Imagina que temos um sonho dentro do mais profundo do nosso coração... "voltar para casa".
E é a busca de realizar esse sonho que nos move a continuar nossa jornada rumo a evolução. Percorremos muitos caminhos, vivemos muitas coisas, boas, ruins, boas, ruins... até que chegamos ao rio que vai finalmente nos levar "para casa" e para isso, só o que precisamos fazer e atravessá-lo...
Sabemos que é um rio muito profundo... tão profundo que suas águas ficam escuras e não nos permitem enxergar o que está embaixo... mas que tem um caminho de pedras que nos levam para o outro lado... essas pedras estão escondidas pelas águas e, como não sabemos nadar é a nossa única chance de atravessar o rio.
Tentamos aqui, tentamos ali... e por muito tempo ficamos nessas tentativas de encontrar o caminho das pedras e nada... de tanto tentar e não dar certo, nos conformamos em permanecer nesse ponto que alcançamos... Fazemos nossa casinha ali sempre achando que um dia vamos atravessar... e vamos levando uma vidinha mais ou menos... de improviso, essa vidinha vai ficando cada vez menos do que mais, e vamos nos acostumando com as mudanças até o ponto em que um dia... nem nos lembramos mais que temos que atravessar o rio...
O sentimento de que não estamos em casa persiste lá no fundo do coração, mas já não tem o poder de nos fazer buscar as pedras, vamos cada vez mais nos conformando e... de tanto nos conformar acabamos nos acostumando, acreditando que aquilo é tudo o que podemos ter... ser...
Mas, por obra do acaso, em uma manhã como outra qualquer, a não ser por um estranho raio de sol que insistia em prender nossa atenção... seguimos com o olhar em direção ao raio que pousa no rio... e lá, iluminada pelo raio de sol... A pedra.
A pedra?
Assustamo-nos diante dessa descoberta inesperada, uma vez que já tínhamos até desistido... e esquecido... nos vemos em um dilema.
Damo-nos conta que o não-aparecimento da pedra agora já tinha se transformado em uma desculpa até confortável para permanecermos ali... tão confortável que até nos esquecemos dela e para onde ela vai nos levar... a não ser lá bem no fundinho do coração que parece bateu um pouquinho mais forte...
Aquela pedra, não sabemos o que fazer com ela... o que seria um caminho começa a ter um gosto amargo de obstáculo...
Já estávamos tão acostumados com aquele lado, aquela casa provisória, até com o desconforto e a não-satisfação que já faziam parte da nossa história.
Aquela pedra que era solução se torna um problema... dá vontade de voltar e fingir que nem olhamos para o rio hoje, esquecer aquele insistente raio de sol, para ver se a pedra some...
O que tanto procuramos... que tanto buscamos sem encontrar está na nossa frente e não sabemos o que fazer com ela. Até sabemos... sabemos que a partir da primeira pedra as outras se revelam e vamos conseguir finalmente atravessar o rio e seguir nosso destino. Mas sabemos também que isso envolve deixar tudo para trás porque esse é um caminho sem volta.
Mas se chegamos até aqui só para atravessar o rio porque não estamos alegres e entusiasmados?
A não ser o coração que agora bate um pouco mais forte...
Olhamos para a nossa casinha mais ou menos, nossa vidinha, as coisas que nos acostumamos a elas por já termos reclamado tanto delas e, nos vemos em um impasse...
Ao dar o primeiro passo na pedra do rio, não tem volta... temos que nos despedir de vez de tudo o que até então nos serviu de muleta enquanto o verdadeiro caminho não se revelava... o caminho de volta para casa.
Sonhamos tanto com isso, mas... parece que acabamos acreditando que isso era só um sonho que nunca iria se realizar...
Mas o coração bate tão forte que parece querer pular para o rio... para a pedra... para casa...