Esta é a "Eglise Saint François Xavier". Fica na place du Président-Mithouard, no bairro 7 de Paris. Quando a vi imediatamente lembrei do nosso Chico Xavier.
Há muito já vinha desconfiado de que Chico Xavier era reencarnação de Allan Kardec (embora médiuns, estudiosos e o próprio filho adotivo já tivessem falado isso), mas depois que comecei a ler o livro "Kardec: A biografia", de Marcel Souto Maior (o mesmo maravilhoso escritor de "As vidas de Chico Xavier") tive certeza. E comecei a martelar as ligações entre a França e a própria doutrina espírita, que permaneceram vivas através de Chico "Kardec" Xavier.
Primeiro o nome. O nome de uma pessoa carrega uma energia importatíssima para ancorar a vivência espiritual aqui na Terra. Não à toa muitos trocam de nome ou adotam um nome iniciático quando iniciam uma nova fase da vida. Adota-se o nome como uma homenagem a alguém que se admira, ou para ancorar as energias de uma determinada linha, ou trazer ao subconsciente uma lembrança evocativa daquele nome (enfim, as possibilidades são ilimitadas). Para certos espíritos é permitido escolher e influenciar seus pais na escolha do nome, e estou desconfiado de que a espiritualidade escolheu alguém com sobrenome "Xavier" pra trazer o nosso Chico com esse nome.
Francisco Xavier é um nome bem comum no Brasil, mas encontrá-lo nessa Igreja em Paris me fez pesquisar o santo, e descobrir que a Igreja Católica Romana considera que ele tenha convertido mais pessoas ao Cristianismo do que qualquer outro missionário desde São Paulo. Embora espanhol (Basco), Francisco Xavier veio a Paris para estudar e depois tornou-se professor de Filosofia. Conheceu então Inácio de Loyola, e junto a ele e outros padres decidiram fazer um voto de pobreza na Capela Saint-Denis, no alto de Montmartre (um morro, o ponto mais alto de Paris, onde hoje fica a Basílica de Sacre Coeur). Lá eles fundaram a Companhia de Jesus, congregação religiosa destinada ao ensino, à conversão e à caridade. Foram os jesuítas da Companhia de Jesus que vieram ao Brasil para (desgraçadamente) converter nossos índios e fundar colégios do Ceará até Santa Catarina. O padre Manuel da Nóbrega, um dos primeiros a chegar, ajudou seu colega José de Anchieta na fundação da cidade de São Paulo, que cresceu em torno do Colégio Jesuíta. E foi justamente Manuel da Nóbrega uma das encarnações do mentor de Chico Xavier, Emmanuel.
Montmartre tem esse nome (Mont Martre) porque ali tinha um templo ao Deus Marte. Com o passar do tempo o sentido mudou para Monte dos mártires, já que "Martre" em francês arcaico era "mártire". Por isso havia ali, em 1500, uma capela para Saint-Denis, um dos mais famosos mártires da França. Acredita-se, embora sem evidências arqueológicas, que no morro de Montmartre, antes da ocupação romana, eram realizadas cerimônias druídicas, por ser o ponto mais alto da região. Ora, o criador do espiritismo, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, não só morava próximo a Montmartre - mais exatamente na Rue des Martyrs (Rua dos mártires) - como adotou o pseudônimo Allan Kardec por conta da revelação de um espírito de que ele teria sido druida na época do imperador Júlio César, entre 58 e 44 anos antes de Cristo.
Apesar de ser Lyonês, o primeiro contato de Kardec com o Espiritismo - e posterior estudo e codificação - foi feito em Paris. Kardec não era médium (talvez fosse intuitivo, mas não tinha contato diretamente), e se valeu de respostas de outros médiuns para escrever a doutrina. Quando renasceu como um dos médiuns mais poderosos do mundo teve óbvias dificuldades de adaptação a essa nova realidade. Certa vez Emmanuel precisou ir com ele em espírito visitar o local do cenário que ele queria que escrevesse, para que pudesse colocar melhor no papel os detalhes. De qualquer forma sabemos, no estudo das comunicações mediúnicas, que o cérebro do médium interfere na comunicação, como os resíduos de um cano interferem na água. Quanto menos resíduos, mais pura a água.
E por que digo isso? Porque Nosso Lar foi um livro diferente de todos os outros que Chico tinha escrito. Era um mundo sem referências visuais. Pela descrição do livro ele parece ser mais avançado e ao mesmo tempo mantendo a elegância e simplicidade de outros tempos. Pois bem: vim encontrar o "Nosso Lar" em Paris na Cité Internationale Universitaire, fundada em 1925 (mas com a arquitetura do final de 1800). A princípio não reparei, a não ser numa sensação de leveza e de estranhamento por estar me sentindo em outro mundo. Mas imaginei que era por conta da adaptação a um novo país. Mas eis que um dia, enquanto pegava sol deitado na grama, escrevi: "Morri e estou no céu. E o melhor: aqui tem Wi-fi!". E só então caiu a ficha: o que estava no meu subconsciente era a descrição e organização de "Nosso Lar", que se parece muito com a leveza e organização da arquitetura e bom-gosto franceses.
Teria Chico trazido consigo as lembranças de impressões da vida parisiense? Ou Nosso Lar é inspirada nesse modelo?
Todos os departamentos apareciam cultivados com esmero. A pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados. Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu. (Chico Xavier/André Luiz; Nosso Lar)
por Acid
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