era a hora, mas ao mesmo tempo com dúvidas... quando escuto o pio da coruja.
Nem acreditei mas, continuei fazendo meu ritual de entrega, quando a Teresa me chama lá do fundo do quintal, onde tem uma parede coberta de hera e onde as heras fazem também um tipo de cobertura, fazendo dali um lugar bem encantado...
- Vem cá depressa, falou ela baixinho...
Assim fiz, e lá chegando ela me mostra algo no meio das heras que eu não conseguia enxergar...
Olha! ela disse baixinho, apontando para o canto mais alto à direita...
Apertei os olhos tentando delimitar o que quer que fosse que pudesse estar ali naquele trançado de heras, mas o sol filtrado pelas folhas tornava isso bem difícil...
Foi quando vi algo que fez minha respiração parar e meu coração acelerar...
Não uma, mas... duas corujas estavam ali bem na minha frente... uma menor e uma maior... quietinhas e lindas. Não sei explicar o que senti... parecia um milagre, um sinal naquela hora tão importante... Entendi que o Universo estava me dando, através desse contato, a confirmação que essa entrega foi mesmo o melhor caminho... Senti que elas eram guardiãs desse momento tão especial para mim...
Fiquei profundamente grata e parece que a magia daquele momento me deu forças para continuar em um caminho que nem sempre é fácil, porque os sinais às vezes são sutis e não temos regras que não sejam as do nosso coração...
A partir daí a certeza de que estava sendo apoiada naquela hora fez tudo correr com leveza e encantamento... e só pude agradecer ao Grande Mistério que sempre está nos apoiando e que nos envia seus sinais de forma inesperada mas sempre em uma linguagem que nos toca a Alma de forma tão precisa... e que nos dá a certeza que estamos no caminho... Para mim a visão daquelas corujas naquele momento foi uma bênção que me fez sentir protegida e acolhida... e me deu forças para continuar com alegria e gratidão!